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este povo já não sonha, 29.6.2021, Crónica 402
Com o Covid há ano e meio e a eliminação do Euro de futebol, este povo que nunca teve grande propensão para tal, parece ter deixado definitivamente de sonhar. Apesar de nove séculos de rica história de reis, tiranias, ocupação estrangeira, invasões e desgraças como a guerra colonial e o fim do Império que nunca foi, parece ter perdido a capacidade de ter esperança, seguindo abúlico e resignado como Eça de Queiroz o descrevia já há século e meio. O país é bonito mas os políticos não. Diariamente dão péssimos exemplos, veja-se o atropelamento mortal do carro do malfadado ministro Cabrita a imputar as culpas ao trabalhador na autoestrada, retirando à viúva o direito a uma pensão e indemnização, sem se preocupar em mandarem um dos 500 assessores inúteis e desocupados do ministério ao enterro, e mais tarde acabou por culpar o seu motorista.
Novas leis de controlo dos meios de comunicação parecem ter desenterrado o antigo lápis azul da censura, mas o povo tranquilo e manso nem se apercebeu. Todas as semanas lhe retiram liberdades em nome da saúde de todos nós, acha normal um passaporte de saúde, ser testado antes de ir a batizados, casamentos ou outras festas, usar máscara para o resto da vida, ser vacinado (mas cuidado que se a vacina não for a x, y ou z, o atestado de nada serve para viajar para muitos países como os emigrados na Alemanha acabam de descobrir), mesmo que no fim todos possam continuar a contagiar e a ser contagiados.
A pandemia formatou a população para erradicar os “positivos”, cujos testes prenunciam doença ou morte, mesmo que morra uma pessoa com ou de Covid, por dia, há 250 ou mais mortes doutras causas que não merecem tempo de abertura de telejornais. Esta nova realidade não se altera com ou sem vacina, Vamos viver a nova era mascarados, para ninguém se aperceber do estado da alma pela face de cada um, amordaçada, açaimada. Lembre-se que o vírus da r gripe nunca foi extirpado, mais de um século depois da gripe espanhola.
O medo, depois da lavagem diária ao cérebro e da visualização incessante de pessoas a tomarem a vacina, vai prosseguir por entre máscaras, distanciamento e proibições, ora abre isto, ora fecha aquilo. Mas no inverno voltarão a subir os mortos, como todos os anos acontece com inúmeras infeções respiratórias. Enquanto não aceitarmos que o vírus veio para ficar como a gripe, e tanto outro vírus que aí anda, não recuperaremos s liberdades que nos tiraram, e que eram direitos fundamentais.
Noutra nota triste assistimos, na Povoação, a mais mortes por gente que pensa que numa viatura se atravessam cursos de água de ribeiras descontroladas. Eu que vivi em Timor onde se atravessavam ribeiras secas (que as pontes tinham sido levadas pelas enxurradas) vi ribeiras subirem metros em minutos. Desde que cheguei aos Açores há 16 anos lembro-me do autocarro escolar do Nordeste que causou 2 ou 3 vítimas levadas pelas águas que atravessavam a estrada, um trator levado pela ribeira, e agora o caso da Povoação. Pode ter havido mais casos mas estes fixei e jamais menosprezaria a força selvagem da água mesmo que pareça ter apenas centímetros de altura ao atravessar estradas ou caminhos agrícolas.
E foi mais um verão sem festas nem procissões nem outras manifestações culturais, e a economia, a pandemia e os da cultura regional tentaram que nada se realizasse. Como sabem um povo culto, que lê e pensa é um perigo para a nação, são pior que terroristas. O melhor era acabar com eles, mas desenganem-se pois entre nós há uns que são mesmo mais resilientes que os vírus, pandemias e outras desgraça