E UM PROVEDOR PARA A VERGONHA? OSVALDO CABRAL

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E UM PROVEDOR PARA A VERGONHA?
Quando um governo não consegue ou não quer resolver um problema, cria um grupo de trabalho.
E quando um grupo de trabalho não resolve nada, como é mais do que expectável, cria-se um Provedor.
No país já perdi a conta dos provedores e haverá muitos deles que os cidadãos nem sequer sabem que existem.
Por exemplo, sabe que existe um Provedor da Ética Empresarial e do Trabalho Temporário?
Parece que existe, mas também deve ter trabalho temporário, pois não se lhe conhece resultados públicos.
Os Açores vão pelo mesmo caminho, especialmente com os políticos mais novos, que, sem ideias e criatividade, tratam de copiar os monstros criados pelos Estados grandes.
É o que faz os políticos andarem com as prioridades trocadas.
Se eles andassem mais nas ruas, se falassem mais com os cidadãos, se visitassem as freguesias pelo interior destas ilhas e ouvissem as aflições das populações, os seus principais anseios e prioridades, era isto mesmo que pediriam: um Provedor!…
Em 2010 criou-se nos Açores um Provedor do Utente da Saúde, de quem nunca se ouve falar e poucos saberão que existe ou o que faz.
Foi criado exactamente para o tal objectivo: fazer de conta que resolve os problemas que a governação não consegue resolver.
Curiosamente, desde que foi criado, o número de problemas aumentou, deixando-nos como herança uma lista de espera para cirurgias que não pára de crescer, milhares de açorianos sem médico de família e muitos outros a sofrerem o couro e cabelo para aceder a um médico especialista.
Mas temos um Provedor, para mostrar que somos como os Estados grandes e modernos!
Ao que parece, em 2019 o dito Provedor recebeu 65 queixas dos açorianos que sabem que ele existe e em 2020 foi ainda menos do que isso.
Ou seja, esta figura, que ninguém sabe quanto custa aos contribuintes, deve ter trabalhado 65 dias para despachar as 65 queixas e os restantes 300 dias do ano deve andar pelos corredores a coçar nas amarguras do sistema de saúde.
Ora, isto já vai assim há 11 anos, pelo que havia necessidade de criar mais um Provedor neste “novo tempo” de pluralidade e preguiçosa actividade parlamentar.
Não se cria uma reforma eleitoral, depois de criada uma das tais comissões de trabalho, chumbam-se propostas de alteração eleitoral que mexem com os interesses dos partidos, mas aprova-se, de imediato, mais um Provedor.
Para resolver os problemas prioritários dos cidadãos?
Espera sentado.
Desta vez é para os Animais, que exclui o cidadão comum, este animal de carga de impostos, que agora vai ter de pagar mais uma figura decorativa da poderosíssima administração regional.
Não sei se estão a ver, mas vamos assistir a uma figura, tipo super-homem, que voa de ilha em ilha, ou de porto em porto, para vigiar das condições de embarque dos animais de exploração.
É provável que ainda chegue a tempo de fiscalizar as condições de embarque à volta daquela outra polémica regionalíssima sobre um boi de raça anã.
Tanto trabalho vai ter esse Provedor.
Do modo como isto está a caminhar, era bom que os senhores deputados se debruçassem, para mais três horas de discussão, à volta de mais um Provedor, essencial para todos nós, contribuintes e cidadãos: um Provedor da Vergonha!
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PROVEDOR COM EXTENSÃO NACIONAL – Já agora, o futuro Provedor da Vergonha, poderá ter extensão ao plano nacional.
Trocamos – acompanhada de caixote de ananases – esta Provedoria pelo Representante da República.
Poderia começar por analisar a pouca vergonha que, semana sim, semana não, vamos assistindo neste país, à custa de um governo que lava as mãos de tudo, que nunca é responsável por nada, e com ministros e secretários de estado que nem para tomar conta de rebanhos de cabras alguém os contrataria.
Nós, por cá, temos animais empalhados que ocupam a preocupação dos nossos políticos, lá fora têm aquele banco, pago por todos nós, que diz que o aval pessoal do presidente de um clube de futebol é apenas uma casa para palheiro, mas mesmo assim concederam-lhe avultado crédito, porque o seu “verdadeiro valor” é reputacional!…
E é nisto que se transformou este país.
Num Estado cujo valor reputacional está ao nível de um palheiro.
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SATA DÁ-NOS ASAS – Vai por aí uma euforia justificada com as passagens a 60 euros.
Vem na altura certa, no princípio do desconfinamento, pelo que vai ajudar – e de que maneira – a economia das ilhas mais procuradas.
É um excelente barómetro para se perceber quais as ilhas, depois de S. Miguel, com mais procura interna.
Não me admira que Flores, Pico e S. Jorge sejam as mais cobiçadas, curiosamente as que menos atenção têm recebido dos governos em termos de acessibilidades.
Pode ser que agora os governantes abram os olhos.
Bolieiro tem toda a razão: é, provavelmente, a sua “ousadia estratégica” mais emblemática deste mandato que ainda agora começou.
Trata-se de uma autêntica “bazuca” interna que vai revolucionar a mobilidade dos açorianos e é bem capaz de ajudar a atenuar o ressuscitado “bairrismo” incutido por alguns políticos e ajudantes.
E é escusado os detratores inventarem os maiores disparates para rebaixarem a medida.
A SATA não perde um tostão com esta tarifa, “uma vez que a compensação da diferença de receita encontra-se garantida através do diploma que regula a atribuição do subsídio aos passageiros residentes na RAA nas viagens aéreas inter-ilhas”.
E o argumento tonto de que só vão viajar os que têm dinheiro, enquanto os outros que não podem continuam a pagar com os seus impostos, apetece perguntar se as SCUT’s deviam ser pagas apenas por quem tem carro ou se hospitais devem ser pagos apenas pelos doentes…
Ouve-se e lê-se cada uma!
Junho 2021
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-Açores, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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  • Duarte Melo

    Quando falta o sonho,a utopia o olhar o futuro com outro horizonte de justiça e equidade, os provedores nascem,tal salvadores do país das mil maravilhas.Obrigado Osvaldo pela belíssima reflexão,

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