EDUÍNO DE JESUS

Recensão crítica de Santos Narciso ao livro “Como Tenuíssima Espuma de Luz (Poética Fragmentária)”, de Eduíno de Jesus.
«Mais um belíssimo livro. Com Chancela “N9na Poesia”. Eduíno de Jesus. Para beber de um trago só ou para saborear, gota a gota, porque palavra e pensamento fazem de quem lê destinatários felizes de um grande nome dos Açores e do Mundo literário.
Falta-me coragem para escrever sobre Eduíno de Jesus. Considero-o o “Patriarca” da Literatura Açoriana. Do alto dos seus 93 Janeiros ele é conto, poema ensaio e teatro. Mas é, acima de tudo, um símbolo ilhéu da universalidade que mora em nós.
“Como Tenuíssima Espuma de Luz” é uma viagem no tempo e nos lugares, é música – linda aquela Sinfonia Cósmica -, é Asa Flutuante, “à brisa desliza / leve como a brisa / que a leva adiante. Que frases leio / na linha que descreve / a asa que a brisa / impele?”.
Há, realmente, “espuma de luz” em cada palavra de Eduíno de Jesus».
Não me foi possível estar presente. Mas segui atentamente todas as intervenções, via net. Memorável esta apresentação na Biblioteca Pública. Memorável, para um livro memorável que é simplesmente Poesia, vivida e sentida. Como só Eduíno de Jesus é capaz.
Aqui fica o que em Maio deste ano escrevi sobre esta bela obra.
Como Tenuíssima Espuma de Luz
( Poética Fragmentária)
Mais um belíssimo livro. Com Chancela “N9na Poesia”. Eduíno de Jesus. Para beber de um trago só ou para saborear, gota a gota, porque palavra e pensamento fazem de quem lê destinatários felizes de um grande nome dos Açores e do Mundo literário.
Falta-me coragem para escrever sobre Eduíno de Jesus. Considero-o o “Patriarca” da Literatura Açoriana. Do alto dos seus 93 Janeiros ele é conto, poema ensaio e teatro. Mas é, acima de tudo, um símbolo ilhéu da universalidade que mora em nós.
“Como Tenuíssima Espuma de Luz” é uma viagem no tempo e nos lugares, é música – linda aquela Sinfonia Cósmica -, é Asa Flutuante, “à brisa desliza / leve como a brisa / que a leva adiante. Que frases leio / na linha que descreve / a asa que a brisa / impele?”.
Há, realmente, “espuma de luz” em cada palavra de Eduíno de Jesus.
São apenas cem páginas, este livro. Poemas entremeados de ilustrações de Artur Bual (1926-1999), o grande artista português que não necessita de qualquer apresentação, tão reconhecida e representada está a sua obra, a nível nacional e internacional. Aqui, cada ilustração é também um desafio à nossa contemplação e interpretação. Sim, porque, nenhuma delas (poesia e arte) está ao serviço da outra. O conjunto faz-se da independência de cada uma.
Ler poesia não é fácil e, nos tempos que correm, poucos gostam de coisas difíceis. E, por isso mesmo, nunca será demais repetir aquele grito da falta que faz a poesia quando a palavra perde a alma a troco dos vis interesses do momento. “Já não são precisas as vossas ferramentas / essas complexas perversas subtilíssimas a que chamais de tecnologia de ponta / podeis guardar tudo isso para / depois de amanhã / quando começar a próxima Eternidade (…) Sim deixai tudo isso / e mesmo digo-vos… e mesmo a Poesia / (de que vos serviu? / deixai tudo isso.”
Que força, na palavra e que convicção no pensamento!
Como escreve Urbano Bettencourt, “a poesia de Eduíno de Jesus seguiu por outros caminhos, num assumido subjectivismo e numa sobrevigiada elaboração formal, atenta ao poder da palavra e às potencialidades do seu manuseamento, desembocando por vezes no terreno do experimentalismo verbal e poético”.
E ainda, na passada semana, Vamberto Freitas, com o seu estilo inconfundível e o seu eloquente verbo, escrevia que “a poesia do presente livro é uma sinfonia de memórias e sentimentos, na qual, em certos versos, até a divisão de palavras funcionam com um ritmo próprio, como na voz de uma cantor ou a beleza discretamente colorida de uma pintura, tal como as do referido Artur Bual que é parte integrante destas páginas. Eduíno de Jesus esteve sempre consciente que a grande literatura do mundo é sempre a memória de um homem ou de uma mulher, todos contendo em si a memória do seu tempo e lugares”. (BorderCrossings, in Açoriano Oriental”.
A poesia – é dela que estamos a falar – em Eduíno de Jesus, vai do abstracto à mais corrente voz popular, como aqui vemos (pags 58, 59, 60) em Loas à cantiga de 4 versos: “Uma cantiga criada no campo / cheirando a pasto / uma cantiga rapariga / de corpo moreno e casto / uma cantiga solta ao vento / com flores de giesta nos cabelos / e um laço de 4 pontas / do meu enleio a prendê-los / uma cantiga de saia rodada / de 4 folhos / enxaguada n’água da minha sede / coarada ao sol dos teus olhos / uma cantiga aluada / nos seus 4 quartos fechada/ rindo por tudo / chorando por nada / Uma cantiga de 4 folhas / apanhada de madrugada / de dia em botão no meu peito / de noite nos meus braços desfolhada.
É um poema de 1958. Belo. Terno. Profundo!
Na capa deste “Como Tenuíssima Espuma de Luz”, que “tem dedo” sábio de Maria João Ruivo, na ficha técnica referida como “revisora”, indica-se que se trata de “Poética Fragmentária”. Apesar das diferentes datas dos poemas, há que referir que para qualquer leitor, o que fica é um perfeito sentido de unidade, nada “fragmentada”. Prova da belíssima selecção e cuidada organização.
E, como me faltam palavras para escrever sobre tão grande vulto da nossa Literatura, termino com Vamberto Freitas: “Eduíno de Jesus produziu uma obra cuja grandeza, em qualquer género e ante os críticos e ensaístas, tornou-se desde há muito uma referência para a minha geração. Um encontro com ele quase se tornava num seminário sobre todas estas e outras questões da literatura. Vive num mundo restrito quanto à atenção que a maioria presta à literatura em geral. Só que não sabem que a sua indefinida identidade reside para sempre nestas e nas maiores literaturas do mundo”.
O melhor que se pode desejar a um livro como este é a sua divulgação, porque agora que se lê muito menos, agora que nos prendemos a tantas coisas que nos tolhem a necessidade natural de saber e de sonhar, cada vez mais precisamos de poetas que quebrem os desencantos desta vida.
Desçam os poetas ao povo, porque no coração do povo dorme sempre um poeta que muitos não querem que acorde.
Ao “Patriarca” Eduíno de Jesus, através de Maria João Ruivo, este grande abraço que estendo à N9na Poesia, por mais esta edição.
Santos Narciso
1 share
Like

Comment