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UM DIA DE CLARIFICAÇÃO. E de necessidade de muito ponderar. Temos TODOS de refletir para nos preparar para interpretar próximos dias, que vão ser APARENTEMENTE confusos, mas mais clarificadores ainda.
Os indicadores que acrescentei irão ser partilhados certamente por mais gente, mas não são o essencial. Contudo, explico-os: o ritmo de novos casos por milhão de habitantes, que se estava a afastar de Itália, aproximou-se dela; o gráfico por regiões mostra que o aumento de casos no Norte ontem não está isolado: o que quer que tenha sucedido no Norte, também está a suceder nas outras regiões, o padrão é semelhante.
O essencial é algo diferente.
1.º, o mais pacífico: o aumento de mortos dos últimos dias não era tão preocupante como parecia. Era um ESPELHO muito nítido da “dança” em redor da sigmóide feita pelo número de casos há… 8 dias! Juntei ao gráfico principal uma cópia dele (à direita) com escalas logarítmicas. Permitem ver melhor que os óbitos são esse espelho com 8 dias de atraso: os casos encostaram-se ao ritmo sigmóide no dia 18; os óbitos encostaram-se a esse ritmo no dia 18+8 = 26; os casos andaram durante uma semana a dançar em redor da sigmóide; os óbitos estão agora a fazer essa dança, com 8 dias de atraso.
Isto é pacífico PORQUE nos diz o que esperar dos internamentos em UCI e dos óbitos nos próximos 8 dias (12-17 de abril): uma progressão a ritmo sigmóide, até cerca de 470 mortes. Qualquer valor muito diferente será indicador de algo grave (na capacidade de tratamento, por ex.).
2.º, o mais preocupante: o número de casos/infeções há três dias que se afasta, cada vez mais rapidamente, do ritmo sigmóide. E atenção que o ritmo de testes não tem aumentado, nestes 3 dias, em relação há 4-5 dias. Há maior proporção de casos.
A hipótese boa (que constatei em conversa com a Sara Mota): que seja o mesmo número de testes, mas mais direcionado para os lares/idosos. É a hipótese boa, porque significa que se detetam mais casos, mas são casos já no grupo de risco que iria gerar os internamentos, pelo que até podem começar a ser tratados mais cedo, podem-se minimizar contágios e minorar os internamentos e consequentemente as mortes.
A hipótese má: que não haja diferença no padrão de testes. É a hipótese má, porque significaria estar a haver aumento do ritmo de contágio na população em geral, com as consequências do que vou dizer agora sobre os efeitos no sistema de saúde. É isto que temos de ponderar… porque só dentro de uma semana saberemos o que se passa.
Se for a hipótese boa, significa que o ritmo de internamentos se manterá nas próximas duas semanas: certamente na próxima, mas também na seguinte (19-25 de abril). Serão semanas de aperto para os nossos profissionais de saúde, a levar os mortos até cerca de 500, mas sem colapso, porque temos cerca de 1500 ventiladores no país.
Se for a hipótese má, significa que embora a próxima semana seja dura para os hospitais, com mais internamentos, a seguinte (essa de 19-25) será terrível: veremos surgir não o mesmo ritmo de internamentos (porque quem era grupo de risco já o seria) mas aumentar muito o ritmo de internamentos. Essa será a semana decisiva para percebermos o que está realmente a acontecer.
E essa semana de 19-25 dir-nos-á o que esperar da seguinte. Isto porque a confirmar-se o aumento de contactos sociais nestes dias, será nessa semana que iremos começar (começar!) a ver o aumento de contágios. Se houver aumento… estarmos em quase rotura dos hospitais no início de maio. Se não houver… voltaremos a poder respirar. Serão duas semanas de muita ansiedade. (E algo parecido ocorrerá quando se reabrirem as escolas secundárias: duas semanas para ver se há consequências. Ainda me parece tolice.)
