IGUEL MONJARDINO, AFEGANISTÃO

Views: 0

1. A coluna “Guerra e Paz” no Expresso regressou de férias:
2. A derrota militar dos EUA no Afeganistão, o colapso do governo afegão em circunstâncias ainda bastante misteriosas e a forma como a retirada de Cabul ocorreu, são vistas por muitos como um golpe na credibilidade dos EUA e mais grave crise de sempre da NATO;
3. Discordo. A retirada foi, certamente caótica, incompetente e vergonhosa. Quanto à NATO, convém ter memória histórica. Esta não é, certamente, a mais grave crise da Aliança Atlântica. Não conheço um único país europeu que quisesse manter as suas forças militares no Afeganistão;
4. Os países europeus cometeram um erro de avaliação: julgaram que Donald Trump era um fenómeno político transitório. Como tal, não teriam de fazer decisões e escolhas estrategicamente relevantes. A eleição de Joe Biden e a sua expressão “America is Back!” confirmou este sentimento de anestesia europeu;
5. Todavia, no Afeganistão, Joe Biden tornou claro que está disposto a correr riscos para melhorar a posição estratégica dos EUA a médio e longo prazo. Cabul não é Pequim nem Moscovo. Vinte anos depois do 11 de Setembro, Washington está a tentar regressar à sua estratégia tradicional;
6. O que europeus ainda não perceberam bem é que, se os EUA têm um problema de reputação por causa do abandono do Afeganistão, nós temos um problema de credibilidade. Em política internacional, a reputação e a credibilidade são coisas muito diferentes. Como a história estratégica revela, a falta de credibilidade é bem mais grave e perigosa do que a perda transitória de reputação;
7. Portugal, onde a crítica a Joe Biden tem sido apressada e fácil, ainda não tem um novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional. Criticamos os EUA ao mesmo tempo que continuamos a navegar à vista;
8. Conclusão: o período iniciado em 1989-1991 está a terminar. Tal deve merecer reflexão entre nós. A preguiça intelectual baseada na falta de confiança colectiva não pode continuar a paralisar-nos. Alianças como a NATO reinventam-se e evoluem desde que haja reformadores. O que queremos mesmo para o nosso futuro?
O Afeganistão: implicações estratégicas
EXPRESSO.PT
O Afeganistão: implicações estratégicas
Opinião
3 comments
3 shares
Like

Comment
Share
3 comments
  • Gregório Feliz

    O fim de Roma foi um período de grandes tumultos, chegou a Hora do fim de Washington, eu sei que dói mas é um facto irreversível, a América está mesmo a acabar enquanto potência farol. Já vimos o mesmo com o fim de Londres no período entre as guerras m…

    See more
    • Like

    • Reply
    • 21 h
    • Edited

    Gregório Feliz replied
    2 replies