in memoriam STANLEY HO J SEVERINO

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M – 99 – 99

Ao sair do pódio em 1983 depois de conquistar o 3º lugar numa corrida do Grande Prémio de Macau recebi um aperto de mão de Stanley Ho a dar-me os parabéns. Disse-lhe naquele momento que o que me daria satisfação era guiar um dia o seu Rolls-Royce com a matrícula M – 99 – 99 e o magnata dos casinos respondeu-me: “Porque não? Combine com o Morais Alves (seu braço-direito para os assuntos portugueses) e pode dar uma volta”. A satisfação concluiu-se. Na guerra do ópio, Stanley Ho ficou rico. Com mais uns comparsas abriu um casino, e outro e outro.
Macau tudo lhe deve.
Conversei várias vezes sobre ele e no livro biográfico que terminei recentemente de escrever insiro deste homem vários detalhes, que tão amigo foi dos portugueses e de Portugal. Todos os jornais, rádio, televisão, centro cultural, aeroporto, transportes marítimos para Hong Kong, prédios de habitação económica, museus, exposições, festas do Grande Prémio, do Barco-Dragão, Fogo de Artifício, lares de idosos, associações de reformados, associações de funcionários públicos, associações chinesas de todo o género, material para os hospitais, hotéis, tudo, tudo em Macau Stanley Ho contribuiu com o seu dinheiro. Um dia disse-me: “Sou muito rico, um dia morro e não levo nada disto”. Morreu hoje Stanley Ho. Paz à sua alma e condolências aos familiares.
Macau e Portugal estão de luto. Em Portugal comprou uma herdade no Alentejo, comprou vinhos em Colares, geriu os casinos do Estoril, de Lisboa e da Póvoa de Varzim. Teve os mais diversos colaboradores, uns ajudaram a promover a sua imagem, mas outros só o enganaram e roubaram. Teve advogados em grande número. Alguns foram-lhe leais, outros correu com eles por serem uns aldrabões.
Stanley Ho foi um homem único. Multimilionário, mas um bom coração que soube sempre respeitar a sua mulher macaense. A primeira de quatro mulheres que teve e 17 filhos. Todos tiveram tudo o que queriam e alguns andam hoje a discutir a enorme herança.
Os governadores de Macau foram as pessoas que melhor conheceram Stanley Ho. Ele pedia isto e aquilo, mas sabia recompensar. Até deixou criar por um oportunista uma fundação com dinheiros resultantes de um polémico contrato de jogos. Não quero deixar aqui escrito as centenas de portugueses que enriqueceram à custa de Stanley Ho, mas um jornalista em Macau que passa o tempo a publicar livros sobre individualidades de Macau, quero ver se tem a coragem de escrever a biografia de Stanley Ho, mas, com todas as verdades e com os nomes daqueles que passaram o tempo a chular o magnata.
A propósito do seu antigo Rolls-Royce e da matrícula com os números 99, número 9 que significa dinheiro, a verdade é que não existe nenhum dos muitos carros com o número 99 em Macau que não sejam de Stanley Ho.
Falta dizer-vos uma coisa: Em 20 anos de Macau cheguei a odiar a classe dos jornalistas, porque o entrevistavam a troco de muito dinheiro.

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Comments
  • José Cristóvão Só uma nota: quem fundou o Casino Estoril foi Fausto de Figueiredo, cuja estátua ainda hoje se encontra no jardim em frente ao Casino.