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Especialistas em isolamento desde 1452.
Não há postal que melhor ilustre a ilha das Flores do que um navio ao largo.
A fotografia (autor desconhecido) remete para um tempo antes da construção do porto comercial das Lajes das Flores que só ficou concluído quando eu era adolescente.
O abastecimento à ilha das Flores tem sido sempre um desafio, basta reler jornais do último século. No último mês temos assistido a grandes dificuldades no normal abastecimento à ilha, havendo, neste momento, rotura de stock de gás.
A geografia continua a fazer história, num momento em que a população é de 3 429 habitantes (Censos 2021) e a dependência do exterior é quase total.
Mais do que batermos bolas às responsabilidade políticas que começaram na monarquia, passaram pelo abandono da ilha durante o período de ditadura e que continuam durante a Autonomia, pergunto-me como é que chegamos a este ponto e qual é o plano da população da empresa responsável pela reconstrução do porto e dos líderes para fazer frente a um futuro em que os fenómenos meteorológicos se adivinham cada vez mais extremos.
É urgente um debate profundo e sem demagogia sobre o futuro da ilha das Flores e das outras ilhas que padecem das mesmas circunstâncias de isolamento e de crise demográfica.
Já foram investidos 36 milhões de euros na reconstrução do porto comercial das Lajes das Flores. Prevê-se que com as derrapagens habituais o custo possa ascender aos 200 milhões de euros. Se isto não é motivo para debate regional, não sei o que será.
Depois do furacão Lorenzo (outubro 2019), da tempestade Efrain (dezembro 2022) e de tantas outras tempestades que colecionamos como postais, a ilha das Flores prepara-se para a aproximação da depressão Kamiel, prevendo-se um aumento significativo da intensidade do vento, com rajadas que poderão atingir os 130 km/h no Grupo Ocidental acompanhadas de chuva forte e de agitação marítima.
De tempestade em tempestade continuam os bravos florentinos a resistir no último Oeste.
“Visitada mensalmente pelo vapor da carreira insulana, que, em muitas occasiões, apenas consegue lançar em terra as malas sem poder descarregar os generos de primeira necessidade que conduz, com grave prejuizo dos habitantes, e por alguns navios que fazem commercio entre os Açôres e os Estados Unidos, sem comtudo encontrarem um porto seguro de descarga; esta ilha [das Flores] pode bem dizer-se abandonada aos seus proprios recursos e julgada insusceptivel d’outra exploração que não seja a da emigração para a America, que ameaça despovoal-a roubando aos trabalhos do campo seus melhores braços.”
“Glórias e Primores de Portugal” , 10 Junho de 1891.
Guilherme Read Cabral, Commendador da ordem de Christo e Cavalleiro da Torre e Espada, para a sua Alteza Real o Senhor D. Carlos.
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