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Com papas e bolos se enganam tolos. Sabedoria popular. Com “romances” também, ou rimances. Todos têm direito à vida e a contar histórias. Os leitores e ouvintes assistem encantados à narrativa. Merecemos o que temos. Comemos o que nos dão. Acreditamos no que nos dizem.
Este anúncio do livro de Natal do autor José Rodrigues dos Santos e da sua nova editora, a espanhola Planeta, prova que somos os mais ingénuos dos hominívoros, comemos tudo (talvez seja essa a razão do nosso sucesso).
Interroga o anúncio do produto: Será a China mais perigosa que a Rússia? Espera-se uma resposta do autor, a troco do preço de capa. Entretanto os clientes não perguntam qual é o perigo que a Rússia representa e para quem e que perigo da Rússia pode ser suplantado pela China?
A pergunta de Rodrigues dos Santos e da Editora é uma armadilha. Descontextualizada serve para tudo, será idêntica a perguntar se o joelho é mais importante que o tornozelo? Será a água mais perigosa do que a cerveja? Será um paralelepípedo mais perigoso que um calhau rolado? As ondas da Nazaré são mais perigosas que as tempestades de areia?
Rodrigues dos Santos patrocina este tipo de charadas com a mensagem sublimar da publicidade ao seu livro.
A mensagem sublimar é que quer a Rússia, quer a China são perigosas para a outra superpotência: os Estados Unidos. O que Rodrigues dos Santos, interrogador ficcionista, quer transmitir é o que o Rodrigues dos Santos na versão jornalista não pode dizer sem comprometer a imagem de independência que lhe garante o salário e o estatuto: Ele defende os Estados Unidos enquanto potência hegemónica, nesta guerra contra a Rússia, travada na Ucrânia, como defendeu as ações dos Estados Unidos no Iraque, no Afeganistão, na Síria, na Líbia. E, neste livro sob a forma de romance, difunde a tese, muito debatida, de que na Ucrânia se trava uma guerra de desgaste da Rússia para que os Estados Unidos possam enfrentar em melhores condições o seu adversário principal – a China – no teatro de operações decisivo do Pacífico.
Aquilo que Rodrigues dos Santos e a sua editora estão a anunciar não é um romance: é uma operação de lavagem ao cérebro, um sermão aos pobres de espirito disfarçado de romance. Propaganda política encapotada para enganar quem está disposto a comprar um engano. O que nada tem de condenável. Estamos na civilização dos chicos espertos e do mercado. E ainda nos piscam o olho!
Chrys Chrystello
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