LISBOA Cena da vida real Manuela Barros Ferreira

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Cena da vida real

Ontem uma velhinha foi a uma farmácia de Lisboa onde costuma medir a tensão. Disse a quem a atendeu que estava muito admirada por ter de esperar a sua vez para entrar na padaria. Parecia que a rua toda se juntara ali! Mas que as pessoas se afastaram dela quando se aproximou.
– Então a Senhora não sabe o que se está a passar?
– Mas é isso mesmo que lhe estou a procurar: O que é que se passa?
– Não ouviu falar no vírus?
– Qual vírus?
– A senhora não vê televisão, não ouve rádio?
– Eu ? Eu não tenho nada disso. Nem electricidade tenho, quanto mais…
– E os vizinhos não lhe dizem nada?
– Não falo com aquela gente. Um bando de mariolas.
– Ouça, Dona Alcina. O que se passa é o seguinte: (…)

No fim, a velhinha disse-lhe:
– Minha menina, agora já sei, mas o que é que isso me adianta? Vou continuar sozinha, como sempre. Só que agora, quando me ponho à janela para me distrair a ver quem passa, já não passa ninguém. Olhe, até para a semana. Passe bem.
– Não se esqueça da lanterna, Dona Alcina. Ai esta senhora! E leve também estes dois rebuçadinhos para a tosse. Olhe que fazem bem mesmo sem tosse! Adeus, vá.