faleceu NORTON DE MATOS

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Estava doente há já algum tempo. Hoje, deixou-nos. Que Deus o guarde, como merece. Foi um homem de mão cheia, um encanto de pessoa: sereno, discreto, generoso, amigo, bem humorado.
Conheci o António Norton de Matos – o “senhor engenheiro”, como os mais novos o tratávamos -, quando ele foi deputado do CDS na Assembleia Constituinte, em 1975/76. Depois, fiquei a conhecê-lo muito bem, quando foi meu diretor na “Democracia 76”, o órgão oficial do partido, durante o período de um ano e oito meses em que se publicou (1976/77). Esta fotografia é desse período, em 1976, quando ele tinha pouco mais de 40 anos – é tirada do n.º 8 da revista, Agosto/Setembro 1976.
O órgão inicial do CDS, o jornal “Democracia 74”, foi literalmente soterrado pelos dois assaltos ao “Caldas”, a sede nacional do partido, no 4 de Novembro (1974) e no 11 de Março (1975). Os assaltos dos extremistas de esquerda vandalizaram a sede e com particular intensidade o rés-do-chão, onde o jornal era produzido. O parque de máquinas foi destruído e houve perda de muitos materiais. Recomeçar era difícil e o CDS tinha poucos recursos. À segunda foi pior. A seguir ao 11 de Março, só sairiam mais dois números, produzidos fora. Esse quinzenário original acabou ao fim de dez edições.
A seguir ao 25 de Novembro, formei uma pequena equipa de gente nova que propôs a retoma do jornal, agora em formato de revista mensal. O projecto foi aprovado pela direcção do CDS, nascendo, assim, a “Democracia 76”, composta e impressa (ainda a chumbo) numa tipografia – a Neogravura – ao pé da Basílica da Estrela.
Eu tinha 22 anos. A direcção do partido escolheu o Eng.º António Norton de Matos como uma espécie de nosso tutor. Era o director. Fiquei como sub-director e o resto da equipa na redacção.
Foi um projecto que nos realizou e nos ajudou a crescer: o João Mattos e Silva, o José Pedro Barretto, o Jaime Almeida Ribeiro e o José Theotónio (mais tarde, o António Câmara de Oliveira) – a que acresciam, o José Almeida Ribeiro (cartoonista), o José Manuel Vasconcelos (fotógrafo) e o Luís Moreira (gráfico). Destes, já morreram três. Além da revista, todos asseguravam em permanência o funcionamento do mítico DOP, que conduzia toda a comunicação do partido, sob a supervisão do Vice-Presidente, o Adelino Amaro da Costa.
O António Norton de Matos era um director amigo e encorajador. Não houve uma única divergência e, quando as dificuldades apertavam, lá estava a dar-nos ânimo. Com formato modesto, que os recursos eram muito escassos, a revista era apreciada pelos militantes e simpatizantes e houve algumas edições que marcaram, embora sem nunca alcançar o impacto da “Folha CDS”, que também produzíamos no DOP, de que eu era director. Da “Democracia 76” publicaram-se 22 números, até ter de deixar de publicar-se por falta de capacidade financeira. Passámos a ver-nos menos a partir daí.
Ficámos amigos para a vida. Cada encontro foi sempre uma festa, nas andanças minhas ou nas do “senhor engenheiro”, fosse em Lisboa, fosse em Ponte de Lima, terra a que realmente pertencia e de onde era originária a sua família.
Norton de Matos é um nome ilustre da vida portuguesa. E ele nunca o desmereceu. Pelo contrário, ficou como um seu príncipe, que é o que esta foto (por certo do José Manuel Vasconcelos) instantaneamente nos lembra: um príncipe.
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