ENTRAS NO BAR E NO BALCÃO SÓ HÁ CENOURAS???

“De facto, é inimaginável entrar num bar que não tenha bolos ou salgados na vitrina. O que haverá atrás do vidro? Cenouras?“. Por Filipa Chasqueira
Carne seca na cantina ou sandes de alface no bar
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Carne seca na cantina ou sandes de alface no bar
FALAR BAIXINHO

Carne seca na cantina ou sandes de alface no bar

De facto, é inimaginável entrar num bar que não tenha bolos ou salgados na vitrina. O que haverá atrás do vidro? Cenouras?

 

Depois de dois anos letivos de liberdade condicionada, em que os alunos andaram ao sabor das decisões para controlar a pandemia, quando em setembro os jovens regressarem à escola vão ter mais uma surpresa Os pães com chouriço, os bolos, os folhados, os refrigerantes, os chocolates ou os salgados, entre outros – porque são mais de meia centena de produtos banidos – vão ser retirados dos bares das escolas. Os menos informados pensarão que se trata de uma piada de mau gosto. Ou que com tanta preocupação com a covid alguém se esqueceu de contactar os fornecedores. De facto, é inimaginável entrar num bar que não tenha bolos ou salgados na vitrina. O que haverá atrás do vidro? Cenouras?

Se queremos combater a obesidade infantil – um problema que tem vindo a decrescer nos últimos anos no nosso país – devemos insistir na consciencialização do que é uma alimentação saudável. Começando, por exemplo, pelas cantinas do ensino público. Uma alimentação saudável não passa só pela matéria-prima – que, diga-se, nesse meio não prima pela qualidade. Passa também por oferecer refeições equilibradas, saborosas e bem confecionadas. Que tornem a hora da refeição prazerosa, que permitam descobrir novos e bons pratos, em vez de criar aversão à comida ou encontrar escapes ou compensações para a mesma.

É lamentável o desinvestimento na qualidade da alimentação dos estudantes. Servem-se refeições deploráveis às nossas crianças desde tenra idade. Já ouvi de alunos, professores e auxiliares de várias escolas descrições assustadoras. Os mais novos dizem que o peixe parece estragado e os mais velhos queixam-se de que a carne muitas vezes é tão seca que mal se consegue cortar. Como é possível achar que o problema da alimentação está nos pães com chouriço ou nos folhados de salsicha? Certamente que se as refeições servidas na escola melhorassem, os alunos não estariam tão sequiosos de um conforto. Pior, chegou-se ao cúmulo de aconselhar também o fecho do bar à hora do almoço, não vá ainda algum impudente querer trocar o peixe espapaçado da cantina por uma suculenta sandes de alface.

E não nos esqueçamos que no combate à obesidade infantil as indicações passam também pelo aumento da atividade física. Será que também vão abrir até ao final de setembro recintos cobertos e contratar professores para a prática de desporto em todas as escolas? E vão voltar a fechar os parques infantis quando os casos de covid subirem e manter as crianças fechadas na sala durante o intervalo?

 

 

Se muitas escolas com as suas novas restrições, os seus horários alargados, os seus portões altos, má comida e matérias extensas e pouco adaptadas já não eram convidativas, com a censura nos bares as semelhanças com uma prisão vão ser ainda maiores.

Curioso que se fale tanto em liberdade hoje em dia, que se discuta a legalização da canábis e ao mesmo tempo se tenha o descaramento de proibir alimentos absolutamente inofensivos quando consumidos com moderação. Se há jovens com maus hábitos alimentares vão continuar a tê-los trazendo comida de casa ou recorrendo ao supermercado ou ao café mais próximo. E todos os outros vão estar a pagar o fanatismo do saudável.

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