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José Soares
(Des)conto de Natal
Neste tempo de convite à Paz, o mundo vê-se envolto na mais bárbara, destrutiva e criminosa guerra que o século XXI pensava pertencer a um passado retrógrado.
A ninguém passaria pela cabeça que a civilização, depois das maravilhosas conquistas dos últimos cinquenta anos nas ciências, na tecnologia, na medicina e em tudo que separa o génio humano da restante animalidade, que uma pessoa ou um grupo de pessoas das mais tocadas por todo o progresso feito, viesse a terreiro com ambições de conquistas territoriais, à custa da mais vil destruição de vidas humanas, de bens e cidades inteiras, apenas no ínfimo intuito da restituição imperial trespassada há muito pelo Tempo, pela História e pela mentalidade universal.
Terá que haver alguma demência. Algum minúsculo micróbio escondido no cérebro deste Hitler II, para se conceber – ainda que em contradição – tal atitude genocida. O ditador russo não olha a meios para atingir os fins. A destruição de vilas, aldeias e cidades de forma propositada, denota demência e total desprezo pela vida humana. Todos os seus sequazes deverão, no futuro, pagar por estes crimes cometidos numa escala exterminadora.
O problema é que ninguém tem, por ora, o poder de parar este desastre. O receio de estarmos a falar de alguém com poderes nucleares, retrocede a eficácia de qualquer suspensão de tão vis ações. A Rússia de Putin está a levar a cabo uma guerra de terra queimada até à última gota. Só irá parar no holocausto completo. Este é o maior dilema que todo o Ocidente e o resto do mundo enfrenta. Não há solução à vista.
Guerra na Terra aos homens de má vontade, é infelizmente a frase que nunca pensamos usar nesta quadra natalícia que se aproxima.
Ao evadir a Ucrânia, Putin está pondo em risco a sua própria existência enquanto regime e sabe que, se falhar e desistir agora, o povo russo não lhe perdoará os milhares de jovens soldados russos que já matou até agora, além de que enfrentará posteriormente a Justiça Internacional.
Sabendo que o Ocidente não o atacará diretamente, com receio de desencadear um desastre nuclear, Putin irá até ao fim impune e só apresentando uma ou qualquer vitória, poderá justificar à Rússia tamanha catástrofe para se manter no poder.
Nunca irá ceder na Crimeia e mais algum território já ocupado, mas se puder ocupar mais ainda, assim o fará. Putin é como a história do escorpião e da rã: É a sua índole intrínseca fazer o mal, picar mortalmente quem lhe rodeia e até quem o ajude. É verdadeiramente e, no pensamento moderno, um feto malformado que a Natureza criou, para nos chamar a atenção ao Natal que o estoico povo ucraniano vai passar, na fome, no frio gélido e na tragédia de filhas violadas, mães mortas com os filhos ainda no ventre, habitações destruídas, milhares de crianças, jovens e velhos mortos ou sem abrigo, enfim, todo um rosário de miséria humana que terá de ter consequências criminais para os responsáveis. Assim permita a coragem dos homens, já que Deus parece adormecido diante de tamanha tragédia.
Não há beleza neste conto de Natal. Por isso, ele só pode ser um pesadelo. E os Natais nunca deveriam ser pesadelos. A grande mancha negra que nos acompanha a todos e todas durante a Consoada, aquela noite quente e familiar e feliz e alegre, só pode ser de uma tristeza imensa para o massacrado povo ucraniano, com uma noite fria, gelada, sem familiares, na maior tristeza, dor, lágrimas e solidão.
Estarão no meu pensamento nessa noite e relembrarei aos meus netos que o seu futuro não pode ser feito de tamanha desaventurança humana. Nem que para tal se retire dos cérebros, os neurónios maléficos que transformam a Pessoa Humana em tais monstros.