ilhas grisalhas

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Ilhas grisalhas
É grave o problema demográfico nos Açores.
E é tão mais grave porque não está na agenda dos políticos.
No Plano e Orçamento que o Governo dos Açores elaborou para este ano constam apenas umas breves linhas sobre o assunto, prometendo medidas de incentivo à natalidade.
O saldo natural do ano passado é mais um toque de alarme, com um registo nunca visto na demografia açoriana, com o número de nados-vivos mais baixo da nossa história recente e um número elevadíssimo de óbitos.
Já no ano anterior tinha sido um ano crítico, com apenas 2.131 nados-vivos, o valor mais baixo nos últimos 40 anos em que há registos regionais (4.970 nados-vivos em 1981).
O saldo natural naquele ano (diferença entre nascimentos e óbitos) era positivo (+2.150), enquanto que agora é negativo (-140 em 2019 e -345 em 2020).
O que é que aconteceu durante o regime autonómico para entrarmos neste descalabro?
Que políticas se fizeram para inverter esta tendência esmagadora?
Ainda vamos a tempo de corrigir este grave problema? E como?
Com que políticas?
São questões que deviam estar na linha da frente da próxima discussão do Plano e Orçamento da região.
Pelo contrário, desconfio que vamos continuar a assistir a debates estéreis sobre os interesses de partidos e clientelas por cada ilha ou concelho, deixando esta preocupação, mais uma vez, para as calendas gregas, como se vê com esta inutilidade que são os Conselhos de Ilha.
Em boa hora o Conselho Económico e Social dos Açores, presidido por Gualter Furtado, desafiou os parceiros sociais a colocarem este problema na agenda, antes que muitas ilhas fiquem ainda mais desertas do que já estão.
Desde 2012 que as campainhas de alarme soam à porta dos responsáveis desta região, ano em que começou a sangria de população, em saldo natural e em saldo migratório.
Os especialistas chegaram mesmo a chamar-nos “uma ilha de fecundidade”, com as gerações a renovarem-se até 1994, mas no período da crise económica tivemos uma queda brusca, passando para um período de acentuada infertilidade.
A ilha do Corvo é um dos exemplos mais referidos por quem estuda estes fenómenos.
Uma mulher da ilha mais pequena dos Açores tinha, em média, 2,77 filhos, quando a média nacional era de 1,28.
Quatro anos depois o índice de fecundidade foi zero.
Mas se viermos por aí fora, todas as ilhas foram perdendo população de uma forma acentuada nos últimos anos, sem se regenerarem, com destaque para a Graciosa, agora acompanhada por outras ilhas onde também já soa o alarme.
Como já aqui alertamos por mais de uma vez, na ausência de políticas públicas que invertam a tendência, o mais certo é que as previsões dos especialistas se concretizem.
Ou seja, de acordo com as mesmas projecções, se temos agora cerca de 18% de jovens, em 2030 serão apenas 12%, enquanto que os idosos, na ordem dos 13%, serão 19% em 2030.
Ou pomos mão rapidamente neste problema ou vamos chegar a um dia em que muitas ilhas vão acordar sem população à sua volta.
(

Osvaldo Cabral

– Diário dos Açores de 21/03/2021)

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