há unanimidade na cultura dos açores?

Açoriano Oriental, 13/03/2022
ZONA FRANCA
Bom senso, procura-se.
Poucas, ou nenhumas, vezes os Açores tiveram um governante que gerasse tamanha unanimidade de opiniões quanto o recém-demitido Director Regional da Cultura. Rapidamente, de férreo opositor das touradas, transformou-se em ferrenho adepto da ferra nos toiros. A menorização das mulheres foi uma constante no demorado mandato de Ricardo Tavares, sobrepondo-se à Secretária Regional que o tutelava, e de quem pouquíssimos açorianos sabem o nome.
Recusar-se a aceitar a exoneração de um cargo de confiança política é, no mínimo, peculiar e revelador de uma convicção de que basta ter padre e padrinho para se poder baptizar. Sabendo-se que existe padre, por inerência, não se percebe o desaparecimento do padrinho, quiçá perdido nos baldios corvinos à procura do famigerado boi-anão.
Nas Flores, a Cooperativa Ocidental reclama os habituais subsídios governamentais para suprir as necessidades de tesouraria resultantes do normal funcionamento da sua actividade. O seu presidente alega que sem esses subsídios ficam em risco dez produtores de leite. Trata-se, tão só, de mais um episódio de uma longa série de Cooperativas, Empresas públicas, etc. que vão sobrevivendo à custa de recorrentes balões de oxigénio suportados pelos impostos liquidados por todos os açorianos.
Enquanto se subsidiam entidades que não são auto-sustentáveis, fomenta-se a desregulação do mercado, pois as empresas que são geridas, única e exclusivamente, com os seus fundos são afectadas por uma concorrência desleal. A pretexto de se manterem alguns postos de trabalho, bastas vezes contribui-se para que as empresas privadas não possam aumentar os seus quadros de pessoal.
No Governo Regional, unido por cordelinhos, anunciam-se remodelações que teimam em não acontecer, quando a sua urgência é reconhecida por todos os Partidos que o sustentam. Concretizadas as importantes promessas de redução da carga fiscal e da tarifa aérea inter-ilhas, parece que a enormíssima trapalhada das Agendas Mobilizadoras deixou o Governo num estado de navegação à vista, sem que se perceba para onde vai nem para onde, nem como, quer ir.
Na Terceira, o PSD local decide expor, ainda mais, as divergências internas que nem a governação consegue esconder. Sendo certo que ninguém do PSD esperava ter responsabilidades governativas, fruto das últimas eleições legislativas nos Açores, não é menos certo que já passou mais de um ano desde que foi encontrada esta legítima geringonça. O desaire eleitoral registado nas últimas eleições para a Assembleia da República não foi suficiente para que, dentro do PSD, haja uma reflexão que expurgue lutas fratricidas e tenha o interesse dos Açores em primeiro plano.
Entrar em Ponta Delgada pelas Portas da Cidade é vivenciar uma cidade de portas fechadas. A falta de bom senso reinante é ruidosa, numa urbe silenciada pela ausência de viaturas. Por um lado, o Município toma medidas, por decreto, sem a preocupação de existir uma aplicação gradual e equilibrada das mesmas. Por outro, são várias as empresas que ainda não perceberam da necessidade de alterar o seu comportamento, de forma a assegurar a sua subsistência. Persistem em querer adaptar o mercado às suas regras, recusando adaptar-se às alterações de um mercado cada vez mais global.
Se ainda restassem dúvidas de que a pandemia nada fez para instaurar o bom senso e implementar um relacionamento salutar pela humanidade, os exemplos acima comprovam-no. O início da presente guerra entre a Ucrânia e a Rússia, envolvendo uma população de quase 200 milhões de pessoas, reforçam essa convicção, enquanto numa pequena Região, com pouco mais de 200 mil pessoas, procura-se o bom senso que permita ultrapassar uma estagnação exasperante.
luisvasco@susiarte.com
*ZONA FRANCA discorda ortograficamente
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  • Antonio Mac

    è preciso mudar alguma coisa para que tudo fique no mesmo, ou pior.
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    • 7 h
  • Soares Silvino

    Mas forem voses deram o vote ,desculpa gente
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