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CARTA ABERTA AO SR, PRESIDENTE; DA ETIQUETA
Ilustre professor Marcelo, insigne Presidente da República pela graça dos eleitores – eles próprios iluminados por outra graça, quiçá vinda do Alto: permita-me a ousadia de lhe ministrar uma breve aula de etiqueta básica, em benefício de V.Exa., sim, mas também do povo em geral, com cuja educação e higiene V.Exa. se deve preocupar tanto como eu, pelo que o Vosso alto exemplo a todos beneficiará.
Vamos lá então: Quando se beija a mão a uma alta entidade religiosa, um Cardeal, um Papa, enfim, gente do alto, beija-se o anel, não a mão – a parte com pele. Além de anti-higiénico, é embaraçoso para o homenageado. Claro que o senhor, na condição de Chefe de Estado, nem devia fazê-lo. Também não devia prostrar-se de tal modo – aquelas vénias ainda lhe arranjam uma hérnia discal. Mais adequado é dar um laico bacalhau à autoridade religiosa. O aperto de mão chega. Se alguém devia beijar a mão a alguém, deveriam ser as autoridades religiosas a beijar-lhe a sua, que tem uma legitimidade que do povo lhe vem, enquanto a deles decorre de uma entidade da qual ninguém consegue, sequer, provar a existência.
Também no caso de princesas, rainhas e outras personalidades de subido estatuto – embora de duvidosa legitimidade, mas as coisas são o que são -, não deve V.Exa. lambuzar, como costuma fazer, as delicadas mãos de tais senhoras – por muito que algumas lhe provoquem tentações inapropriadas. Deve tomar – por assim dizer – a mão da dama e, com um esboço de vénia, beijar o seu próprio polegar que, se fizer as coisas adequadamente, estará a jeito da sua presidencial boca.
Se a ilustre senhora que V.Exa. quer cumprimentar de tal modo for uma alta figura do mundo da cultura, das artes, deverá proceder do mesmo modo. Note que, no caso de algumas actrizes mais dotadas – honi soit qui mal y pense – deve V.Exa. ter especiais cuidados, já que o povo está a ver e, nestas como noutras, nem sempre a voz do povo é a voz de Deus.
Estas recomendações e este subido saber, decorrem da minha esmerada educação, das minhas tias, do Manual de Etiqueta da Condessa de Ségur e outra bibliografia igualmente relevante para o assunto em questão, não dos conselhos das autoridades médicas em tempos de pandemia, já que estas ignoraram este hábito de V.Exa., talvez temerosos de enfrentar uma figura de poder da sua estatura.
Uma recomendação final: não deve V.Exa., em caso algum, abanar o esqueleto e todas as partes que nos garantem uma condição ortopédica saudável, sobretudo se o cumprimentado por V.Exa. for pessoa idosa e de saúde frágil. Por exemplo, o cumprimento que V.Exa. fez ao Papa à sua chegada teve mais de atentado que de saudação.
E, por hora, fico-me por aqui nas minhas recomendações. Note V.Exa. que são gratuitas. Jamais me ocorreria cobrar honorários, sobretudo pelo meu escrúpulo em não desperdiçar dinheiros públicos.
As minhas respeitosas saudações a V.Exa., as quais apresento com a adequada vénia.
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