há 25 anos

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vim há 25 anos…….Acabei por ficar, como se o meu destino estivesse previamente delineado, sem qualquer respeito pelas decisões que assumira até então. Apenas me foi dado saber que tinha de partir e (re)começar. Sentia-me errante, nómada sem estepes nem desertos a calcorrear ou a cavalgar. Parti jovem. Voltei amadurecido. Tinha ido em descoberta de paragens longínquas que o destino me reservara, para a minha natureza errante, não-sedentária. Conheci povos, aprendi línguas e vivi em mundos que nem Marco Polo imaginava. Sentia-me irremediavelmente alinhavado a essas paragens longínquas, a essas gentes e maneiras e houve que reaprender os modos ocidentais, falsos e superficiais, feitos de códigos refinados ao longo dos séculos pelas várias civilizações, desde a Idade Média obscurantista ao século das Luzes.

Ainda bem que aprendi na infância as falas desses povos gentios disfarçados para ora poder comunicar com eles, sem que jamais suspeitassem ser eu um espião infiltrado na corte da ocidental praia lusitana, tal como alegadamente Cristóvão Cólon o fora na corte de Castela ao serviço de D. João II. Iria lutar por salvar a língua e os costumes daqueles povos, que nem sequer conheciam o valor do que tinham. Ser-me-ia mais fácil como “estrangeiro”. Haviam passado muitos anos, muitas luas sobre as minhas cavalgadas na crista das ondas e do mundo. Nem me lembrava bem como tudo começara ou porquê, se fora uma fuga já encenada e premeditada ou mero acidente de percurso que esses também surgem quando menos se espera. Certo é que as amarras nunca tinham sido fortes à terra onde o cinzento e o granito me viram nascer num pós-guerra de incertezas que o meu signo de Balança acentuaria. Por via disso encarregara-me de colorir a minha vida, tanto quanto possível, com a cultura doutros e tornara-me resiliente como essa pedra granítica da terra onde nascera. Aqui mesmo lançaria as sementes do meu novo projeto. Quem sabe se não era já o meu último grande projeto de vida? Andavam todos tão ocupados na sua lufa diária de sobreviver no poder que olvidados estavam da presença mágica destas ilhas de reduzidas proporções e populações que novos mundos deram ao mundo e apenas eram lembradas pelas catástrofes naturais e pelo mau tempo. Era imperioso alguém ler esses autores insulares, que andava a traduzir, e lhes desse vida, os trouxesse à mais que merecida ribalta. Foi assim que aproveitando o ensejo meti as mãos ao teclado e fiz o seu primeiro escrito sobre a literatura açoriana mesclando-a com o perigo do genocídio das línguas.

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