Views: 0
LÁGRIMA DE PRETA
Escreve José Silva Pinto no seu portal:
·
Nesta hora de protesto contra o racismo (melhor: contra todos os racismos!), trago aqui este belo poema de António Gedeão (por acaso também o meu saudoso professor de Física e Química, Rómulo de Carvalho, no Liceu Pedro Nunes, há mais de sessenta anos).
Fiquem, então, com o poema – que é o que importa!
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
ANTÓNIO GEDEÃO, in LÁGRIMA DE PRETA
