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Fui ver o que é que tinha tido 1 milhão e 600 mil de audiências, ao que parece um Big Brother famosos. Percebi que não conheço nenhum dos “famosos”, nem nunca vi tal programa. Não sinto vergonha dos 1 milhão e 600 mil, mas do governo deles. Lamento profundamente o fosso social em que vivemos e não acho, hoje ainda mais, que cada povo tem o Governo que merece. Acho justamente que o hiato entre os Governos e as necessidades reais das pessoas é cada vez maior. A rigor não são famosos que estão ali ou 1 milhão de pessoas a assistir – é um Governo e um Estado, representado na sua desumanização, falta de educação, de horizontes criativos, de humanidade, de respeito. Falhou tudo, há muito. Estas pessoas não merecem o Governo que têm, cuja acções ou inacções as levaram a assistir com prazer no sofá à barbárie. Para nos desenvolvermos precisamos de adultos, escolas, cultura e media que desenvolvam as nossas funções psíquicas superiores e a nossa cultura humanizada, para assim conhecermos e reconhecermos o justo, o belo, o bom. Recuso-me a aceitar que estes 1 milhão e meio são outra coisa que não vítimas da indigência governativa que em matéria de cultura e educação (e de política e de economia portanto) domina este país há décadas. De gente a viver em barracas analfabetos a ocupar casas para teatros em 1974 ao Big Brother – eis a curva evolutiva da democracia liberal. Do direito a sonhar à gestão de um quotidiano duro e culturalmente miserável.
O programa é no fundo o espelho de um Big Brother Governativo, de um centrão sem uma ideia que realmente ajude nestas décadas a mudar a vida e os sentimentos das classes populares e trabalhadores. Uma vez o maestro Vitorino de Almeida explicou-o com uma metáfora didáctica para um povo de paixões gastronómicas: “quem nunca comeu bife do lombo só gosta de hambúrguer”.
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