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Gente que se julga IV
Temos vindo a analisar a existência de parasitas no nosso sistema político. Hoje, dedicamos este espaço ao exame das condições que têm de existir para que os parasitas se instalem e proliferem. Sim, porque quem tem casas só de betão não tem térmitas…
A praga começa nos partidos. O PS é o partido que nos governa há 24 anos. E, por isso, merece estudo minucioso.
A História destas ilhas terá de registar a existência de dois PS. Um entre 1976 e 1996, o outro a partir de 1996 até aos nossos dias. E é muito importante esta diferença, entre um PS na oposição e um PS no poder.
Não se pense que o PS na oposição não tinha térmitas. Claro que tinha. Eram menos, quase sempre as mesmas, mas bastante determinadas em manter a pouca madeira que lhes tocava apenas para elas.
Um partido que não governa, não tem nada para oferecer. E quem não tem nada para oferecer ao eleitorado, além de ideias, arrisca-se a ir perdendo sucessivamente eleições. Ao ponto de se instalar, ao longo do tempo, um desânimo a que assisti durante bastantes anos, bem expresso na frase muitas vezes ouvida a dirigentes e militantes: “a gente nunca mais chega lá”.
Nesta fase da vida do PS, instalou-se na Terceira a chamada térmita residente, tendo o mesmo acontecido nas outras ilhas. Toda a gente o comentava. Eram sempre os mesmos…
Ora é conhecida a máxima de Einstein de que “não se pode encontrar a solução para um problema usando a mesma consciência que criou o problema. É preciso elevar a consciência”. Mas aquela malta que por ali vegetava não sabia sequer quem era Einstein, pensava-se como a insubstituível e repetida solução para o problema e a única consciência que tinha era a de que tinha de continuar a ser eleita. As suas situações pessoais valiam mais que os interesses do partido e da Região.
As grandes lutas intestinas, como lhe chamou Mário Soares, eram, a nível local, quando se aproximavam eleições regionais. Quatro lugares em disputa na Assembleia, aqui na ilha de Jasus, e era vê-los engalfinhados uns contra os outros na composição da lista de candidatos. Nem pareciam do mesmo partido. Esqueciam-se de que o verdadeiro adversário era o PSD, que ganhava eleições umas atrás das outras. Apurados os resultados, voltava a paz, que duraria quatro anos, com as térmitas satisfeitas nos seus pedacinhos de madeira.
Mas, apesar de tudo, havia discussão interna. Não tanto em relação ao mais importante, a estratégia para derrotar o PSD. Mas discutiam-se perfis, capacidades, lugares. Os congressos eram animados, sentia-se alguma adrenalina no ar quando da eleição dos órgãos regionais do partido.
Era, igualmente conhecida, a disputa pela presidência do PS, com dois candidatos crónicos, Martins Goulart e Carlos César. Nas diferentes ilhas também havia posição e oposição interna.
Mas, pelo menos, não havia tanta invasão de parasitas chicos espertos. O que era compreensível. O PS pouca madeira tinha para roer, e a pouca que havia já estava tomada pelos parasitas sedentários.
Não passava pela cabeça de nenhum puto interromper o seu curso superior ou nem sequer iniciar o mesmo, para fazer carreira num partido que não lhe poderia proporcionar carreira alguma.
Todos estes cenários mudaram, quando o PS passou a ser poder.
Carlos César impôs a sua presidência partidária de forma tão férrea que, durante os anos em que exerceu o cargo, ninguém se candidatou contra ele. E, mesmo quando chegou ao limite dos seus mandatos como presidente do governo, fez-se presidente honorário do partido, escolheu o seu sucessor e continuou a mandar através dele.
Unanimismo total em todas as ilhas, no interior do PS, no grupo parlamentar do mesmo partido e no governo por ele apoiado. Com maiorias absolutas sucessivas há 20 anos, com homens de mão a mandar no partido em cada ilha, foram construindo o seu império de forma a que pudessem dominar para todo o sempre. Terreno fértil para a proliferação dos parasitas chicos espertos.
Os especialistas em pragas começam a chegar à conclusão de que, segundo as fases de adaptação ao meio, os parasitas chicos espertos estão a tornar-se igualmente sedentários… Haja madeira.
António Bulcão