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Vírus, medo e economia
Em tempos de Covid, as estatísticas dizem que morreram mais sete mil portugueses de outras patologias em relação ao ano anterior.
Os números deveriam nos pôr a questionar a gestão da crise de saúde pública e se 2000 mortos de Covid abrem todos os jornais, 7000 também deveriam.
Mas não. Essas mortes não interessam para nada, nem alimentam o medo que está a deixar a sociedade à beira da loucura. Sim, porque o ataque de nervos já todos tivemos algures neste ano surreal.
O vírus ao que parece e lido esta manhã por estes oculinhos lindos que tenho em cima do nariz, está a matar menos.
É uma boa notícia, mas como contamos os mortos um a um e espetamos com isso ao pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia, fica a mensagem que a mortandade do Covid é uma chacina da população.
Mas numa conta básica de subtração, percebemos que o mundo não é só Covid. 7000 mortos extra versus 2000 mortos Covid…
Eu sei que os números estão arredondados, mas conseguimos perceber a diferença. Ou seja, estão a morrer muitos mais pessoas com cancros, avc…
Continua a não interessar. Afinal o cancro não se apanha na praia ou num ajuntamento familiar e por isso que se lixe quem morreu de cancro.
O que se lixe a quem morreu de cancro nestes sete meses de pandemia, estende-se igualmente à visão do que se lixe quem perdeu o emprego, quem não tem trabalho desde março, quem vê a sua empresa falir, quem ficou sem sustento, quem passa fome, quem está em dificuldades porque o lay-off não paga as despesas essenciais.
Os mesmos gestores de pacotilha que berraram que uma empresa que não aguenta 15 dias de confinamento, não é uma empresa é uma chafarica.
Não foram 15 dias. Foram muitos mais e quando se fecha a economia, para além da queda do PIB, destrói-se o tecido empresarial, sobretudo o das microempresas e as PME, que são a grande maioria dos responsáveis pela criação do emprego no sector privado.
E foi o que se fez. O cenário de horrores ainda nem se vê.
Mas que lixem os mais de 400 mil desempregados e os futuros que hão-de vir quando os lay-off terminarem e as empresas tiverem de pagar os empréstimos que contrairam para aguentar as consequências do confinamento e da faturação a meio gás que o verão trouxe.
Em março, publiquei um post com um ramo de flores comprado na mesma florista onde hoje gastei três euros para enfeitar a minha jarra. É um pequeno negócio, um autoemprego como eu tenho na Blue Vision e milhares de tantos outros. Continuo a comprar em pequenos negócios porque é a única forma que tenho de fazer a minha parte para que alguém tenha dinheiro para pôr comida na mesa.
Na altura escrevi sobre quais seriam as consequências inevitáveis da paragem forçada da economia. Foi um “ai Jesus”.
Primeiro está a vida das pessoas. Depois a economia.
É um excelente e virtuoso princípio. Só é pena são os 7000 mortos a mais e que não foi o Covid que matou. Mas esses, que se lixem.
Sete meses depois e com um país em ruptura com os serviços públicos praticamente inacessíveis aos cidadãos, a dívida pública a ir para os píncaros e sectores chaves da economia completamente de rastos, algumas vozes dizem que a Europa irá demorar anos a recuperar da gestão da crise de saúde pública e nós, mais de uma década para voltarmos a uma economia semelhante ao que existia em fevereiro de 2020.
As consequências do Covid não bateram à porta de todos da mesma forma. Há redutos de proteção, mas não é para todos. E o que se lixem os outros é o pior consequência desta crise de saúde pública e que desfaz a hipocrisia da defesa das vidas humanas em detrimento da economia.
Isa Amaral
Blogue Palavras e Devaneios sobre
As almas mais delicadas, as donas de verdades absolutas e as histéricas Covid, podem dar opinião sobre o meu texto, mas se forem grosseiros ou defenderem a sua opinião com falta de respeito, serão despachados a grande velocidade. Aqui ainda há liberdade de pensamento e espaço para opinião contrária.

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- Ontem fui à baixa a meio da tarde. Vi uma loja grande e com vários anos de negócio na baixa com remate final e tudo a 9,90€. Obviamente vai fechar.
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