guerra no HDES, médicos otorrino contra hospital

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Por discordar da redução de valores de pagamentos
Serviço de Otorrino do HDES recusa-se a reduzir listas de espera em cirurgia
Desde o dia 1 de Abril do corrente ano que os médicos do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) suspenderam unilateralmente a actividade cirúrgica em produção adicional (RELEC; CI- RURGE), alegando a “incompreensível e inaceitável redução dos valores de pagamento propostos listados na portaria no254/2018 de 7 de Setembro de 2018”.
Numa carta enviada ao Secretário Regional da Saúde no dia 30 de março, onde se enumeram 7 problemas decorrentes da dita tabela, é comunicado que aquele serviço não realizaria mais nenhuma cirurgia em produção adicional a partir do dia seguinte.
O novo conselho de administração tomou posse a 2 de Fevereiro e no dia 29 de Março foi confrontado com a decisão unilateral dos médicos daquele serviço, segundo as nossas fontes, o que tem prejudicado sobretudo inúmeros utentes.
O resultado é que o número de cirurgias realizadas pela Otorrino está entre os piores registados no HDES no primeiro semestre de 2021.
Acresce que todos os elementos daquele serviço entregaram a “lei das 150 horas”, caso praticamente único no HDES, em que deixam desde Maio de poderem ser solicitados para prestar horas extraordinárias para todo o ano de 2021.
Face a esta situação, como o nosso jornal já noticiou, o HDES pediu a colaboração de uma Fundação nacional, que se dispôs a enviar médicos para colaborar na redução de listas de espera.
Ainda no passado fim de semana foi operado um doente que esperava pela cirurgia há mais de 5 anos.
Carta distribuída pela Ordem dos Médicos gera polémica
O Serviço de Otorrino do HDES também não concorda com esta colaboração.
Numa carta, sem assinaturas, divulgada pela Ordem dos Médicos dos Açores, aquele serviço do HDES reconhece que “temos perfeita noção da nossa lista de espera. A sua dimensão e antiguidade constitui um problema grave. Conhecemos bem esse facto e custa-nos a nós, médicos de ORL, cada vez que temos de avisar os nossos doentes que terão de esperar anos pela resolução cirúrgica do seu problema”.
“Não queremos pôr em causa a capacidade dos colegas, mas, para ORL
foi contratualizado operarem apenas amígdalas e adenoides. Uma cirurgia que pode ser feita por um interno do 1º ano, desde que supervisionado. A frase torna-se ainda mais absurda porque os doentes há mais tempo em lista de espera são sobretudo doentes a precisar de cirurgia otológica diferenciada. E nenhum desses doentes será operado ao abrigo deste programa. Aliás, há doentes que para além de terem indicação para retirar amígdalas e adenoides, também têm indicação para colocação de tubos transtimpânicos e nem isso será feito”, lê-se na referida carta.
Os médicos do referido serviço dizem que a solução encontrada foi feita sem o seu conhecimento e lembram que o Director de Serviço de Otorino “está há meses a alertar para a desmotivação resultante da alteração da tabela de financiamento da cirurgia adicional”, sem nenhuma resposta do Secretário da Saúde.
A carta termina dizendo que “não nos entendam mal: nós agradecemos que venham colegas ajudar-nos. Se pudessem vir 50 colegas operar 500 doentes, seria incrível. Mas antes de se firmarem acordos com colegas de fora, tem de se falar com quem trabalha cá dentro. Tem de se averiguar se há condições para realizar o que se planeia. E também não ficaria mal alguma preocupação com aquilo que realmente sobrecarrega quem dá ao hospital muito mais que aquilo a que é obrigado”.
Esta carta distribuída pela Delegação dos Açores da Ordem dos Médicos, segundo sabe o “Diário dos Açores”, originou forte polémica entre os profissionais, com condenações sobre o facto da Ordem ter divulgado cartas internas, o que não é hábito na Ordem.
Pelo menos dois médicos enviaram ao Bastonário da Ordem dos Médicos, a nível nacional um protesto e solicitando que intervenha junto da Delegação açoriana, que consideram uma espécie de “delegação sindical” que opta por partes de alguns médicos.
Partidos querem saber o que se passa
A “polémica do baronato”, como já é conhecida nos corredores do HDES, já chegou aos partidos políticos, que querem saber junto do HDES o que se está passar.
O PPM deverá ser recebido pela administração do Hospital amanhã, enquanto o CDS será recebido hoje.
O deputado Pedro Pinto, do Grupo Parlamentar do CDS-PP, solicitou ontem ao Governo Regional uma série de esclarecimentos respeitantes à acumulação de funções públicas e privadas no Hospital do Divino Espírito Santo.
O requerimento visa obter “uma listagem dos médicos que exercem funções no Hospital do Divino Espírito Santo com acumulação em entidade privada hospitalar” assim como apurar “se algum médico deste hospital é diretor clínico em unidade de saúde privada”.
O requerimento solicita o fornecimento de outros dados relevantes, como sejam a carga horária de cada um destes médicos.
“Igualmente, é muito importante saber se algum destes médicos que acumula funções públicas e privadas no HDES apresentou escusa de colaboração no combate às listas de espera cirúrgicas”, declarou Pedro Pinto.
Pedro Pinto argumentou que “o facto de os Açores disporem de três hospitais para cerca de duzentos e quarenta mil habitantes acarreta para o orçamento regional um encargo que não ocorreria num território único e contínuo com o mesmo número de habitantes. Justifica- se, pois, a necessidade de um elevado nível de exigência, rigor e transparência na gestão das unidades de saúde públicas, dos seus recursos humanos e das verbas orçamentais a elas alocadas”. “Se esses princípios per se não fossem suficientes, assim o exigem os contribuintes”, rematou o deputado.
HDES vai ser ouvido no parlamento
Entretanto, a Comissão de Assuntos Sociais do parlamento dos Açores aprovou ontem a proposta do Bloco de Esquerda para que sejam ouvidas várias entidades “relativamente às polémicas, problemas e queixas graves que têm envolvido o Hospital do Divino Espírito Santo e o seu novo conselho de administração nos últimos meses”.
Foram aprovadas por unanimidade as audições do Conselho de Administração do HDES, do Secretário Regional da Saúde e Desporto, do Sindicato Independente dos Médicos, da Secção Regional dos Açores da Ordem dos Médicos, e da Secção Regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros.
Foi ainda aprovada, mas com a abstenção do CDS, a audição do ex-diretor de Informática do hospital, que foi despedido – segundo o BE – sem que tenham ainda sido apuradas responsabilidades relativamente ao alegado ataque informático de que o hospital terá sido alvo.
Além do alegado ataque informático, entre os assuntos que o Bloco de Esquerda quer ver esclarecidos está a nomeação de familiares diretos da presidente do Conselho de Administração e do diretor clínico do hospital para vários cargos na instituição, as denuncias de tentativa de condicionamento da atividade sindical feitas pelo Sindicato Independente dos Médicos, a existência de publicações pagas nas redes sociais por parte da presidente do Conselho de Administração publicitando páginas do HDES que, alegadamente, não são páginas oficiais do hospital.
O agendamento das audições será agora decidido pela mesa da Comissão de Assuntos Sociais, presidida pelo deputado Joaquim Machado, do PSD, segundo nota do BE.
(Diário dos Açores de 27/07/2021)
May be an image of one or more people, people standing and text that says "Carta distribuída pela Secção dos Açores da Ordem dos Médicos gera polémica"
Manuel Moniz, Artur Neto and 53 others
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