HELENA CHRYSTELLO NOVO LIVRO 9 POEMAS 9 LÍNGUAS

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à venda em https://www.letraslavadas.pt/

 

autores: Álamo Oliveira, Eduíno de Jesus, Alexandre Borges, Telmo Nunes, Paula de Sousa Lima, Chrys Chrystello, Nuno Costa Santos, Malvina Sousa e Aníbal C. Pires.

 

Línguas Tradutores

português

francês Miguel Lopes

inglês Katharine Baker

alemão Rolf Kemmler

castelhano Concha Rousia

neerlandês Arie Pos

esloveno Bárbara Juršic

italiano Anabela Ferreira

tétum Domingos de Oliveira

 

Apresentação da Nova Antologia de Autores Açorianos por Helena Chrystello 38º Colóquio da Lusofonia RG – outubro 2023

Quero agradecer à Direção Regional das Comunidades na pessoa do seu diretor, Dr. José Andrade, pelo patrocínio que possibilitou a publicação deste volume e vai permitir a sua distribuição pelas escolas, bibliotecas, Casas dos Açores e comunidades da diáspora; agradeço ao Professor Aníbal Pires pelo seu prefácio e disponibilidade para apresentar a mesma. Agradeço, ainda, ao Sr. Ernesto Rezendes, Bruna Resendes da editora Letras Lavadas, assim como aos seus colaboradores pela sua simpatia e profissionalismo.

Para destrinçar que autores incluir na designação açórica, optou-se por escolher os que aqui nasceram ou viveram e que são, unanimemente, considerados, pelos seus pares, como “autores açorianos”.

No tocante à estrutura da obra, os autores são apresentados com uma ‘nota’ biobibliográfica sumária. A Antologia, exaustiva não é, decerto, mas é indicadora do que se tem produzido literariamente e que merece ser lido, analisado, criticado e trabalhado.

Os critérios adotados para a antologia foram os seguintes:

 

  1. Critério antológico, propriamente dito, carreando quer a retoma de trechos antologiados quer a inserção de fragmentos inéditos, conciliando tradição e inovação;
  2. Critério genológico, incidindo na diversidade de modos e géneros literários, como o conto, a novela, o romance, o poema, a entrevista, a crónica e outros

Defluindo destes critérios ressaltam os objetivos, sendo o primeiro a divulgação e subsequente homenagem a 17 autores.

O segundo objetivo, de caráter científico, consistiu em facultar o conhecimento parcial de uma obra vária a investigadores nacionais e estrangeiros.

O terceiro objetivo, de índole pedagógico-didática brotou da intenção de trabalhar os textos selecionados nas escolas básicas, secundárias e nas instituições de ensino superior.

Uma antologia mais não é do que uma amostra de textos e autores, fragmentária e relativa, mero trampolim para a totalidade almejada em edições futuras. Aos Autores deste volume, agradecemos profundamente, tanto pela sua anuência à coleção dos textos antologiados como pela colaboração interativa em muitos casos.

Enquanto coordenadora da obra é meu desejo que esta Antologia seja um instrumento de consulta diária para todos os que se dedicam à didática e à literatura.

 

Muito obrigada

HELENA CHRYSTELLO

Apresentação do livro 9 poemas – 38º Colóquio da Lusofonia – Ribeira Grande POR MARIA JOÃO RUIVO

 

9 Poetas 9 Línguas, editado pelas Letras Lavadas, é mais um livro de poemas que surge e a verdade é que, no fundo, ninguém fica insensível à Poesia, porque ela contribui para uma interpretação simbólica do mundo, levando a ultrapassar os limites do tempo e do espaço e colocando o Homem face ao seu próprio mistério. Construída no silêncio, ela faz-nos regressar a ele, num reencontro connosco.

E, tendo em conta o livro que é, de nove poetas traduzidos em oito línguas, tenho de felicitar todos os que para ele contribuíram. Os autores dos poemas, os seus tradutores e, claro, a Helena Chrystello, que se entregou a este projeto arrojado e complexo e a quem agradeço o convite para estar aqui. Testemunhei o seu trabalho, ainda que de longe, e vi o carinho e o empenho com que fez surgir este volume. Uma palavra também de apreço pela bonita capa, com fotografia de Marco Costa.

 

Há, na Poesia, uma espécie de magia primordial que, de alguma forma, está ligada à criação. Sendo a linguagem a matéria-prima da Poesia, esta surge da ligação entre o que se diz e o como isso é expresso. Assim, o criador busca a palavra certa, o ritmo, o tom, a harmonia adequada ao que quer dizer, tal como busca uma identidade artística, um sentido para a existência e uma interpretação do universo de que faz parte.

Neste livro, são múltiplos os temas e as mundividências. Todavia há um fio de intemporalidade que os une:

Em Álamo de Oliveira, temos a atualidade do horror da Guerra, numa pátria roubada em que a sombra da morte é uma constante. É um poema sobre as ruínas, a solidão e a dor pungente causada pela guerra.

 

o estrondo vem do estômago da bomba

e espalha as ruínas da solidão. (diz ele)

 

E há também esse “Homem imperfeito junto ao mar”, bem ao jeito de Alexandre Borges, numa metáfora irónica que faz a apologia da imperfeição, já que esta traz uma promessa que, na perfeição, não existe. E cito:

Agora eu

Suspeito dessa perfeição de postal

Confio mais nas rugas dos arrependimentos

Nas ruas com inacabamentos de primeira

 

Da nossa janela de ilhéus, avistamos também o mar personificado, pela mão de Nuno Costa Santos. “Orgulhoso e mudo”, esse mar envelhecido das ilhas, anterior a nós, abrindo por vezes o olho/ ao vento e à indiferença, como quem ficou esquecido.

 

Era um rei cruel, dizem as gentes,

e mais dizem as gentes que o rei,

por ser tão cruel,

tão de duro coração,

mandou que se apartassem

a princesa e o pastor,

tomados do bem-querer

que chega com a Primavera.

 

Diz a Paula Sousa Lima, que nos traz, do fundo da ilha, uma lenda poética, cheia dos sons de outrora, retirada, com uma varinha de condão, do nosso imaginário. Nela estão os ingredientes dos contos infantis e a Natureza pródiga da Ilha, que acolhe as lágrimas dos amantes, fazendo crer que, no amor, tudo é verdade.

O texto de Aníbal Pires poderia ser um poema de amor dirigido à mulher amada, um “Tu”, mas o que está em causa, mais do que um sentimento amoroso, é a ideia de uma irmandade. Nele surgem diversos elementos que assumem forte valor simbólico e que remetem para a ideia de universalidade, de uma diáspora humana, genética e cultural.

Diz ele, por exemplo:

partilhamos culturas e genes

somos um pouco do mundo

(…)

lutando pela dignidade

de ser (apenas) o que somos

humanos

 

Hino de amor é o poema de Chrys Chrystello, num tributo à sua Maria Nobody, cantiga de amor ao jeito moderno, que todos conhecemos, e de aqui recordo o final:

maria nobody

de todos ninguém

nem sabes a riqueza

que a gente tem

 

A importância de sonhar é bem visível, em Malvina Sousa, numa exortação a que sonhemos, na certeza de que, apesar das nossas lutas e contradições, o sonho é o caminho para a eternidade. Não deixes nada por dar!, diz ela, Ama o instante e serás… eternidade…

 

Também o tema da morte marca presença neste livro, no texto de Telmo Nunes, que fala da “voragem da partida” e “dos dias que já não nascem”.

No seu poema, Eduíno de Jesus revela, pela sua mão exigente, o ato de criação e valoriza as palavras, que são muito mais duradouras do que os homens. Apesar de “imprecisas” e “volúveis”, elas criam eternidade e lá estão sempre, imperturbáveis, aguardando que o homem, neste caso, o Poeta, lhes dê vida.

Imprecisas? Volúveis? Mas inamovíveis,

elas lá ficam na página branca

à espera de um Levanta-te e caminha

de qualquer voz humana.

 

Ao ler algumas das traduções (nas poucas línguas que entendo, claro) não pude deixar de pensar, mais uma vez, no trabalho árduo dos tradutores na sua tarefa exigente de traduzir poesia.

O tradutor é, antes de mais, um leitor, que tem de encontrar o equilíbrio entre e reprodução e a recriação do texto original, pois há, sem dúvida, uma recriação deste no momento da tradução. E esse ato de recriar tem de ter em conta todo um contexto e as questões estético-literárias do texto de partida.

Os sentimentos são universais. O que pode ser único e irrepetível é a linguagem poética em que eles se enformam, essa busca minuciosa da palavra certa, da imagem adequada a colocar no lugar que lhe compete, por forma a gerar beleza, que é, afinal, o próprio objeto da arte. Por isso, as questões de sentido não serão as mais complicadas para o tradutor. A maior dificuldade, creio, estará na questão dos ritmos, das sonâncias, da prosódia, das rimas, da musicalidade, que são, necessariamente distintas na língua de chegada e na de partida.

 

Perde-se, inevitavelmente, virtualidades do texto no ato de tradução. Ao mesmo tempo, não há dúvida de que o tradutor é um recriador e tem a enorme responsabilidade de ser um intermediário entre o texto original e o público leitor. Em conversa com o Miguel Lopes, meu caro colega e amigo, tradutor desta obra para o francês, ele disse o seguinte, e roubo-lhe as palavras: “Quando se traduz não se faz igual, porque esse igual não existe. É um pouco a ideia da (…) da sinfonia que nunca é tocada duas vezes da mesma maneira, mesmo que o objetivo seja esse.” (fim de citação) E acredito que deve ser uma enorme satisfação para um tradutor poder levar uma obra a inúmeros leitores de uma outra língua. E não basta encontrar o sinónimo adequado. Há que fazer as escolhas certas, de entre um enorme leque de possibilidades, para que se transmita a pluralidade de sentidos do texto. Sendo assim, o tradutor é, necessariamente, também ele, um autor, não esquecendo que cada poema é único, logo, uma má tradução poderá comprometê-lo. O tradutor deverá manter intacta, o mais possível, a identidade estética do texto, mas a verdade é que mudar de língua é mudar todo ou quase todo um universo de referências.

O meu objetivo, aqui, não é, obviamente, abordar a questão da tradução, que não é área minha. O Miguel Lopes poderá fazer isso com muito mais propriedade do que eu. Mas quis aqui deixar estes tópicos, numa tentativa, também, de valorizar o trabalho dos tradutores, frisando que traduzir poesia é um ato arrojado e de uma enorme responsabilidade e que o tradutor é, de facto, um criador. (Temos sempre presente o exemplo da tradução de As Minas de Salomão, pelo Eça de Queirós, que muitos defendem que ultrapassou significativamente o texto original).

Vida e morte, amor e solidão, sonho e desalento, abandono e criação constituem o universo deste livro de nove poemas, pela mão de nove poetas, traduzidos em oito línguas, a demonstrar, simbolicamente, que somos todos feitos de uma mesma humanidade.

Parabéns à Helena Chrystello e a todos os que deixam marca sua nesta edição.

 

Ponta Delgada, outubro de 2023

Maria João Ruivo

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38º Colóquio da Lusofonia – Cento de Artes Contemporâneas

Ribeira Grande, 4 a 8 de outubro de 2023

Homenagem a Helena Chrystello

 

“A 38.ª edição dos Colóquios da Lusofonia teve, à semelhança das anteriores, um programa diversificado e apelativo, para além de ser um espaço de discussão e reflexão plural sobre as questões da lusofonia, ou se preferirem lusografia pois, se é verdade que as comunicações que aqui são feitas utilizam como principal suporte, a oralidade, não será menos rigoroso afirmar que este espaço se dedica mais às grafias do que às fonias e, como todos temos consciência, no espaço a que chamamos lusófono, as fonias e as grafias são diversas e, em minha opinião, essa diversidade nada tem de redutor, perverso, ou subversivo, mas pelo contrário dá vida à(s) língua(s) de matriz portuguesa, língua(s) comum(ns)s a cerca de 300milhões de pessoas no mundo.

Não entendam, a nota anterior como uma qualquer posição sobre o acordo ortográfico que tanto desacordo provocou, e continua a provocar, deixo essas discussões para os especialistas e respeito as diferentes posições. Eu não quis travar essa luta e, logo que se anunciou a aprendizagem da nova grafia nas escolas, aderi ao acordo ortográfico sem mais delongas.

Esta espécie de nota introdutória sobre as lusofonias e lusografias não pretende suscitar nenhum tipo de reação, a não ser despertar a vossa atenção, ou seja, serve, apenas e tão-somente, de mote para agora vos poder falar de uma mulher que tem dedicado toda a sua vida à difusão da poesia e da literatura, em particular da poesia e da literatura criada no espaço lusófono, mormente a que se se relaciona com os autores açorianos, aqui nascidos ou não.

A sua constante presença ao longo das edições dos Colóquios da Lusofonia que, em parceria com o seu companheiro de vida idealiza, cria e realiza seria, por si só, justificação para o que atrás ficou dito, mas o trabalho de divulgação da língua portuguesa feito pela Helena Chrystello, sim é dela que vos falo, e, como vos dizia, o trabalho da Helena vai muito para além dos Colóquios. A Helena tem toda uma vida dedicada às letras seja como tradutora, formadora, educadora e sobretudo difusora das letras, no espaço em que se escreve e fala nos diferentes matizes da língua portuguesa.

A Helena Chrystello é uma mulher de aspeto frágil, mas a sua inabalável determinação e amor à cultura literária transformam-na num ser capaz de superar as adversidades que a vida lhe tem colocado. As fragilidades físicas não foram impeditivas que a sua paixão pela poesia e literatura se manifestasse por onde a vida a foi encaminhando, mormente, enquanto professora.

A Helena tem um trabalho notável, enquanto educadora, de promoção da leitura entre os jovens, trabalho que, como sabemos, tem fortes concorrentes nas plataformas de comunicação audiovisual e nas redes sociais, ainda assim, a sua persistência tem dado frutos e a sua herança perdura nos leitores conquistados, nos autores antologiados e entre os seus pares.

Vou-me dispensar de aludir o seu vasto currículo, contudo, permitam-me algumas referências bibliográficas que sustentam parte do que já referi e acrescentam razões, se tal fosse necessário, ao justo reconhecimento e pública homenagem que o 38.º Colóquio da Lusofonia, em boa hora, decidiu fazer a Helena Chrystello. Assim, menciono, apenas, alguns títulos de que a Helena foi autora ou coautora: – Antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos; – 9 ilhas 9 escritoras; – Coletânea de textos dramáticos de autores açorianos; – Antologia de Autores Açorianos Contemporâneos (2 volumes), incluída no Plano Regional de Leitura; – Nova antologia de autores açorianos. Mais recentemente, ou melhor, ontem durante o 38.º Colóquio da Lusofonia o seu último trabalho: – 9 poemas 9 línguas.

E outros títulos virão, ao que sei, estão prestes a “dar à estampa”, que é como quem diz estará para breve a publicação de outros trabalhos que visam, à semelhança dos anteriores, acrescentar conhecimento literário junto do público, promover os autores e divulgar aspetos peculiares e, quiçá, bem-humorados do que se vai escrevendo no universo deste arquipélago de sonhos e saudade. O trabalho realizado pela Helena, de que os títulos que atrás mencionei são exemplo, diz bem do seu profundo amor à literatura, à poesia e à língua portuguesa, mas também da sua persistência, determinação e força interior que a liberta das suas fragilidades para servir as letras, o conhecimento e a cultura com a paixão que lhe reconhecemos.

A Helena Chrystello tem contribuído, com o seu profícuo trabalho de pesquisa literária, para a divulgação e promoção da língua portuguesa. Do seu reconhecido labor resultam preciosos instrumentos didáticos para o ensino da língua e da literatura portuguesa, para a descoberta de novos autores, para além, como atrás ficou dito, de potenciar a adesão à leitura de novos públicos.

A Helena Chrystello lançou as sementes sobre um alargado conjunto de jovens de quem foi, mais uma mentora, do que uma professora. Sementes que germinam nos espíritos dos novos leitores e apaixonados pelos livros, mas constituem-se, também, como um poderoso e natural fertilizante para que novos autores possam surgir pois, a Helena transmitiu-lhes o gosto pela escrita e a força necessária para vencer os receios que a folha em branco geralmente coloca aos principiantes, mas também aos que faz tempo se aventuraram pelos caminhos da escrita.

Todos conhecem o poema que o Chrys dedicou à Helena e que tem como título “Maria Nobody” e, do qual me permito ler os seguintes versos: “nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria nobody”

Antes de terminar voltarei a estes versos introduzindo-lhe uma pequena alteração que neste momento especial, em que se faz pública homenagem à Helena, me pareceu ser ajustada.

Em meu nome pessoal, mas também, e julgo não ser abusivo dizê-lo, em nome de todos os presentes e de muitos outros, ausentes, que ao longo dos anos participaram nos Colóquios da Lusofonia deixo o meu público reconhecimento à Helena Chrystello pela sua inabalável dedicação e contributos à cultura e, em particular, à literatura.

“nem sabes a riqueza/que a gente tem/maria somebody”.

Maria Alguém! Sim! Helena és alguém que nos habituámos a respeitar e admirar. Sim! Helena és alguém a quem as letras e os seus obreiros devem um agradecimento. E é, justamente, esse reconhecimento, homenagem e gratidão que hoje, no culminar do 38.º Colóquio da Lusofonia, autores, leitores e amigos da poesia e da literatura te queremos demonstrar.

Queremos continuar a contar contigo, maria somebody, e com o teu incansável labor de pesquisa e divulgação literária.

Obrigado, Helena!”

Aníbal C. Pires, Ribeira Grande, 8 de outubro de 2023

 

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
Esta entrada foi publicada em 39º XXXIX Colóquio da lusofonia. ligação permanente.