LEONEL MORGADO ANALISA MAPAS COVID· UM DIA DE CLARIFICAÇÃO

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UM DIA DE CLARIFICAÇÃO. E de necessidade de muito ponderar. Temos TODOS de refletir para nos preparar para interpretar próximos dias, que vão ser APARENTEMENTE confusos, mas mais clarificadores ainda.
Os indicadores que acrescentei irão ser partilhados certamente por mais gente, mas não são o essencial. Contudo, explico-os: o ritmo de novos casos por milhão de habitantes, que se estava a afastar de Itália, aproximou-se dela; o gráfico por regiões mostra que o aumento de casos no Norte ontem não está isolado: o que quer que tenha sucedido no Norte, também está a suceder nas outras regiões, o padrão é semelhante.
O essencial é algo diferente.
1.º, o mais pacífico: o aumento de mortos dos últimos dias não era tão preocupante como parecia. Era um ESPELHO muito nítido da “dança” em redor da sigmóide feita pelo número de casos há… 8 dias! Juntei ao gráfico principal uma cópia dele (à direita) com escalas logarítmicas. Permitem ver melhor que os óbitos são esse espelho com 8 dias de atraso: os casos encostaram-se ao ritmo sigmóide no dia 18; os óbitos encostaram-se a esse ritmo no dia 18+8 = 26; os casos andaram durante uma semana a dançar em redor da sigmóide; os óbitos estão agora a fazer essa dança, com 8 dias de atraso.
Isto é pacífico PORQUE nos diz o que esperar dos internamentos em UCI e dos óbitos nos próximos 8 dias (12-17 de abril): uma progressão a ritmo sigmóide, até cerca de 470 mortes. Qualquer valor muito diferente será indicador de algo grave (na capacidade de tratamento, por ex.).
2.º, o mais preocupante: o número de casos/infeções há três dias que se afasta, cada vez mais rapidamente, do ritmo sigmóide. E atenção que o ritmo de testes não tem aumentado, nestes 3 dias, em relação há 4-5 dias. Há maior proporção de casos.
A hipótese boa (que constatei em conversa com a Sara Mota): que seja o mesmo número de testes, mas mais direcionado para os lares/idosos. É a hipótese boa, porque significa que se detetam mais casos, mas são casos já no grupo de risco que iria gerar os internamentos, pelo que até podem começar a ser tratados mais cedo, podem-se minimizar contágios e minorar os internamentos e consequentemente as mortes.
A hipótese má: que não haja diferença no padrão de testes. É a hipótese má, porque significaria estar a haver aumento do ritmo de contágio na população em geral, com as consequências do que vou dizer agora sobre os efeitos no sistema de saúde. É isto que temos de ponderar… porque só dentro de uma semana saberemos o que se passa.
Se for a hipótese boa, significa que o ritmo de internamentos se manterá nas próximas duas semanas: certamente na próxima, mas também na seguinte (19-25 de abril). Serão semanas de aperto para os nossos profissionais de saúde, a levar os mortos até cerca de 500, mas sem colapso, porque temos cerca de 1500 ventiladores no país.
Se for a hipótese má, significa que embora a próxima semana seja dura para os hospitais, com mais internamentos, a seguinte (essa de 19-25) será terrível: veremos surgir não o mesmo ritmo de internamentos (porque quem era grupo de risco já o seria) mas aumentar muito o ritmo de internamentos. Essa será a semana decisiva para percebermos o que está realmente a acontecer.
E essa semana de 19-25 dir-nos-á o que esperar da seguinte. Isto porque a confirmar-se o aumento de contactos sociais nestes dias, será nessa semana que iremos começar (começar!) a ver o aumento de contágios. Se houver aumento… estarmos em quase rotura dos hospitais no início de maio. Se não houver… voltaremos a poder respirar. Serão duas semanas de muita ansiedade. (E algo parecido ocorrerá quando se reabrirem as escolas secundárias: duas semanas para ver se há consequências. Ainda me parece tolice.)

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Comments
  • Rui M. Costa Rui Obrigado Leonel Morgado . As pessoas têm que perceber o importante do isolamento social . Tem se visto noticias em zonas onde parece que não se passa nada .
  • Carina Miranda Santos Acompanho diariamente as suas análises. Continuação de bom trabalho e boa Páscoa 😉
  • Cristina Diamantino Obrigada pela análise. Acabei de saber, por exemplo, que hoje há muita gente a passear junto ao rio.
  • Alexandra Gomes Guedes Medo. Muito medo. 😞
  • Joana Canhoto Brás Obrigada Pela tua análise Leonel. É importante que consigamos manter o foco do caminho que tem sido seguido no país. Os Portugueses não podem esquecer-se da razão pela qual estão em casa e muitos a um custo enorme a todos os níveis. Apoiar o SNS no traSee more
  • Paulo Murtinho Esperar pela tua análise é como esperar pela hora do telejornal…obrigado
  • Sandra Galante Muito preocupante… Sempre ansiosa pela análise! Muito obrigada!
  • João Cristóvão Obrigado Leonel Morgado pelo interessante trabalho cientifico que estas a a elaborar, e empenho nesta causa,. Como alguns já comentaram anteriormente e confirmo, as regras não estão a ser cumpridas, centenas de homens na construção civil sem protecçãoSee more

    João CristóvãoJoão Cristóvão replied

    2 replies 1h

  • Nuno Henrique Franco A actual mortalidade, baseada nestes dados,é de 2.8%. Sabemos de populações com maior cobertura de testes que a mortalidade deverá ser muito inferior (a não ser que o SNS entre em colapso, que não é o caso), pelo que podemos inferir que se verifica a hipótese que estamos a testar primordialmente casos sintomáticos, e sobretudo grupos de risco (lares) de há uns dias para cá.

    Leonel MorgadoLeonel Morgado replied

    3 replies 57m

  • João d’Eça Lima O que verdadeiramente me preocupa é a curva dos suspeitos…

    Leonel MorgadoLeonel Morgado replied

    3 replies 48m

  • Jose Moreno Leonel Morgado, infelizmente é esta a qualidades dos dados fornecidos…
    https://www.facebook.com/100005315193180/posts/1345065235680637/