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Faleceu, para profunda consternação minha, diria nossa, Elisa Silva Andrade Pestana (Elisa Andrade), Combatente da Liberdade da Pátria, quem, sempre que nos encontrávamos, me falava dessa valorosa “luta como ato de cultura” e desse líder “o melhor entre os imprescindíveis”, que era Amílcar Cabral. Conversas inesquecíveis, de tão preciosas, sobre Mário Fonseca, Mário Pinto de Andrade e Viriato da Cruz, assim como Aimé Cesaire, Franz Fanon, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir – essa gente extraordinária que a provocava brilhozinho nos olhos. Economista, historiadora, investigadora, professora e consultora, residindo entre Praia e Paris, ela cultivava estudos sobre a diáspora cabo-verdiana, a historicidade africana e da condição feminina. Tinha conhecimento refinado, doutorado e fundamentado, de sujeito a pensar pela sua própria cabeça e que vivera o frisson da antiga Casa de Estudantes do Império, das peripécias da fuga dos nacionalistas africanos em Portugal (1961), dos diálogos políticos com companheiros “das antigas colónias”, da africanidade cabo-verdiana e do afrontamento contemporâneo aos sinais “regressismo funcionalista” da soberania cabo-verdiana, algo que a ultrajava. Participou como atriz nos filmes “Monangambé” (1971) e “Sambizanga” (1972), da cineasta Sara Maldoror, inspirados nos escritos de Luandino Vieira, respetivamente “O fato completo de Lucas Matesso” e “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, e contava-mo com entusiasmo os meandros e o making of das filmagens. Triste pela morte (angustia de quem vive, como diria Vinícius de Moraes), mas grato estou pela oportunidade de ter sido amigo e admirador de Elisa Andrade, inteireza de mulher cabo-verdiana, culta e livre, africana de primeira e da Geração da Utopia. Eternamente, Paz e Glória, Elisa!
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