FRETILIN OCUPA NOVAS PASTAS NO GOVERNO

Views: 0

Fretilin ocupa pastas das Finanças, Administração Estatal e Saúde no Governo timorense

*** António Sampaio, da Agência Lusa ***

Díli, 29 abr 2020 (Lusa) – Membros da Fretilin, com cariz “tecnocrata” vão ocupar, entre outras, as pastas da Finanças, Administração Estatal, Saúde e Turismo Comércio e Indústria no atual Governo timorense, disse à Lusa o secretário-geral do partido.
“Está dentro da política da Fretilin a participação de membros com perfil mais tecnocrata, ainda que sendo membros da Fretilin”, explicou Mari Alkatiri, em entrevista à Lusa.
“Neste momento estamos apenas a preencher os cargos que ficaram vagos depois da não tomada de posse de vários membros do Governo”, referiu.
Mari Alkatiri explicou que a participação da Fretilin representa o “apoio que o partido quer dar também para viabilizar este Governo”, ocupando vários cargos que estavam por preencher no executivo.
Em concreto, explicou, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) terá cinco membros no executivo, recomendando um sexto nome, do Partido Democrático (PD) para formar um executivo “de grande inclusão”.
“Serão cinco da Fretilin e um do PD. Agora está nas mãos do primeiro-ministro acelerar o processo de apresentar propostas ao Presidente da República e o Presidente considerar e dar posse”, afirmou.
“Os membros do CNRT, que estão no Governo, nenhum vai ser demitido. A não ser que haja uma decisão do próprio partido a retirá-los e eles optem por pedir a demissão”, afirmou.
“Foi esta a questão que discuti com o primeiro-ministro. Definir aqui em que a Fretilin tem vindo a insistir desde 2007, que é um Governo de grande inclusão”, explicou.
Recorde-se que vários cargos estão vagos no executivo desde a sua tomada de posse em 2018 porque o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo – que é também presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) – se recusou a dar-lhes posse, por terem “o seu nome identificado nas instâncias judiciais competentes” ou terem “um perfil ético controverso”.
A maior parte desses membros indigitados e recusados eram elementos do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), deixando os cargos ocupados interinamente por outros membros do executivo.
Questionado sobre se essa posição do Presidente timorense pode ser vista como uma tentativa de beneficiar a Fretilin, que agora entra para o Governo, Alkatiri disse que a Fretilin atua “no âmbito do desenvolvimento do processo político” nos últimos meses.
“Se não tivesse havido a implosão da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) [a coligação que inicialmente apoiava o atual Governo] a Fretilin teria continuado a fazer o seu trabalho normal, a ser oposição”, explicou.
Alkatiri insistiu que a nova aliança de maioria parlamentar, liderada pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, “partiu de uma base ilegal” e pretendeu “fazer uma maioria com algo que já não existia”.
Com a entrada da Fretilin para o Governo quase se ‘recria’ uma aliança que chegou a ser discutida para a formação do anterior Governo, depois da vitória sem maioria absoluta do partido nas legislativas de 2017 (que na altura caiu por terra).
Dirigentes do PLP e do KHUNTO, na campanha das eleições antecipadas de 2018, fizeram durante os comícios duras críticas à Fretilin e ataques pessoais ao próprio Mari Alkatiri.
“A política não se faz a olhar para trás. Faz-se a olhar para a frente”, disse Alkatiri, questionado sobre esses ataques.
“Estamos a construir um Estado, queremos que seja um Estado sólido, onde a constituição e a lei prevalecem, um Estado de direito democrático. Não podemos olhar para trás e tomar posições em funções do que passou. Eu, desde que voltei para Timor-Leste tenho sido atacado sempre e nunca me vinguei de ninguém”, disse.
Mari Alkatiri mostrou-se convencido que este modelo garantirá a estabilidade “em termos do processo de governação”, sendo necessário eventual responder a “outros fatores alheios à governação que possam surgir como fatores de bloqueio”.
Alkatiri garante que não vai entrar no executivo e que continuará a liderar o partido “para ganhar as eleições em 2023”.
Ainda assim, insiste que o partido vai manter a sua postura crítica, recordando o que diz serem “vários Governos consecutivo onde se gastou muito dinheiro sem resolver os problemas” pelo que é importante “corrigir o que está mal, mas não para destruir”.
“Estou convencido que esta é a solução que nos vai levar a eleições mais jutas, mais transparentes e assim mais democráticas em 2023”, disse.
Alkatiri rejeita o argumento dos que consideram que o Governo demorou a atuar nas medidas de resposta à covid-19, nomeadamente as socioeconómicas, explicando que “houve forças de bloqueio e desautorização do Governo”, forças de “poder informal a querer superar-se ao poder formal” instituído.
“Não é fácil trabalhar assim”, disse.
“Em Portugal, por exemplo, todos os partidos se juntaram para combater a covid-19. É um grande exemplo para o mundo e devia ter sido um grande exemplo para nós”, explicou.
Os nomes dos novos membros do executivo timorense deverão ser conhecidos nos próximos dias.

ASP//MIM
Lusa/Fim

Image may contain: Mari Alkatiri, close-up