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Caros escritores, guionistas, tradutores, jornalistas, académicos, etc… uma das melhores formas de combatermos a ameaça da Inteligência Artificial e a nossa obsolescência é enriquecermos o nosso vocabulário e aplicarmos a velha máxima de que “não há sinónimos”. Vós, mais dos que as máquinas, por muito inteligentes que sejam, conheceis a diferença entre barulho, rumor, alarido, clamor, balbúrdia e gritaria. A máquina vai escolher o que é mais comum ou mais “seguro”, mas vós sabeis que palavra serve melhor o texto. Usai regionalismos, arcaísmos, eufemismos, perífrases e todas as ferramentas da língua, dizei o que quereis dizer não pensando na eficiência e na facilidade mas sim na especificidade e na originalidade.
Haverá público para a IA e para autores humanos, assim como há quem coma McDonald’s e quem prefira a tasca da Dona Arminda ou o Belcanto.
Uma vez, um escritor muito conhecido disse-me que não escrevia nunca “um olmo” ou “um teixo” porque os leitores não sabiam que árvores eram e ficavam incomodados, escrevia simplesmente “uma árvore”. Pois é altura de regressarmos aos olmos e aos teixos, porque nenhuma árvore é só “uma árvore”, e cabe a quem escreve lembrar os leitores disso.
A língua é, e sempre foi, um campo de batalha e agora, mais do que nunca, cada vocábulo é trincheira.