José Soares As vacinas da décima Ilha

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Transparência José Soares

 

As vacinas da décima Ilha

 

 

 

O vice-presidente do governo dos Açores tem afirmado as suas tentativas de contactos com personalidades políticas de descendência açoriana, no sentido de pedir ajuda aos EUA sobre o envio de vacinas para os Açores, ao abrigo de acordos entre Portugal e aquele país.

Esta boa vontade de Artur Lima foi, no entanto, contrariada pelo despotismo do ministro dos negócios estrangeiros português Augusto Santos Silva.

Com a decisão bloqueada pelo ministro, resta dizer o seguinte.

Mesmo que Artur Lima conseguisse ir direto à influência política ou outra, lusodescendente, iria esbarrar na estratégia do presidente Joe Biden, a qual estipula que nenhuma vacina sai para o exterior dos EUA antes do 4 de julho. Até lá, todas as vacinas são exclusivamente para o povo americano. Testes, sim. Pode conseguir-se alguns milhares. Vacinas, nem pensar. Porquê o 4 de julho? Porque é simbólico para os americanos. É o seu dia nacional.

Mesmo alguns poucos milhares de vacinas, que pensamos não fazer diferença aos americanos, tornaram-se essenciais para acudir às inúmeras pequenas freguesias rurais do interior dos EUA. A economia está no topo das prioridades americanas.

Quando falam na Diáspora, quase sempre os políticos açorianos pensam EUA e raramente se inclinam para outras paragens mais a norte, onde a emigração açórica tem sido de particular importância.

Falo do Canadá, cuja geografia é 114 vezes maior do que Portugal, com cidadãos descendentes em terceira e quarta gerações dos pioneiros que saíram dos Açores.

Sendo a emigração para o Canadá mais recente do que a dos EUA, ela não deixou de ser de capital importância. É menos notória do que a americana, mas isso reflete o próprio espírito canadiano, que gosta de agir, mas não dar nas vistas.

Temos lusodescendentes eleitos neste país tanto a nível federal, como provincial (estatal) e mesmo autárquico.

A verdade é que falamos muito menos no Canadá, por não termos com este país grandes ou pequenos acordos nem de bases nem de armas. E a paz parece não inspirar ninguém.

Seria interessante o governo açoriano (se ainda for a tempo) indagar a comunidade de ascendência açoriana, com raízes de mais de setenta anos – para mencionar apenas as ondas emigratórias que se iniciaram na década de 1950 do século XX.

O trabalho de casa tem de ser feito com conhecimento mais profundo e a verdade é que a Diáspora canadiana é ainda muito desconhecida da política açoriana.

As visitas acontecem, mas, quase sempre, com festarolas pré-preparadas, jantaradas, pancadas nas costas e “… vocês são uns gajos porreiros…”. De seguida apanha-se o avião de regresso e nada se fez no rastreio comunitário.

Há muito trabalho a fazer. Haja a vontade… e as pessoas certas nos devidos lugares.

O narcisismo só é bom para fotografia. Não deixa obra feita.