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Intervenção proferida na sessão de abertura do V Encontro Internacional de Poesia
Porto Santo, 12 de outubro de 2022
“Senhoras e Senhores
Queridos poetas
O meu poema é
um abraço
.
Um abraço
de nove para três.
De nove ilhas dos Açores para três arquipélagos do Atlântico.
De nove poetas açorianos – Álamo Oliveira, Ângela Almeida, Armando Moreira, Daniel Gonçalves, Eduíno de Jesus, Henrique Levy, Leonardo Sousa, Urbano Bettencourt e Victor Meireles – para três irmãos da Macaronésia:
– João Carlos Abreu, comissário do Encontro na Madeira e no Mundo
– Aquiles García Brito, comissário nas Canárias
– Vera Duarte Pina, comissária em Cabo Verde
Pela minha parte, enquanto comissário nos Açores, sou de todos o menos poeta.
Mas quero dançar este texto como uma valsa, a dois tempos.
Primeiro tempo:
– Na Poesia, como no Amor, a essência do encontro é a ausência de desencontros.
Com este primeiro tempo, quero enaltecer a resistência dos nossos Encontros.
Tão ou mais importante do que criar um primeiro Encontro Internacional de Poesia, é continuar com um segundo, um terceiro, um quarto, um quinto…
E levá-lo da Cidade dos Poetas para o Refúgio de Poetas, para as Ilhas Afortunadas, até ao fim da Macaronésia…
O mesmo é dizer que nascemos em Ponta Delgada em 2017 e ali voltámos em 2019, que crescemos para o Porto Santo em 2018 e aqui estamos em 2022, que chegámos a Las Palmas em 2021 e navegaremos para Cabo Verde em 2023, quando o vento estiver de feição.
Segundo tempo:
– Um bom barco só chega a bom porto com bom comandante.
Com este segundo tempo, quero agradecer a liderança do nosso comandante.
João Carlos Abreu é o alfa e o omega do Encontro Internacional de Poesia.
Este Encontro nasceu dele, está com ele, continuará por ele.
Ele foi o nosso fundador, é o nosso mentor, será o nosso patrono.
Poeta maior de coração sem fronteiras, ele concebeu e comanda os nossos reencontros como a suprema celebração da melhor especiaria poética: a poesia com sabor a sal.
Nas ilhas, nas nossas ilhas, o poema ganha uma maresia engrandecedora que só os poetas marinheiros sabem e sentem.
Pela poesia, a nossa ilha fica do tamanho do mundo.
Com a poesia, as nossas ilhas formam um continente sem mar dentro a separar.
A onda salgada que afaga e afoga o basalto viúvo de Ponta Delgada é a mesma que abraça e abrasa a areia nubente de Las Palmas ou da Praia. Amarada e amadrinhada pela boda ibérica do Funchal.
Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde namoram há séculos!
É tempo de união, de facto.
Primeiro, a união geográfica, de vizinhança macaronésica.
Depois, a união histórica, de cumplicidade peninsular.
Agora, a união cultural, que resume e assume o espaço e o tempo num Encontro Internacional de Poesia já escrito em cinco versos.
Volvidos quatro séculos com Saudades da Terra dos quatro arquipélagos, o historiador micaelense Gaspar Frutuoso parece ter iluminado o poeta madeirense João Carlos Abreu para
um abraço
de letras às ilhas atlânticas.
Desancorados pela geografia, navegados pela história, aportados pela cultura.
À sombra luminosa de Antero de Quental, Herberto Hélder, José de Anchieta ou Corsino Fortes, os Encontros Internacionais de Poesia rasgam agora a rota a seguir. Por cada um e para todos.
Estes Encontros valem pela Poesia.
Mas valem também pela Macaronésia.
Com a Poesia, somos um arquipélago de 27 ilhas.
Com a Macaronésia, fazemos o melhor de todos os poemas:
Boavista
Brava
Corvo
El Hierro
Faial
Flores
Fogo
Fuerteventura
Graciosa
Gran Canaria
La Gomera
Lanzarote
La Palma
Madeira
Maio
Pico
Porto Santo
Sal
Santa Maria
Santiago
Santo Antão
São Jorge
São Miguel
São Nicolau
São Vicente
Tenerife
Terceira
Que em cada uma dessas ilhas, a Poesia vos abençoe !”
José Andrade
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- Vilca MerizioPoesia pura que só quem tem sensibilidade apurada pode criar. Calou profundo em mim a sua emoção no dizer sinceramente o que sente. E isso só os poetas conseguem fazer.
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- 1 h
- José AndradeVilca Merizio Muito obrigado pelas suas palavras!
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- 1 h
Jose Maria JorgeComo sempre um texto exemplar.Parabéns! Abraço
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- 20 m
Ana GalvaoGosto do texto- Like
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- 2 m
Sergio Luiz FerreiraUma bela poesia escrita por quem diz não ser poeta!Parabéns! Viva nossa Atlanticidade!
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