José Soares Jornais, papel e jornalism

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José Soares

 

Jornais, papel e jornalismo (1)

 

Nos finais de abril, terá lugar o I Congresso de Jornalistas dos Açores, com vários temas a debater.

A grande crise que atravessam todas as edições jornalísticas em papel nos dias de hoje, não deixa de ser de extrema importância para toda a sociedade. Esta crise que já vinha sendo cada vez mais acentuada desde os finais dos anos noventa do século passado com a evolução e difusão das novas tecnologias digitais, teve o seu golpe de misericórdia durante os longos meses de confinamento social pela COVID-19. Com a população mundial sem consumir, as empresas distribuidoras dos mais diversos artigos de consumo, cortaram oitenta por cento da habitual publicidade impressa. Numa situação julgada muito temporária, os jornais limitaram-se em reduzir páginas. Mas a situação prolongou-se em demasia para a frágil resistência das publicações – especialmente as pequenas, as regionais ou as locais – por todo o planeta jornalístico.

“Demorou meio século para que a receita anual de anúncios impressos em jornais aumentasse gradualmente de US$ 20 bilhões em 1950 (ajustados pela inflação em dólares de 2014) para US$ 67 bilhões em 2000. Mas de seguida levou apenas 12 anos para passar de US$ 65,8 bilhões em receitas publicitárias de volta para menos de US$ 20 bilhões em 2012, antes de cair ainda mais em 2013 e 2014.” (Newspaper Association of America).

Em dezembro último, o Observatório Europeu de Jornalismo informou que a pandemia teve um impacto significativo na indústria dos mídia da Europa, relatando cortes na Alemanha, Itália, Reino Unido, Polônia, Portugal, Letônia, Geórgia e Espanha. Na Itália, muitas bancas declararam falência, com 1.410 bancas fechadas apenas no primeiro semestre de 2020. Na Polónia, alguns editores de jornais regionais registaram perdas de receitas até oitenta por cento; publicações independentes locais relataram perdas semelhantes na Ucrânia.

Pela linha descrita pelo economista Joseph Schumpeter, na sua obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia”, sobre a Criatividade Destrutiva, onde o velho é constantemente substituído pelo novo, podemos dizer que o declínio dramático das receitas publicitárias dos jornais desde 2000 tem de ser um dos vendavais schumpeterianos mais significativos e profundos de destruição criativa na última década, talvez numa geração. E não está nem perto de acabar. Um relatório de 2011 da IBISWorld sobre Dying Industries identificou a publicação de jornais como uma das dez indústrias – na verdade está em segundo lugar – que podem estar à beira da extinção tanto nos Estados Unidos como, progressivamente, no resto do mundo.

No final de 2004 publicavam-se nos Estados Unidos mais de 9.000 jornais. Já nos finais de 2005 eram 8.891 e em 2019 já só havia 6.377. Em 2020 fecharam mais 360 jornais e isso inclui 70 diários, alguns centenários.

De acordo com o site NewspaperDeathWatch.com, desde 2004 os Estados Unidos perderam um quarto da sua imprensa escrita e 28% dos postos de trabalho e o que tem crescido (mais de 20%) são os jornais na internet. O tempo médio diário de um leitor com o jornal na mão é de apenas 22 minutos. Cerca de oito horas por dia com o computador ligado e 15 horas consultando o telemóvel.

Os jornais nos Açores têm de avançar rapidamente para as novas tecnologias, numa transição irreversível e obrigatória, se querem continuar a existir. Alguns exemplos já existem mas ainda bastante tímidos. Para alguns, a barreira do investimento será intransponível.

Um dos bons exemplos em Portugal de um jornal online, é o Observador:

“O Observador é um jornal generalista digital português, cuja primeira edição foi a 19 de maio de 2014. É o único jornal em Portugal inteiramente digital – excetuando as edições anuais de aniversário e de lifestyle. O jornal foi criado como uma aposta no meio digital, que alguns jornalistas e investidores consideravam, no momento da fundação, ser o futuro.

No primeiro mês (2014), reportou 630 mil visitantes. Em agosto de 2017, registou doze milhões de visitas e 46 milhões de páginas vistas. No mesmo mês, contava com 40 jornalistas na sua equipa. Foi eleito melhor jornal generalista do ano em 2018 e 2019, entre outros prémios.”

(Continua)