Dos cobardes não reza a História José Soares

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Peixe do meu quintal José Soares

 

Dos cobardes não reza a História

Num olhar visto de fora, visto que não me encontrava nos Açores naquela altura, chocou-me sobremaneira quando na redação do Journal National que então eu dirigia na Diáspora canadiana, recebi a notícia do acidente aéreo de Camarate que vitimou aquele que os historiadores apelidam como sendo um dos pilares da Democracia portuguesa, Francisco Sá Carneiro.

Enquanto açoriano, as minhas esperanças naquele político haviam aumentado consideravelmente pelo forte contributo às Autonomias Insulares e a sua estatura como democrata convicto.

Com o decorrer dos vários inquéritos que mais não serviram do que areia para os olhos do povo, os arquivos foram-se enchendo de papelada amarelada pelo tempo.

Depois de cerca de uma dezena de atribuladas comissões de inquérito, sendo a primeira de 30 de novembro de 1982, todas foram revelando a verdade aos poucos, tendo as últimas chegado “a mão criminosa” e por conseguinte a atentado.

Sabemos ainda que Francisco Sá Carneiro não era o visado direto neste atentado. Teria em sua posse um bilhete para ir na TAP mais tarde desse mesmo dia. Terá sido convencido pelo seu segurança pessoal, de nome Penaguião, a embarcar no Cessna, segundo depoimento das confissões feitas em 2011 de um dos confessos assassinos, Fernando Farinha Simões.

O então ministro da defesa Adelino Amaro da Costa “estava particularmente atento às operações de venda de armamento que envolvia o Estado português, tendo vetado várias operações”.

“Em 2012, José Ribeiro e Castro defendeu um décimo inquérito parlamentar em parte devido à confissão de um dos alegados principais conspiradores, Fernando Farinha Simões, que em 2011 publicou uma confissão de 18 páginas na internet descrevendo o seu alegado envolvimento na operação. Farinha Simões disse ter sido incumbido pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) como encarregado da operação, com um custo de 750 mil dólares, pago com cartões de crédito dessa instituição, e que dos quais 200 mil dólares tinham sido entregues a José Esteves pelos seus serviços de fabrico de bombas.”

Nunca houve julgamento do caso, porque no mesmo estiveram envolvidas fortíssimas circunstâncias contra as quais Portugal baixou os braços de impotência.

Foram citados pelos confessos autores nomes como o “coronel dos US marines Oliver North, Henry Kissinger, general Pezarat Correia, major Canto e Castro, general Franco Charais, general Diogo Neto, coronel Vinhas, coronel Rebocho Vaz, Frank Carlucci”, vários agentes da CIA e muitos outros nomes e personalidades.

Vendas ilegais de armas e uma densa teia de ilegalidades internacionais perpetradas por vários países, lideradas pelas forças subversivas americanas, fizeram de Amaro da Costa e Sá Carneiro inimigos a abater, especialmente o ministro Amaro da Costa que uma vez eleito, havia prometido investigar várias ilegalidades do “Fundo de Defesa do Ultramar” gerido por militares, bem como da venda de armas pelo mesmo.

O próprio Frank Carlucci teria afirmado que os EUA não via com bons olhos as “teimosias” dos recém-eleitos políticos portugueses, pois que isso não servia os interesses dos americanos. O político que os americanos viam com bons olhos era Mário Soares.

O contexto político-social em Portugal era ainda bastante instável e os militares através do Conselho da Revolução (1975-1982) lutavam em diversas fações entre eles. As fragilidades políticas e democráticas eram propícias a um aproveitamento por parte dos USA, de derrubar todos aqueles que fizessem frente à sua política externa.

O resto foi… a velha tragicomédia americana do “mata e foge” e ninguém pagará a fatura… E já lá vão 40 anos!