Sabem quantos epidemiologistas tem Portugal? Zero. Népia. Nem um. Foi isto que escrevi há uns dias no twitter, juntando a tabela do Instituto Nacional de Estatística demonstrando que há X especialistas em Anatomia Patológica, Y Endocrionologistas, N Pediatras e ZERO Epidemiologistas. ZERO. Claro que esta minha publicação gerou polémica porque, súbito, inopinadamente, em Portugal surgiram de um dia para o outro X+Y+N epidemiologistas que desfilam nas televisões, investidos do seu poder da autoridade. E o pessoal, como é natural, acredita. Aliás, foi este fenómeno de mais epidemiologistas que cogumelos que me chamou a atenção, que estranhei, e me levou a procurar informação. O
Pedro Almeida Vieira
, lesto como é, até já tinha feito mais este TPC. Adiante.
De facto, não há epidemiologistas em Portugal, por muito que a comunicação social assim os titule ou eles se auto-designem. Todavia, o Polígrafo decidiu classificar a minha afirmação como falsa. Pois é. Há uns dias, uma jornalista mandou-me sms a perguntar onde tinha eu obtido a informação (embora o link para a tabela do INE também estivesse no meu twitter), eu respondi-lhe, a senhora nunca agradeceu sequer e ontem a decidiu o seu veredicto. Ora bem- com base em quê?
A dita jornalista foi consultar Elisabete Ramos, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Epidemiologia (APE) que explicou ao Polígrafo (como se pode ler) que “Em Portugal, a Epidemiologia não está reconhecida enquanto profissão .” Mais se acrescenta que “Relativamente ao número de médicos especialistas em Epidemiologia em Portugal, Ramos indica que “o processo para atribuição da competência em Epidemiologia na Ordem dos Médicos iniciou-se no final na década de 1990, num processo relativo a seis médicos que não chegou a ser concluído e, por essa razão, não há nenhum com a competência formalmente atribuída”. Repito. NÂO HÁ NENHUM COM COMPETÊNCIA FORMALMENTE ATRIBUÍDA. Ou seja, não há epidemiologistas em Portugal. Portanto, a Ordem dos Médicos diz que não há, o INE diz que não há e como é que a autora deste vaticínio conclui que a minha publicação é falsa? Ora bem, como a especialidade não existe no nosso país, na melhor das hipóteses, (e como também explica a presidente da APE) fazem-se mestrados ou doutoramentos e, como a própria refere: “há diversas profissões que podem exercer funções nesta área, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos ou matemáticos”. Mas, meus amigos, como é evidente, um matemático que faça um doutoramento em BioMedicina não é médico e um psicólogo que faça um mestrado em epidemiologia não é epidemiologista, ok? Além de que, muito supostos epidemiologistas que pululam nas TV’S nem isso têm. Mas há mais. E pior. Então, como referido, e não havendo a especialidade de epidemiologia em Portugal, é esta associação que reconhece a profissão. Só que, evidentemente, não é por existir uma associação de Epidemiologia que faz com que passem a existir epidemiologistas. Não é por haver uma associação de astronautas em Portugal que leva a que tenhamos astronautas. Não é por se fazer uma associação de Heckelfone no nosso país com 300 associados que passamos a ter 300 Heckelfonistas. Como se não bastasse, os estatutos desta Associação de Epidemiologia permite que, na pratica, quase qualquer pessoa se possa intitular de epidemiologista (o artigo 6º do capítulo 2 abre a porta a tudo, estudantes, técnicos, outras associações). Conclusão: EXISTEM ZERO EPIDEMIOLOGISTAS EM PORTUGAL E O POLÍGRAFO É FAKE NEWS ( e já não é a primeira vez…). Por fim, a ironia suprema é que a Maria Leonor Gaspar que redigiu este pedaço de lixo é uma estagiária. Pois, pois é, parece que também faltam algumas credenciais profissionais por aquelas bandas. Seja como for, e como considero que mora aqui não apenas Fake News como Má-fé, que atinge o meu bom nome e se trata de um velhaco ataque à minha credibilidade e à minha actividade profissional, vou prosseguir com uma queixa para a Entidade Reguladora da Comunicação Social e exigir Direito de Resposta. Pelo menos e para começar. Por fim, deixem-me que vos diga que a covid pôs a nu aquilo que já sabíamos há muito: o jornalismo em Portugal está infectado. O regime segue doente. Caso para perguntar: “ Sabem quantos democratas existem em Portugal?”
(Nos comentários encontram a tabela e o link para o INE, o link para os estatutos da referida associação, o screen shot da sms trocada com a pseudo-jornalista, o screen shot do estado da sua carteira profissional. Não faço link para o jornalixo do Polígrafo porque não o terão à minha custa, mas ide lá ver se quiserdes.)
Bom dia para vocês
