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Viagens Marítimas (Crón. Rádio)
Antes de mais, desejo aos estimados ouvintes a continuação de Boas Festas Pascais.
Dentro de semanas começam as grandes festas do Senhor Santo Cristo e, logo a seguir, as do Espírito Santo que perduram vários meses, incluindo os do verão.
É um tempo em que os açorianos se mobilizam inter-ilhas para confraternizarem.
Há poucos anos, deslocavam-se de barco – transporte que muitos preferem ao avião. O mar está no sangue da nossa gente e chega o tempo de ele amansar as suas iras invernosas que fustigam as ilhas.
Quem vive no grupo central, nomeadamente no Triângulo – São Jorge, Pico e Faial – tem essa facilidade e pode até levar a viatura. Os outros não têm essa sorte. As viagens de barco continuam a ser-lhes negadas, embora se tratasse de um serviço público relevante que necessitaria, certamente, de reajustamentos.
Os decisores políticos quando cancelaram esse transporte, alegaram os elevados custos e a proteção do negócio dos rent-a-car. Isso pesou mais que o interesse das populações insulares de Santa Maria às Flores que optavam pela via marítima.
Há dias, o Secretário Regional das Finanças anunciou a compra de dois navios “ferry”, movidos a energia elétrica destinados a operar no Triângulo.
Quando chegam? Que capacidade têm? Não se sabe, nem lhe foi perguntado, que se saiba. E deveria ter sido, mais não fosse para comprometer o Governo com a medida anunciada.
Que farão os “ferries” atuais a navegarem entre Faial, Pico e São Jorge? Irão operar entre São Miguel e Santa Maria – disse Duarte Freitas. Quando? Não se sabe, nem lhe foi perguntado.
Quem fica a perder? Os marienses e micaelenses habituados a passar férias na ilha de Gonçalo velho, transportando viatura própria.
O ano passado eles fizeram ouvir seu protesto, reclamando o regresso dos “ferries”, mas até agora, nada. Ilha pequena, como as outras seis, não tem peso político. E isso paga-se caro.
São Miguel continua assim de costas voltadas para o restante arquipélago. E entre a Terceira e São Miguel, o mesmo acontece. As ligações marítimas de passageiros, comprovam-no. Os mais afetados são sobretudo os açorianos de outras ilhas residentes na “ilha grande fechada” sobre si.
Não é esta a ligação que pretendiam os defensores da Autonomia, quando em 1976 consagraram o estatuto político-administrativo que visava a unidade e o desenvolvimento harmónico. Todavia é esta a situação que temos: três arquipélagos, com fronteiras marítimas que deviam fazer recuar o governo.
O mar é estrada aberta à união do arquipélago. Todavia, se delimitarmos fronteiras, as relações entre as ilhas afundar-nos-ão em incompreensões e lutas que levarão ao descrédito das instituições autonómicas e dos seus protagonistas.
Não se diga que o centralismo está no Terreiro do Paço. Ele atinge também a nossa classe política e os fortes interesses económicos escondidos nos corredores do poder.
Ponta Delgada, 10 abril 2023
José Gabriel Ávila
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