JOEL NETO TEM RAZÃO: A VIDA NO CAMPO É MARAVILHOSA

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18.4. JOEL NETO TEM RAZÃO: A VIDA NO CAMPO É MARAVILHOSA, CRÓNICA 268, 25.6.2019

Ando há muito para escrever isto, mas acanhei-me com temor de poder ser mal interpretado ou de poderem de aí advir consequências indesejadas. Mas, de facto, viver no campo é uma maravilha, estou na calma bucólica e rural da Lomba da Maia e, por vezes, sinto que voltei atrás no tempo à infância transmontana. O que mais me impressiona (e daí fazer-me lembrar a infância e adolescência) é este sentimento de viver no faroeste sem xerife nem regedor, quando olho ao redor e reparo a quantidade de casas que – nestes quinze anos – foram demolidas, aumentadas, modificadas, recicladas, modernizadas sem que os fiscais da Câmara Municipal da Ribeira Grande se dessem ao trabalho de verificar que decorrem, invariavelmente, sem a aposição da longa nota explicativa e indicadora do licenciamento da obra.

São, decerto, uns serviços de fiscalização compreensivos pois sabem que a situação da pecuária e da agricultura por estas bandas não é das mais famosas, e assim evitam impor coimas, nem querem obrigar a demolições (estou a lembrar-me da promessa de demolição do Prédio Coutinho em Viana do Castelo desde 2000) aos pobres donos dessas moradias que sem projeto, nem arquiteto, nem construtor civil encartado continuam a pontilhar a paisagem rural da costa norte de São Miguel, tornando-a visualmente mais variada. Algumas das obras, verdade seja dita, ferem a sensibilidade arquitetónica que parece inexistir por estas bandas, umas serão meros mamarrachos, outras verdadeiros abortos de construção muito pouco civil, contrariando as leis da gravidade ou do bom senso, que também não parece abundar por estes lados. Há ainda as que são feitas à total revelia de tudo, umas mais disfarçadas que outras nas traseiras ou ao lado de edificações anteriores ou no topo de edifícios já existentes.

E é disto que gosto, deste sentimento de impunidade, de fora da lei que parece ser característica comum aos homens da costa norte que mostram, com a abstenção maciça nas eleições europeias, estarem verdadeiramente nas tintas para as normas e regulamentos que a EU cria e só servem para empatar a vida de pacatos concidadãos. E como não votam neles também não se dão ao trabalho de os notificar para as obras e longe vá o agouro, se eu quisesse comunicar o facto às entidades competentes tinha de tirar um mestrado em burocracia para reportar o sucedido. Só é chato e incoerente depois pedirem subsídios….

Outras das razões por que tanto me apraz viver no campo é ver como aqui parece que não é preciso ter carta de condução (carros, tratores, ou outras viaturas), nem é preciso levar os carros à inspeção, nem pagar seguro obrigatório contra terceiros, ou usar capacete em veículos de duas rodas… assim se constrói a felicidade deste povo de gostos simples e sem grandes exigências ao poder instituído. Raras vezes surgem por cá PSP ou GNR a verificar documentação ou outras chinesices que ocorrem nas grandes cidades. E é este sentimento de total alheamento de leis, normas e regulamentos que me faz gostar de aqui viver e de me sentir tão longe do poder centralista. Joel Neto tem razão é bom viver no campo.