José Soares Vão-de-escada

Transparência José Soares

Vão-de-escada

 

Os queixumes do partido socialista sobre “uma perseguição ou caça às bruxas” na máquina burocrática que o PS foi montando ao longo do quarto de século de governo nos Açores aos amigos, conhecidos, namorados e namoradas e toda uma interminável lista de favores de toda a ordem, acontecem com todos os partidos que passam pelo poder.

Há muita gente que estando nos quadros públicos, com todos os defeitos e qualidades, limitam-se a cumprir ordens. Além de que, pertencendo ao quadro, mal ou bem, não será essa a questão essencial.

O problema está nas chefias intermediárias. Nomeadas politicamente, elas permanecem fazendo um trabalho de formiguinha, distorcendo e complicando as ordens imanadas pela hierarquia.

Foram nomeadas das mais diferentes formas e feitios, as quais na sua esmagadora maioria deixaram de ter interesse para o atual regime e até são nocivas.

É normal que cada governo escolha para cargos de chefia, aqueles e aquelas que acha da sua confiança. E torna-se normal o PS ser agora a vítima política a substituir.

O Povo escolheu. E todas as chefias intermediárias que foram sendo nomeadas ou às quais se pagavam os mais diversos favores, veem-se agora na perspetiva de terem de ir à sua vida e lutar por ela, como qualquer cidadão comum.

A “higienização política” do governo é, afinal, o que foi feito nos 24 anos anteriores em relação ao PSD, CDS, e tudo o que não fosse de simpatia socialista. A “perseguição” foi a mesma e ninguém tem memória curta agora.

O atual governo não terá alternativa senão substituir todos esses cargos de chefias intermédias, cujas nomeações foram apenas ideológicas. O governo corre mesmo o risco de, se não for rigoroso nisso, ter muitos problemas de comando interno e boicote a muitas das suas ações.

Com um governo quebradiço e multifacetado, facilmente exposto aos predadores da oposição, que espreitam ‘democraticamente’ pela melhor oportunidade, José Manuel Bolieiro, Artur Lima e Paulo Estevão, conjuntamente com os parceiros do pacto parlamentar, terão de continuar na desobstrução profunda e enraizada durante ainda os próximos meses.

Ninguém, muito menos o PS, tem que levar a mal tais procedimentos, os quais fazem parte da vivência democrática.

O vão-de-escada esconde sempre surpresas submersas na escuridão…

A minha bola de cristal só me diz que será muito difícil equilibrar durante quatro anos um governo de múltiplas facetas, ideias, teimosias de cabeceira, direitas ideológicas diferenciadas e desengonçadas. Mas é possível, se todos teimarem em fazê-lo. A opção, de resto, é simples: Ou isso, ou irem todos para a oposição.

O partido socialista espreita e com legitimidade democrática, os deslizes ou desavenças internas e externas. E até contribuirá com os habituais enredos para que tal aconteça.

A bem dos Açores, olho vivo e pé leve…