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Intervenção do Diretor Regional das Comunidades
na sessão sobre Diáspora do 36º Colóquio da Lusofonia
Ponta Delgada, Centro Natália Correia, 4 de outubro de 2022
“Uma sessão de Diáspora num colóquio de Lusofonia é um imperativo programático a que gostosamente nos associamos.
Desde logo, pela nossa ligação atual à Direção Regional das Comunidades, mas também pela nossa relação pessoal com o desígnio emigratório do povo açoriano.
Diáspora é dispersão.
E, de facto, tem sido esse o nosso fado.
Estamos dispersos nas nossas ilhas.
Estamos dispersos nas nossas comunidades.
Vivemos aqui há quase 600 anos e há mais de 400 anos que saímos daqui. Sem nunca deixarmos as ilhas. Levando as ilhas connosco.
Primeiro fomos para o Brasil.
No século 17 para o Maranhão, no século 18 para Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Ainda no século 18 descemos para o Uruguai e subimos até aos Estados Unidos, de costa a costa, para a Califórnia e para Massachusetts e Rhode Island.
No século 19 chegámos à Bermuda e fomos até ao Havai.
Na viragem dos séculos 19 para 20 insistimos no Brasil, agora para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Finalmente, já por meados do século 20, acrescentámos o Canadá como destino massivo da emigração açoriana – para Ontário e Quebeque, mas também Manitoba e, até, para Colúmbia Britânica e Alberta.
Somos menos de 250 mil nas nove ilhas dos Açores.
Seremos mais de dois milhões de açorianos e açor-descendentes, de várias gerações, nas duas Américas.
Sempre fomos um cais de partida.
Agora, também somos um porto de abrigo.
Por isso, nesta Sessão da Diáspora do Colóquio da Lusofonia, quero falar-vos da “diáspora ao contrário” e dos novos falantes da língua lusófona.
Primeiro, falarei dos cidadãos estrangeiros que, cada vez mais, felizmente, escolhem os Açores para viver.
Depois, do esfoço que fazemos para levar a lusofonia a esses novos açorianos, através dos Cursos de Português para Falantes de Outras Línguas.
Segundo o último relatório anual do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, de 2021, residem hoje oficialmente nos Açores 4.480 cidadãos estrangeiros – já quase 2% da população regional e mais do que o somatório dos habitantes das Flores e Corvo.
Estão em todas as nove ilhas e são provenientes de 95 nacionalidades diferentes.
Desses quase 4.500 imigrantes ainda sem nacionalidade portuguesa, quase metade, 45%, está na ilha de São Miguel.
16% dos estrangeiros está no Faial, 15% na Terceira, 12% no Pico.
Curiosamente, 5% da população das Flores e do Faial já é de nacionalidade estrangeira.
O mesmo se passa com 4% da população do Pico ou com 3% dos habitantes de Santa Maria.
Relativamente aos países de origem, verificamos que mais de 20% dos cidadãos sem nacionalidade portuguesa que residem nos Açores – ou seja, 878 – vieram do Brasil.
De entre as nacionalidades mais representativas, temos 534 cidadãos da Alemanha, 382 dos estados Unidos, 340 da China, 279 da Espanha, 248 do Reino Unido e 206 da Itália.
Com menos de 200 e mais de 100 cidadãos, contamos as comunidades imigradas da França, Cabo Verde, Holanda e Canadá.
Completam o Top 20 das nacionalidades representadas nos Açores a Ucrânia, a Suíça e a Bélgica, a Polónia, a Rússia e a Roménia, a Áustria, a Irlanda e a Eslovénia.
São todos bem-vindos aqui.
Queremos ser uma sociedade cosmopolita, acolhedora e respeitadora, multicultural e intercultural.
Nós que sempre fomos bem acolhidos nos nossos destinos de emigração, temos a obrigação de bem receber na nossa própria Região.
O maior desafio e a principal dificuldade para a plena integração social é o domínio da língua.
Por isso a Direção Regional das Comunidades promove há 10 anos sucessivos Cursos de Português para Falantes de Outras Línguas.
Fazemo-lo em parceria com a Direção Regional da Educação, sob proposta organizativa do Gabinete de Apoio a Migrantes da CRESAÇOR e da Associação dos Imigrantes nos Açores, respetivamente, nas ilhas de São Miguel e Terceira.
São cursos de 150 horas, em regime pós-laboral, que permitem aos imigrantes cumprir com os requisitos dos regimes legais para aquisição de nacionalidade portuguesa, concessão de autorização de residência permanente e estatuto de longa duração, no que respeita à prova de conhecimento da língua portuguesa.
Em 10 anos, de 2013 a 2022, 25 cursos já habilitaram 217 formandos de 42 nacionalidades.
Estão aqui incluídos 38 norte-americanos, 35 ucranianos, 29 alemães, 22 italianos e 21 chineses, como sendo as nacionalidades mais representadas.
Este ano, pela primeira vez, duplicámos os cursos, de dois para quatro, estando já a decorrer dois em Ponta Delgada, um em Angra do Heroísmo e um na Madalena do Pico, para um total de 80 formandos de 30 países, como Bangladesh, Cuba, Filipinas, Nigéria, Argélia, Bielorrússia, Camarões, Cazaquistão, Eslovénia ou Japão.
Levamos assim a língua de Camões a quantos se tornam novos habitantes dos Açores e novos falantes da Lusofonia.
É bom termos essa consciência quando agora reunimos o Colóquio da Lusofonia em terras açorianas.
A diáspora não está só do outro lado do mar.
Também está mesmo junto à nossa porta.
A Lusofonia reúne 270 milhões de falantes em nove países de quatro continentes.
A Lusofonia acolhe e integra essa outra diáspora que traz o mundo aos Açores.
Como Pessoa, e como todas as pessoas, a nossa pátria é a língua portuguesa.”
José Andrade
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