FAIAL Ricardo Costa ** A Mona Lisa que se cuide!!

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**** A Mona Lisa que se cuide!!
Creio que há uma relativa passividade em relação a algumas ocorrências que nestes tempos mais recentes perturbaram o burgo faialense. Dir-me-ão que tem havido umas palavrinhas indignadas. Como se pode concluir, as palavrinhas mansas não têm qualquer eficácia, sobretudo quando se lida com gente teimosa ou, pior, pouco dotada de visão esclarecida. E afinal o que é que se passa? O que se passa é que factos que justificariam intervenção…já passaram. Explicando melhor, parece evidente que para os lados do Faial e numa hábil, contagiante e muito eficaz prática que até há pouco dominou impunemente o arquipélago, alguns responsáveis, outros menos responsáveis e muitos irresponsáveis, detiveram o exclusivo das decisões em todos os domínios. Só que decidem sobre o que não lhes pertence e que é património de todos, sem cuidar de escutar quem sabe mais do que os ditos. De si para si, vão dizendo: deixa-os falar à vontade que daqui a um mês já se esqueceram do assunto. E lá vão cometendo todas as malfeitorias que lhes vierem à cabeça na certeza de que ninguém lhes pede contas. Alguém ainda fala ou reclama sobre o escandaloso e nojento acto de vandalismo cometido no Castelo de Santa Cruz? Mas afinal sobre o que é que este fulano está a falar!? É isso… É a tal estratégia do deixar falar, assobiando para o lado, que em breve eles calam-se… Mas tudo isto a propósito de coisa menos grave. Menos grave nos efeitos, mas tão grave quando se retoma o estilo de proceder. Que além do mais denota (no meu entender!) ignorância, ausência de sentido estético e um acto de inqualificável falta de respeito. Falo daquela monstruosidade a que chamam “monobloco turístico” plantada junto ao terminal de passageiros. Ouço dizer que o tal “bloco” – uma palavrinha de sonoridade sugestiva – é muito apreciado e por muita gente. Estão, naturalmente, no seu direito. Vamos por partes. Provavelmente pelo ano de 1978 ou 1979 quando Jorge Moura assumiu as funções de Director Regional de Turismo, sendo eu Presidente da Comissão Regional de Turismo da Horta, tive a oportunidade e o prazer de conhecer e de lidar com o designer Aljustrel Tostões. Após diversas oportunidades de contacto, formal e informal, mantivemos uma relação de trabalho e de amizade que se manteve por alguns anos, mesmo após ter cessado qualquer ligação com o sector turístico. Aljustrel Tostões tinha particular apreço pela beleza da cidade da Horta e pelo seu porto e, em particular, pela actividade náutica, incluindo a afluência da navegação de recreio. Numa das suas deslocações à Horta, e certamente devido ao cargo que eu desempenhava, teve a amabilidade de me oferecer um logótipo para a Horta. Oferta pessoal que eu entendi confiar à Direcção Regional de Turismo, uma vez que as Comissões Regionais de Turismo estavam em vias de extinção. O logótipo e a expressiva imagem de conjunto que exprime através da simbologia a que o artista recorreu e desenvolveu de forma tão inteligente, expressiva e rica de um ponto de vista identitário relativamente à cidade e porto da Horta, foi sempre acolhido com grande agrado e satisfação. É de facto uma criação inspirada e que traduz com rara felicidade os traços que caracterizam a Horta/Cidade/Porto/Marina. Com elegância, arte e graciosidade, está lá tudo! E não se pode tirar nada sem escangalhar! Escangalhar é o termo adequado a qualquer intervenção que afecte o todo íntegro do logótipo. Mesmo sem entrar em desinteressantes considerações de natureza jurídica, porque o que tem de relevar-se é a manipulação desastrada de uma obra de arte o que basta para suscitar a imediata repulsa pelo resultado visível junto ao terminal marítimo. Um atrevimento inqualificável. Quando há algumas semanas tive oportunidade de ver a brutalidade cometida, deturpando grosseiramente o delicado logótipo a que me refiro, criando uma peça ostentando uma volumetria tosca, pesada e agressiva, mas sobretudo usando abusivamente elementos do logótipo a que acima me refiro, apoderou-se de mim um sentimento de imensa repulsa. Repugnante. Só alguém destituído de sensibilidade e com total falta de respeito por quem concebeu o logótipo da Horta poderia permitir-se cometer tão inacreditável dislate. É extraordinário que uma autarquia aprove, promova e consinta em dar público relevo a esta monstruosidade que designam “monobloco turístico”. Um verdadeiro mamarracho plagiado de uma peça nobre que um verdadeiro artista jamais consentiria em praticar. E, por favor, não me venham com a conversa da subjectividade! Entretanto, avisem o Louvre!! Ressuscitem o da Vinci!! Se alguém destas bandas apanha a jeito a Gioconda, ainda lhe pinta os lábios suavemente sorridentes com batom vermelho! Está na moda…Falando sério, isto jamais podia ter acontecido numa das mais belas baías do mundo.
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  • ” volumetria tosca pesada e agressiva ” com tanta falta de originalidade pois se pode encontrar um pouco por todo o lado em território português .
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