ENTREVISTA A XANANA

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ENTREVISTA: Timor-Leste/20 anos: Xanana não desiste de dissolução, mas prefere estabilidade
António Sampaio (Texto) e António Cotrim (Fotos), da agência Lusa
Díli, 14 mai 2022 (Lusa) – O líder histórico timorense Xanana Gusmão considerou hoje que o seu partido não desistiu da exigência de que o novo Presidente, José Ramos-Horta dissolva o parlamento, mas que deve ser “realista” e garantir, acima de tudo, a estabilidade.
“Em termos de princípio fizemos este apelo, já não dizemos exigência, e este apelo continua. O partido não diz que agora desistiu da sua exigência, mas tem que considerar todos os fatores políticos, sociais e económicos”, disse o presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), segundo partido timorense, em entrevista à Lusa.
“Por isso, não está a ser exatamente uma exigência, já que preferimos que haja estabilidade. Ainda assim, colocamos na mesma ao Presidente eleito, desde que haja possibilidades, que tem que se repor uma ordem no parlamento”, considerou.
A questão da dissolução do parlamento – o CNRT considera que a atual mesa foi ilegalmente eleita em maio de 2020 – vincou grande parte da campanha presidencial de José Ramos-Horta, que venceu as eleições de 19 de abril com uma ampla maioria.
Pela primeira numa eleição presidencial o CNRT avançou com um candidato presidencial do partido, ao contrário do passado em que Xanana Gusmão deu a sua voz a candidaturas que se tinham já apresentado.
Nos comícios, declarações mediáticas e outros atos de campanha, quer Xanana Gusmão, quer Ramos-Horta quer outros apoiantes da candidatura defenderam esta exigência cuja concretização, depois do voto e apesar da ampla vitória, pareceu atenuar-se.
No final de abril e em entrevista à Lusa o próprio José Ramos-Horta afastou o cenário de dissolução do parlamento e eleições antecipadas ou da queda do atual Governo, considerando que esses cenários não são adequados dado o atual contexto de crise económica e social do país.
Ramos-Horta disse que esse compromisso de dissolução “não é dogma” e que o essencial é apostar no diálogo de todas as forças parlamentares.
“Sim, isso foi o compromisso, só que nada é dogma em política e não podemos ser dogmáticos, porque isso leva a imprudências e políticas erradas. A grande preocupação de Xanana Gusmão é como fazer face a essa situação de extrema dificuldade da população, [ele] não quer maior instabilidade política”, explicou.
No momento em que o país comemora os 20 anos da restauração da independência, e depois de cinco anos de grande instabilidade política, agravada pela pandemia – que fizeram a economia nacional recuar mais de uma década -, as conjeturas sobre o que vai acontecer agora no país dominam os debates.
Xanana Gusmão reconhece este momento e diz que o mais importante é estabilidade e paz, necessárias para o desenvolvimento, recorrendo a frases da ‘guerrilha’ para descrever o sentimento atual.
“Hoje, depois das eleições, depois de olhar para algumas tentativas de violência que aconteceram, o partido deve ser realista a olhar para este processo. O partido mantém a perceção de que o parlamento não está a funcionar segundo as normas, segundo o regimento”, disse, relembrando que no parlamento “existe uma maioria que defende esta situação atual”.
Assim, sublinha, o partido não desistiu da sua exigência, mas “tem que considerar todos os fatores políticos, sociais, do outro lado”, da maioria que suporta o atual Governo, liderada pela Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).
“Já que na guerrilha aprendi: conhece o inimigo nos seus pontos fortes e fracos, assim como deves conhecer os teus próprios pontos fortes e fracos. E nunca dês as munições ao adversário para te matar”, frisou.
Vinca que o Estado tem quatro pilares, e “não é apenas o parlamento”, alude a que esperava alguns sinais idênticos da maioria, considerando que parecem não estar a ser dados quando, por exemplo, as bancadas do Governo querem avançar com uma lei sobre responsabilidade criminal do Presidente.
“Às vezes queremos corrigir uma situação qualquer, mas se desistimos por desistir vai causar mais problemas, mas se avançamos este desejo, este mal pode produzir mais males para a sua própria destruição”, explicou.
No atual contexto, e depois dos últimos cinco anos de tensão, Xanana Gusmão reconhece alguma “frustração”, apontado a projetos interrompidos ou parados e ao grande recuo económico do país, entre outros aspetos.
Motivo pelo qual se mostra disponível para voltar a assumir, eventualmente, a liderança do Governo, depois das próximas eleições.
“Claro que traz essa frustração, e esta frustração é mais alimentada pela frustração do povo e é nesse sentido que disse que perante isto, perante o carinho, perante o amor, perante as manifestações de afeto por parte da população, sinto este dever de continuar, em termos de repor e criar novas bases para o desenvolvimento”, afirmou.
“E foi por causa desta frustração que o partido decidiu ter um candidato. Quando falamos com o Presidente eleito, depois das eleições, eu disse que não estava contente porque o Horta ganhou. Fiquei mais contente porque o povo soube escolher, exerceu o seu direito, soube em que votar e o que o candidato podia fazer”, considerou.
José Ramos-Horta toma posse a 20 de maio.
ASP // PJA
Lusa/Fim
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