Views: 0
E agora SATA III (2/3)
Agora, resta fazer o possível pela SATA, mas mais importante, é altura de haver uma ampla discussão sobre que modelo de transportes aéreos queremos para os Açores, e que modelo de companha aérea regional, se algum, será o certo para melhor servir os Açorianos. Fará sentido uma companhia aérea regional que não tenha como único propósito ser um instrumento de desenvolvimento local? Fará sentido uma companhia que para ser sustentável tenha de operar com modelos de negócios que nada dizem à Região?
O panorama da indústria da aviação na Europa, antes da pandemia global, era de forte crescimento, mas também de um aumento acentuado da competitividade. Várias companhias declararam insolvência, e os movimentos de fusões e aquisições criaram empresas gigantes com uma força enorme no mercado. Empresas pequenas como a TAP, neste cenário lutaram, sem grande sucesso, para se manterem à tona com os resultados que se conhecem. O que dizer da dimensão regional? A SATA enferma da sua falta de dimensão, tem duas hipóteses: ou é integrada num grupo que lhe dê a dimensão necessária para os desafios do “pós covid”, ou dedica-se a um mercado de nicho muito específico, como já foi tentado no passado por diversas vezes. A questão que se coloca é, que papel deverá ter para os Açores como ferramenta estratégica para o crescimento e desenvolvimento. A análise carece de uma abordagem racional e desapaixonada, o que nos Açores é quase impossível dado o sentimento crónico de pertença em relação à aérea regional. Mais do que gritos absurdos de “a SATA é nossa”, importa pesar de modo criterioso a relação custo benefício de impactos na economia regional. No entanto, mesmo sem um estudo económico cabal, é evidente que não temos capacidade de pagar o modelo da última década, mesmo olhando apenas para os custos relativos aos prejuízos acumulados. Se juntarmos todos os custos relativos aos subsídios de mobilidade e serviço público, temos um montante astronómico. Embora esses valores, nenhum deles na verdade, sejam diretamente suportado pela Região, têm evidente relevância determinante para a nossa soberania financeira, ou mais ainda, no modelo económico de desenvolvimento. Não existe Autonomia sem auto suficiência, e esse deverá o desígnio mais importante para os Açores no século XXI.
O argumento de que a SATA é determinante para o sector turístico tem de ser provado com evidências concretas e não ser apenas mais um chavão, usado também para com a TAP já agora. Não me parece muito claro que na ausência da companhia regional, outras não fizessem serviço idêntico, ou até melhor no que diz respeito ao tal rácio custo benefício. Recorde-se que o forte crescimento do turismo nos últimos anos, deveu-se à liberalização do espaço aéreo, e do início de operação da empresas aéreas de baixo custo, que provavelmente sem a concorrência desleal da companhia local, teriam tido ainda um impacto maior. De novo, será determinante estudar cenários que mostrem os diversos modelos sem viés político, e sem olhares apaixonados.
O panorama da aviação mundial no “pós covid” é desconhecido e com inúmeras incógnitas, no entanto espera-se que a tendência de agregação de companhias em grandes grupos, e empresas de dimensão galáctica, deve continuar com o apadrinhamento da Comissão Europeia. E não se pense que mesmo as rotas inter ilhas não terão de ser liberalizadas de algum modo num futuro não muito distante. A SATA terá de se saber posicionar neste novo campo de batalha e teria tudo a ganhar se conseguir assumir um papel relevante na génese de um grupo de aviação atlântico, que integrasse um eixo de empresas especialistas em sistemas insulares e com ligações ao continente americano. Uma oportunidade que até já esteve em cima de mesa, mas desperdiçado pela via açoriana de Vasco Cordeiro.
(continua)
André Silveira
ANMICOSI.WIXSITE.COM
E agora SATA III (2/3)
Agora, resta fazer o possível pela SATA, mas mais importante, é altura de haver uma ampla discussão sobre que modelo de transportes aéreos queremos para os Açores, e que modelo de companha aérea regional, se algum, será o certo para melhor servir os Açorianos. Fará sentido uma companhia aé…