J.m. Soares de Barcelos · Curiosidades sobre a linguagem das Ilhas dos Açores

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J.m. Soares de Barcelos
15 mins ·
Curiosidades sobre a linguagem das Ilhas dos Açores

Em Santa Maria e em S. Miguel chama-se “biscoito da esfregadura” a um pequeno biscoito feito com as rapas, isto é, com os restos da massa do alguidar de cozer o pão, no tempo em que em cada casa se cozia semanalmente uma fornada de pão. Em Raiz Comovida, um dos romances de Cristóvão de Aguiar que mais amplamente regista termos populares de S. Miguel, lê-se: “[…] eu também abancava, mas só comia uma tigela com biscoitos migados […], biscoitos da esfregadura da farinha de milho que Vavó cozia às sextas-feiras, às vezes também um brindeiro com as rapaduras dos alguidares onde se amassava o pão […]”.
E, provavelmente, pela sua pequenez, há a curiosa expressão “não valer um biscoito da esfregadura”, que quer dizer isso mesmo, não valer nada!
Antigamente, nas Flores, as pessoas menos letradas pronunciavam quase sempre o feminino de bom como “bõa”, em vez de ‘boa’. Mais uma vez, e citando as estórias cheias de pilhéria do Dr. Horácio Flores, este contava que num velório em que um dos filhos lamentava a perda do pai – Á pai querido, que já nã te vejo más! – um irmão mais velho, assumindo já um pouco o papel de novo chefe do clã, sossegava o irmão chorão dizendo: Cal-te, que pai já está no céu, comendo açucre e outras coisas bõas!!…
→ continua…

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