José Gabriel Ávila · A epidemia das migrações

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A epidemia das migrações (crón. rádio)
Não há dúvida que no sistema em que vivemos, só a economia de escala proporciona custos mais baixos dos produtos e menores gastos aos consumidores.
Esta regra do bem-estar das populações, não se aplica a aglomerados populacionais de menor dimensão, pois, para haver livre concorrência, têm de existir vários operadores no mercado.
Esta é a grande dificuldade de quem vive nos pequenos centros populacionais, ou em algumas ilhas. Por haver muito poucos espaços comerciais, não há poder de escolha e as margens dos lucros atingem valores muito elevados.
Faço esta observação anualmente.
Como consumidor, a primeira reação é dizer: -está tudo mais caro que aqui ou ali e não entender que o processo de formação dos preços depende também do número de consumidores, da rotação dos produtos e dos custos que acarretam manter nas prateleiras mercadorias que dificilmente se vendem, que passam de prazo, mas que acarretam encargos financeiros desperdiçados.
Vem tudo isto a propósito, do custo de vida na área metropolitana de Lisboa. Aqui há maior poder de compra. A elevada concentração da população portuguesa atrai uma enorme quantidade de empresas e agentes comerciais. Todos eles concorrem entre si e são forçados a baixar os preços para poder vender, rentabilizar os investimentos e cumprir os seus compromissos laborais e financeiros. De contrário, terão de fechar a porta.
Esta é a razão por que a grande Lisboa é cada vez mais atrativa. Há mais e melhores ofertas de emprego e à exceção do mercado da habitação, vive-se melhor – a vida é mais barata.
Esta análise aplica-se a centros urbanos do interior do país bem como nos Açores.
Ponta Delgada beneficia disso.
Novos trabalhadores, licenciados ou não, alguns com competências profissionais, chegam de todo o lado: das ilhas pequenas e até da Terceira.
É que ainda há pequenos empresários com a mentalidade de taberneiros ou merceeiros. Lutaram toda a vida para amealhar uns escudos e, com certas dificuldades educar os filhos, éverdade, mas agora não têm a noção de que a sociedade mudou e que os trabalhadores por conta de outrem também têm direto a justos salários…
Posso estar a fazer uma reflexão leviana. Todavia, quem anda por aí e conversa com rapazes e raparigas com pronuncias insulares diferentes, recolhe testemunhos interessantes que confirmam o que acabo de dizer.
As migrações são um direito fundamental que não deve nunca recusar-se ou impedir-se, pois revelam sempre o desejo de atingir melhores patamares de vida.
No entanto, quando o exílio dos mais novos é forçado, por falta de trabalho ou por razões de subsistência, compete aos poderes públicos e ao tecido económico tudo fazer para estancar a hemorragia que há vários anos se acentua em várias ilhas do arquipélago.
Não me canso de abordar este problema, pois estou ciente de que muito mais se pode e deve fazer para encontrar novas e melhores soluções. Enquanto é tempo, pois de ano para ano, as ilhas esvaem-se pela lei natural da vida ou pela debandada para territórios mais atrativos.
Dir-me-ão que sempre assim foi. Mas agora, o fenómeno migratório que atinge a Europa envelhecida, deixa marcas ainda mais profundas nos meios pequenos. E o nosso não foge a essa grave epidemia.
Lisboa, 4 de junho de 2023
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Albino Manuel Terra Garcia

O exílio dos mais novos é, sobretudo, forçado por uma questão tão fundamental como o direito a formação. É por aí que eles começam a sair cedo a fim de adquirirem estudos, conhecem novos lugares e novas pessoas e acabam por se radicar fora das terras de origem (ilhas ditas pequenas). Não há como evitá-lo já que nada se faz para travar essa hemorragia que acaba também por, mais tarde, levar muitos idosos para junto dos filhos e dos netos…