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MUITO OURO!
No irrepetível ano do centenário do Café Sport, fui, ou melhor fomos convidados para participar num desfile de roupas no Clube “Amor da Pátria”, com a marca “Peter”. Propus ao Norberto Serpa ser ele um dos nossos modelos, pelo seu ar de marinheiro, a condizer com a nossa coleção. Ele aceitou, a troco de eu atravessar o Atlantico com ele e a sua equipa, até às Caraíbas, na viagem que iriam fazer à volta do Mundo. Concordei porque faltavam ainda alguns meses para iniciar a viagem, e pensei que ele se iria esquecer do combinado, ou mesmo mudar de ideias.
O dia 8 de novembro foi o dia definido para a partida, e duas semanas antes ele veio-me lembrar do combinado.
Naquela quinta-feira de manhã a boia hidrográfica que existe a norte no canal Faial-Pico, marcava ondas de 11m, mas às 23h, quando saímos, as ondas já tinham diminuído para 5m. O vento continuava forte com rajadas de 40 nós. Para começar esta viagem não era, reconheça-se, o mais agradável, mas acabou por ser um bom teste para mim.
Trinta e um dias depois chegámos às Caraíbas, passando por São Miguel, Gran Canária, e São Vicente em Cabo Verde. Foram vinte e cinco dias de mar e seis dias em terra.
No dia 8 de dezembro, dia de aniversário da minha mulher, ainda no Atlântico, telefonei-lhe do telefone satélite do barco, e depois de tantos dias a ouvir a voz grossa dos meus companheiros marinheiros, a voz dela parecia-me de ouro.
Nesse dia escrevi o texto que se segue:
No Atlântico entre Cabo Verde e Antigua
“Flores feitas de folhas de ouro!”- disse eu aos meus companheiros de viagem, apontando para o mar. Dois deles disseram logo que não, que eram algas.
Eu então perguntei-lhes: “Vocês têm fios de ouro? Relógios de ouro? Moedas de ouro? Dentes de ouro?”. Eles responderam que não a tudo. Eu disse-lhes então que não percebiam nada de ouro.
Prontamente responderam: “Nós somos Biólogos Marinhos!”
Então perguntei-lhes se tinham estudado pedras preciosas. Como responderam que não, insisti que aquelas flores eram mesmo feitas de folhas de ouro e acrescentei: ”Pois eu já joguei à pedrada e há pedras que são mesmo preciosas!” Eles olharam um para o outro, encolheram os ombros e não responderam…
Assim, e como quem cala consente, estava decidido: eram mesmo de ouro!
Iria por isso avisar todos os ladrões do meu país, para virem a esta zona do Atlântico roubar este ouro de forma fácil, encherem os barcos e seguirem para Nova Iorque onde poderiam vender todo aquele ouro ao Sr. Trump. Assim ele poderia cobrir os seus prédios de modo a ficarem muito brilhantes!
A quem quiser, eu dou as coordenadas do local. Caso não encontrem lá ouro nenhum, só uma conclusão se pode tirar: os ladrões que eu avisei já lá foram.
Nem tudo o que brilha é ouro, mas neste caso até era…
E eu já estava era a ficar “dourado” para chegar a terra.
P.S. : O músico Tom Waits disse numa das suas músicas: “O piano é que tem andado a beber, não eu…” E eu digo: ”A minha esferográfica é que está maluca, não eu…”
Dezembro de 2020
José Henrique Azevedo
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- Senhor José Henrique, eu continuo a ser sua fã.Um beijinho.
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