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Gangues e quejandos
Certa vez em Lisboa, ao estacionar o carro, um sem abrigo começou a dar-me sinais para colocar a viatura mais para aqui e para ali. Terminada a manobra não lhe liguei ao pedido de dinheiro que me fez de mão estendida. Ele resmungou aborrecido e nessa altura percebi tratar-se dum micaelense. Mudei de postura, conversámos e fiquei a saber que era repatriado dos Estados Unidos e que viera dos Açores para aquela cidade a ver se melhorava a sua situação. Sentia pena dele, quando me disse que havia ali outro micaelense na mesma situação que chamei. Condoído, dei uma nota a cada um, despedi-me e dirigi-me para casa de minha filha, ali perto. Enquanto esperava que me abrissem a porta, vi pelo canto do olho que os dois apressadamente foram entregar o dinheiro que lhes dera a um terceiro que aparentava ser o chefe. Apercebi-me então que faziam parte duma organização qualquer que os tinha na mão, certamente para fazer “bondades”. Pensei para com os meus botões, “oxalá que esta porcaria não chegue à nossa terra”. Infelizmente hoje não tenho a certeza disto, porque vejo as mesmas caras “traficando” por turnos em lugares estratégicos da cidade, parecendo-me mais coisa organizada do que mendicidade espontânea. Com os tiros na Madeira entre gangues, cheira-me que a coisa se está expandindo para estes lados sem que ninguém faça nada de concreto para o impedir. Noutro tempo, dizia-se que mais vale prevenir que remediar. Hoje, só se pensa em aumentar as cadeias numa política que tem de estar errada, pois que, se no tempo da ditadura, tínhamos 30 presos em S. Miguel e hoje são largas centenas que já não cabem na ilha, algo está errado neste reino da Dinamarca. Um dos objetivos da lei penal é precisamente tentar prevenir os potenciais criminosos de que o crime não compensa. Mas eles não estão a entender a mensagem. Porque será?