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“O eleitorado está afastado da escolha dos candidatos e não se revê neles”
José Gabriel Ávila, jornalista
Vamos entrar em semanas decisivas a caminho das eleições regionais. O que espera das forças políticas nesta campanha anormal e, dos candidatos já conhecidos, que avaliação faz das listas?
É voz comum que o cidadão está desinteressado da política e dos políticos, e os actos eleitorais e a crescente abstenção são prova disso.
As razões invocadas parece não terem sido interiorizadas pelos partidos que conseguiram representatividade parlamentar, o que denota a dessintonia entre eleitos e eleitores.
Uma ligação muito estreita entre partidos e eleitorado, escutando as suas reivindicações e corrigindo decisões traduz-se num diálogo sempre frutuoso, essencial para a afirmação do poder democrático. Escutar e debater apenas com os militantes dirigentes que, raramente, discordam das cúpulas, sob pena de serem postos de lado, é um dos princípios basilares de uma sociedade democrática, livre e plural.
O eleitorado está afastado da escolha dos candidatos, por isso desconhece a maioria dos candidatos e não se revê neles. É gente muito mais nova do que eu e do que a maioria dos eleitores, pois os idosos não contam e a sua experiência de nada vale!…
Durante a campanha, espero que os partidos não recorram a insultos e a críticas eleitoralistas e vazias, mas que tenham a humildade de se penitenciar de promessas não cumpridas.
Aguardo propostas que visem substituir as caducas doutrinas económicas, o neoliberalismo por uma economia mais justa e equitativa que promova a dignidade humana e a defesa do ambiente, da natureza e dos ecossistemas que nos rodeiam.
Neste enquadramento, espero também sugestões sobre como contrariar o despovoamento e o envelhecimento das ilhas, que melhorias irão ser introduzidas nos cuidados de saúde primários e no acesso a consultas de especialidade, sobretudo nas ilhas sem hospital e qual o calendário de execução, ou seja, um melhor Serviço Regional de Saúde, acessível a todos em igualdade de circunstâncias.
Espera alguma surpresa em termos de resultados eleitorais?
Temo que a abstenção aumente. Se tal suceder pode dar-se o caso de haver necessidade de uma coligação. Sobre esta hipótese teórica mas real, os líderes partidários devem esclarecer o eleitorado sobre com que soluções estão dispostos para viabilizar uma governação estável e profícua.
Em democracia o poder vem do povo. Os partidos são instrumentos e, como tal, devem ser transparentes e facilitar as opções eleitorais. Se o não fizerem, contribuirão para afastar ainda mais os cidadãos do processo político e abrirão portas ao populismo, ao autoritarismo e à ditadura.
Três anos depois dos trabalhos da CEVERA, sabe-se agora que não vão apresentar nenhum resultado em termos de proposta legislativa. Isto é mau para o sistema eleitoral e para a tão badalada reforma da Autonomia? Contribui para uma maior abstenção?
Era de esperar que o prolongamento do trabalho da CEVERA por mais 18 meses além do estipulado inicialmente, coincidisse com o fim da legislatura e com a impossibilidade de revisão do Estatuto.
Após ter lido o longo relatório final, conclui que os partidos preocuparam-se em consensualizar matérias que pouco ou nada dizem ao simples cidadão-eleitor, como sejam: A extinção do cargo de Representante da República, a ostentação conjunta dos Símbolos Nacional e Regional, Provedores, Partidos regionais, Círculo Eleitoral ao Parlamento Europeu, Direitos Autonómicos no domínio do Mar, participação da Região no Tribunal Constitucional, etc.
Matérias que poderiam envolver os eleitores açorianos no processo Autonómico como o direito dos açorianos que residem fora do arquipélago poderem votar, ou a desconcentração administrativa do Governo Regional – reivindicação antiga e necessária –, não mereceram a devida atenção.
Todo o processo resultou apenas no voto em mobilidade, o que é muito pouco para a expectativa criada e o trabalho desenvolvido.
Mais uma vez o parlamento perdeu-se no labirinto da legalidade, salvaguardou interesses partidários e não respondeu, como se esperava, à questão fundacional da Autonomia: a participação cívica no desenvolvimento harmónico do arquipélago.
