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Este é o artigo que Joel Neto quer censurar (“Diário Insular”, 5 de agosto de 2023)
O Hemingway do Lugar dos Dois Caminhos
Joel Neto é um vulgar escritor de meia-idade. Sem ideias, Joel Neto entrou no ocaso da sua brevíssima e inconsequente carreira literária. Sentiu que precisava de voltar às “Luzes da Ribalta”, agora que o destino lhe proporcionou um inusitado momento “Calvero”. Torturado pelo desânimo, Joel Neto esteve quase, para gáudio de todos os que amam a literatura e a querem ver livre dos vendilhões do templo, a desistir da sua imaginada vocação literária.
Mas o desespero é uma força poderosa, a que recorrem todas as almas que deslizam para o abismo da irrelevância. Joel Neto foi salvo do seu desespero criativo pelas suas memórias de infância. Foi assim que decidiu resgatar e plagiar a estrutura narrativa essencial do conto “A Vendedora de Fósforos”, uma obra magistral de Hans Christian Andersen. O conto do escritor dinamarquês revelou-se um sucesso intemporal.
Todos conhecem a história da menina que morreu a vender fósforos nas gélidas ruas de Copenhaga. O conto explora as temáticas da pobreza, do abandono, dos maus-tratos a menores, do egoísmo, da indiferença dos adultos em relação às crianças e das gritantes desigualdades sociais que prevaleciam na Dinamarca do século XIX.
A adaptação de Joel Neto começa assim: “Jénifer Armelim é uma garotinha aloirada e melancólica que costuma passar as tardes, depois da escola, sentada no muro de cimento frente à casa onde vive.” A partir daí desenvolve uma narrativa tortuosa, que tem como objetivo explorar as temáticas do abandono e da pobreza vivenciadas numa comunidade marginalizada da ilha Terceira.
O livro revelou-se, no entanto, um fracasso. A principal razão de mais este insucesso literário reside no ego empoladíssimo do autor, que se apresenta assim na contracapa do seu livro: “Este é um retrato dos Açores ignorados, uma paisagem humana ausente das fotografias turísticas. É também uma tentativa de intervenção cívica de um homem só, pregando no deserto da escassez, da exclusão e do conformismo – e clamando por mudança.”
Depois de ler isto, fiquei com a sensação de que alguém desenterrou o velho espelho de Nero, o exemplo supremo de narcisismo aloucado. Joel Neto coloca-se, inicialmente, na posição de observador neutral das dinâmicas do bairro que decidiu espreitar numa lógica voyeurista. Na descrição da selva urbana que a sua imaginação observa, adota o estilo inconfundível de David Attenborough. Entusiasma-se com as suas próprias pequenas descobertas e oferece uma alocução cheia de maneirismos pitorescos.
Mas o seu espírito irrequieto depressa se cansa do voyeurismo inconsequente das suas primeiras observações. A partir da sétima página do livro de bolso que produziu, Joel Neto decide colocar-se no papel de personagem principal do enredo, tal como nos tinha prometido na contracapa. A doce e angelical Jénifer é afastada do palco principal e em seu lugar surge agora o próprio Joel Neto, transformado numa espécie de “Justiceiro da Noite”, ao melhor estilo do mítico Charles Bronson. Persegue os maus, salva os inocentes e envolve-se em cenas de pancadaria até ficar inconsciente e amnésico.
A partir daí, qualquer leitor consciente percebe que está a ler uma farsa inconsequente, escrita por um homem prisioneiro de um narcisismo escatológico. Imaginem que Joe Shuster e Jerry Siegel, os criadores do Super-Homem, retiram, a meio das suas histórias, a capa ao seu herói e a colocam nos seus próprios ombros. É exatamente isso que Joel Neto fez nesta sua história. Não é uma coisa normal, pois não?
Afundado no fracasso, com o seu livrinho a ganhar pó nas prateleiras das livrarias, Joel Neto lembrou-se de um derradeiro número de circo, semelhante ao das pulgas amestradas, que o seu alter ego, o cómico Calvero, a que aqui já fiz referência, popularizou. Lembrou-se de se apresentar ao mundo como uma vítima de perseguição de um amigo com quem jantava e privava regularmente: António Bulcão, o poderosíssimo Chefe de Gabinete da Secretária Regional da Educação e dos Assuntos Culturais.
Ao que parece, o amigo em questão transmitiu-lhe uma opinião menos favorável em relação ao seu último livro. Para Joel Neto, a crítica ou a exteriorização de qualquer dúvida em relação à sua genialidade é uma ofensa imperdoável e um ataque à sua liberdade de expressão. Fez então chegar aos seus amigos do quarto poder, a patética queixa que remeteu para o Procurador da República da Comarca dos Açores, na qual se autodescreve como vítima de “ciberbullying”.
Não tenho dúvidas de que o Ministério Público colocará uma pergunta inicial a Joel Neto: por que razão não bloqueou António Bulcão no Facebook, como fazem todas as pessoas normais em relação a indivíduos que consideram intrusivos? Afinal, acabar com o suposto “ciberbullying” estava à distância de um clique. A segunda pergunta é também óbvia: quem remeteu para a comunicação social a cópia da queixa entregue junto da Procuradoria, que Joel Neto cinicamente recusou comentar? Se não foi a Procuradoria, quem foi?
A queixa de Joel Neto foi profusamente publicitada e encenada em vários órgãos de comunicação social regionais e nacionais, quase sempre acompanhada de imagens do livrinho que Joel Neto quis dar a conhecer ao mundo.
António Bulcão, que teve uma atitude que o honra como pessoa e político, não representa nenhum perigo para a liberdade de expressão nos Açores, bem pelo contrário. O verdadeiro perigo é Joel Neto, um escritor frustrado, que mostrou que consegue, com a ajuda de amigos de alguma imprensa, publicitar uma fraude literária e realizar uma espécie de vendeta pessoal em relação a um amigo que o criticou. No que me diz respeito, sei bem que pisei o risco e que qualquer dia acordarei com uma cabeça de cavalo jornalística encomendada por Joel Neto.
Mesmo assim, como homem livre até ao fim dos meus dias, não me coíbo de classificar a sua obra jornalística e literária como aquilo que é: uma fraude e um exercício de narcisismo doentio.
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- Muito bem senhor Deputado viva o 25 de Abril abraço
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- Muito bem Paulo. Este teu artigo de opinião traduz, brilhantemente, a novela de Joel Neto: “Artimanhas para vender um livro banal”. Pior que o livro em questão, só mesmo as ações do autor. Grande abraço meu amigo.
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- E assim se faz com que se compre uma boa centena de livros …porque tal como eu centenas estão curiosos com o “ livro da discórdia “…
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- Ahahahahah
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- Muito bem escrito. Incensurável.Grande abraço.
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- Os caminhos da liberdade de expressão tendem a ser censurados… Eu próprio exerci este direito, contra um mega processo pago pelos “ idosos” de uma Santa Casa, quando os defendia…Recorri ao Escritório do Dr. Ricardo Pacheco, a Santa casa ao escritório “ Abreu Advogados”. Resultado até então, venceu a Justiça…Caro Paulo, este Senhor se é um verdadeiro Jornalista, não aceita a outra face da moeda?!
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- Se esse senhor mantiver o “modus operandi” em relação aos “amigos” dele, suspeito que o MP receber vai receber mais uma queixa de “cyberbullying”
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- Agradeço a todos os que se preocuparam, e perderam um pouco do seu tempo, para manifestar-me apoio pessoal nesta questão. Este assunto é muito importante para mim. A liberdade de expressão é das coisas que mais valorizo nesta vida. Como é evidente, não me deixo condicionar por ninguém e por nenhuma circunstância. Vou continuar a escrever o que muito bem entender, a respeito de tudo o que me apetecer, sem outro limite que não a verdade e o respeito pelas minhas convicções.Ontem ficou evidente que Joel Neto beneficia de uma extensa rede de contactos e de um sentimento corporativo que o protege no mundo mediático. A maior parte dos jornais, televisões e rádios nacionais e regionais ignoraram o assunto, com o único propósito de pouparam o jornalista/comentador político ao embaraço de terem de revelar, à opinião pública, que Joel Neto não veste “Prada”, mas sim as opulentas vestes de um Grande Inquisidor, ao melhor estilo de Tomás de Torquemada. Ele pode criticar tudo e todos, mas não admite que o seu “génio criativo” possa ser colocado em causa. Coitado.A RTP/Açores esteve presente e isso deve ser reconhecido, mas a peça, que termina abruptamente com a jornalista Dulce Bradford – uma jornalista de excelência, a quem não atribuo qualquer responsabilidade – a sobrepor a sua voz ao que restava da reportagem para ler o comunicado de Joel Neto, está muito longe dos mínimos. Fico-me por aqui.É evidente que tudo o que Joel Neto argumenta são criancices inenarráveis. Birras infantis. A referência à utilização indevida da sala do Parlamento é mais uma atordoada. Então se eu estou a anunciar uma resposta favorável ao pedido de levantamento da minha imunidade parlamentar, uma questão que será votada e discutida no Parlamento dos Açores, devo anunciar a minha posição favorável ao pedido em que local? Encostado à esquina? Parvoíces.E não, este assunto não vai ficar arrumado 4 ou 5 anos numa gaveta do tribunal. Estou empenhado em derrotar este ataque à liberdade de expressão em todos os espaços públicos. É uma luta pela liberdade e pela democracia contra o poder e a influência mediática de uma personalidade que se mexe bem nas margens do poderoso sindicato corporativo que o protege.Resta dizer que o “Açoriano Oriental”, como é seu timbre, fez uma notícia justa e isenta. Com o contraditório de Joel Neto, é verdade. Mas é isso que sempre defendi. A existência de contraditório em qualquer assunto, desde que existam agentes interessados em o fazer.
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- Paulo Estêvão desde quando existe contraditório no anúncio de levantamento de imunidade parlamentar?
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- Rui Simas Percebo a questão técnica. Quantas vezes foi integrado o meu contraditório e o do meu partido na mesma notícia que descreve a tomada de posição de outro partido, personalidade ou entidade? Neste caso pior ainda, uma vez que o conteúdo da minha conferência de imprensa nem sequer estava publicado no espaço público. Mas já nem vou por aí. Sei perfeitamente até que ponto os dados estão viciados. Contento-me com a possibilidade de exercer um qualquer contraditório. A mim chega-me isso.
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