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Excelente!!!

A recente discussão importada dos EUA sobre o racismo trouxe à memória um texto que aqui escrevi há três anos sobre a discriminação racial e os ataques a que os portugueses foram sujeitos na terra do tio Sam.
Conheço suficientemente bem a sociedade americana para não estranhar o fenómeno Trump e as questões e os conflitos raciais nos EUA, e saber que só marginalmente têm analogias com a nossa sociedade e a nossa História. Só a globalização e o domínio americano dos media e das redes sociais podem explicar que de um momento para o outro estejamos todos a discutir o racismo em termos que são essencialmente relevantes nos EUA.
Na minha opinião é importante que os portugueses estudem e discutam o racismo, que de facto existiu e existe em Portugal, mas em termos que tenham em conta as especificidades da sociedade portuguesa, da sua História e da sua Cultura.
O texto que então escrevi e se mantém actual, foi uma reacção ao fascínio de alguns luso-americanos pelo Trump e pela ideologia veiculada pela Fox News, e foi este:
MAKE AMERICA GREAT AGAIN
Não sei se Trump tem consciência de quanto a linguagem que usa e o seu famoso slogan “Make America Great Again” ecoam a retórica do Ku Klux Klan da década de 1920. Dada a sua proverbial ignorância, admito que não, mas para quem conheça a História, a ênfase no patriotismo agressivo e na restrição da imigração faz recuar 90 anos e voltar ao tempo da segunda encarnação do Klan, quando pregava e tentava impor a visão de uma América criada e dominada por brancos protestantes, abençoados pela virtude cristã e pelo orgulho patriótico. Uma América que rejeitava os católicos e os judeus, especialmente os imigrantes mais recentes que apelidava de estrangeiros. Uma América que via o novo fluxo de imigrantes, “mostly scum”, como uma horda perigosa que ameaçava a Nação Americana, que maculava a pureza da Cidadania Americana e destruía o verdadeiro Americanismo. Uma América que se opunha declaradamente à Igreja Católica.
Foi neste tempo que em Provincetown, na Nova Inglaterra, onde uma importante comunidade de imigrantes portugueses, maioritariamente originários dos Açores e de Cabo Verde, constituída por famílias numerosas de católicos devotos, o Klan encontrou terreno fértil para actuar. É que contra os Portugueses, para além do argumento religioso e ideológico, havia um outro: o racismo. Mesmo no poema inocente de Alma Martin sobre Provincetown, The Heavenly Town, a questão da cor é realçada:
“(…)
Dark Portuguese
From far-off seas
Their ships in bay
Pass time of day
(…)
Dark laughing boys,
Dark smiling girls,
With here and there a native son,
With blue eyes full of Yankee fun.
(…)”
Em Agosto de 1925, aproveitando a tensão entre Yankees e Portugueses, o Klan queimou uma cruz no adro da igreja católica de São Pedro, construída para o culto religioso dos imigrantes Portugueses.
O episódio não intimidou os Portugueses, antes pelo contrário. Organizaram-se no St. Peter’s Club a partir do qual dominaram o Knights of Columbus, uma organização fundada 40 anos antes para defender os direitos civis e religiosos dos Católicos. Paulatina mas firmemente, acabaram por afastar democraticamente dos órgãos de governo da cidade todos os Yankees simpatizantes do Klan.
Eu sei que hoje, noventa e tal anos depois, muitos portugueses e luso-descendentes nos EUA seguem o exemplo dos nossos compatriotas de Nova Inglaterra. Mas estranho que alguns outros se deixem encantar pelo discurso de Trump.