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PARTILHO CONVOSCO a posição do meu amigo Eugénio Lisboa sobre o PRÉMIO NOBEL (num e-mail que me autoriza a citar) não especialmente para discutir se o Saramago foi ou não foi digno dele mas para ficarem a saber tudo o que ele nos conta sobre esse prémio. Como com todos os seus textos, saímos mais cultos da sua leitura! A sua suculenta erudição regala-me, enquanto as perorações dos vulgares eruditos me enfastiam e delas desisto às primeiras. Vá, aprendam – que eu também aprendi!
“Vou agora ver se escrevo mais um texto que me vai criar inimigos novos e acirrar o ódio daqueles que já tenho. Mas faz-me uma grande aflição o provincianismo e a menoridade mental do nosso mundo cultural, parvamente embevecido com “o nosso único Nobel”, como se ele fosse o maior de todos, lá por que um grupo de dezoito suecos, nenhum dos quais lê português, decidiu dar-lhe um prémio que vale um número chorudo de coroas suecas. Um Prémio que, por acaso, deixou de fora a grande maioria dos grandes escritores do século XX (premiou alguns, mas não muitos) e galardoou uma maioria de escritores menores, que estão hoje esquecidos. Quando, em 1998, passei por Helsínquia, fui, por curiosidade, a várias livrarias e perguntei se tinham alguma obra do Nobel deles, de Literatura (1939), Frans Eemil Silanpää. Não sabiam quem era. Eu até lera, na minha adolescência, dois romances desse autor. Premiar isso e deixar de fora Tolstoi, Ibsen, Henry James, Joseph Conrad, Arthur Miller, Tennessee Williams, Proust, Claudel, Jorge Luis Borges, Ortega y Gasset, Unamuno, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Lorca, Valéry, Jean Anouilh, Marcel Aymé, Saint-Éxupéry, Rilke, Mark Twain,, Virginia Woolf, Aldous Huxley, George Orwell, Robert Frost, John dos Passos, Edward Albee, Graham Greene, Strindberg, Zola, Phillip Roth, Aquilino, Torga, Régio, Ferreira de Castro, Herberto Hélder (e deixo de fora outros tantos), cometer erros desta dimensão deixa-nos pensativos, melhor, francamente perplexos, quanto às razões por que o Prémio Nobel de Literatura desfruta ainda do prestígio de que desfruta. Percebo que se cobice as coroas suecas, agora acreditar que o prémio garanta imortalidade ou mesmo um lugar respeitável no cânone literário, só por ignorância ou parolice. Mas, enfim, o nosso meio cultural é o que é e não me parece que haja muito que se possa fazer. Quando a própria universidade embarca com tanto apetite neste cortejo pimba, sem fazer o mínimo esforço de avaliação adulta e um Presidente da República vai a correr assistir à coroação do “nosso único Nobel” (coisa nunca vista até então, nem depois disso!), apetece mesmo ir para Vale de Lobos fazer azeite!
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