IVONE CHINITA (1949-1983)

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IVONE CHINITA (1949-1983)
Peste Malina (Histórias de Mulheres):
a Ivone já não chegou a ver publicado este seu livro (1983) que tanto a desgastou e em que tinha tanto orgulho, um livro que lhe andava «nas veias como fogo».
Resultado de três anos de trabalho a ouvir mulheres e, depois, dezenas de cassetes – «matéria sonora transformada em palavra escrita», tendo a Ivone o cuidado de tornar legível a expressão oral, com a sua lógica, mas sem perder a «verdade de cada voz».
São treze mulheres de geografias diversas e profissões humildes na sua maioria que aqui expõem sem filtros a infância e a adolescência, a sexualidade e a vida adulta, amores feitos e desfeitos, a prostituição, a violência doméstica – um vasto e cru painel da condição feminina num tempo sobretudo anterior a 1974, que também entra na vida delas e no seu discurso.
A Ivone remata o livro com um texto seu, em que prolonga e aprofunda os motivos e também a força da sua escrita, vinda já dos tempos de Angra: «Digo Fome» (1970; capa de Rogério Silva) e «Relatório Fragmentado» (1974); o tempo de Lisboa proporcionou-lhe ainda «Mulheres em Horas de Ponta» (1979) e «Outra Versão da Casa» (1980). Quatro livros de pequena dimensão que mereciam ser reunidos e reeditados, pela sua escrita ora terna, ora agreste em que se assume um ponto de vista feminino sobre o mundo e a vida.
A melhor maneira de homenagear uma escritora é lê-la.
Neste 8 de Março, deixo para leitura dois dos «Breves poemas estivais»:
1.assim como os meus dedos
desaguam no teu corpo
que macio seja o vento
deste inverno, no teu rosto
5.das mil e uma formas de ler
o relatório escolherei uma
deambularei pelo teu corpo dorso
receptiva a cada novo espaço
eu não posso saber em que ponto
fiquei, deambularei pelo teu corpo
(«Outra versão da casa »)
Ana Franco, Conceição Mendonça and 26 others
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