do inevitável fecho das escolas

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O GOVERNO NÃO VAI AGUENTAR A PRESSÃO E FECHARÁ AS ESCOLAS. MAS DEVIA?
Ontem, depois de passar um dia a debater o confinamento, sentei-me a ver um noticiário (da TVI). Ao fim de uma hora só tinha ouvido falar em Covid, do relato do deputado do PSD no hospital de Cascais e da fila de espera nos crematórios. Fiquei com o estômago embrulhado. Quem vê um noticiário português por estes dias pensa que o planeta parou.
Entretanto fui acompanhando o debate sobre o encerramento das escolas reparando que, quem o defende, toma como “negacionista” alguém que não concorde. Essa é uma posicão que me incomoda ligeiramente, pelo que volto agora ao tema.
O covid existe, transmite-se rapidamente e mata. Sobre isso não existem grandes dúvidas. Estamos a viver uma pandemia. Portanto, é este o meu ponto de partida. Agora se não se importam, opinemos com números porque estes, normalmente, ajudam mais do que atrapalham.
O quadro na imagem foi retirado da seguranca social sueca e tem os dados oficiais das mortes registadas até ao dia 11 de Janeiro de 2021.
No círculo vermelho podem ver o número total de mortos (9211). A verde está assinalada a percentagem com menos de 50 anos (1%) e, a preto, os que tinham mais de 70 anos (91%). O círculo laranja assinala, entre aqueles que morreram, os que padeciam de doencas de coracão, pressão alta, diabetes e pulmões (por esta ordem).
Por fim, no quadro de baixo, a azul, encontram-se aquele que viviam em lares ou com apoio ao domicílio (73,7%).
Ou seja, o resumo desta informacão, oficial e pública na Suécia, permite-nos concluir que grande parte dos mortos tinha mais de 70 anos (51% com mais de 85), padecia de alguma condicão e vivia em isolamento.
Não desvalorizo qualquer vida, seja de que idade for, que isso fique aqui registado também. Faco este tratamento de informacão apenas para situar as mortes e os grupos mais frágeis onde eles efectivamente estão.
Durante o ano a que reporta este quadro, as escolas até ao décimo ano estiveram sempre abertas.
Será por isso razoável associar o encerramento das escolas ao salvamento de vidas? Bom, olhando para os factos eu diria que não.
Discute-se que as criancas entre os 13 e 17 estão entre os mais infectados e por isso, são veículos de transmissão. A primeira pergunta que me vem à mente é, com a folga que o verão nos deu (lembram-se do milagre?), não tiveram as escolas tempo suficiente para preparar este novo e esperado pico, de modo a garantir as distâncias?
O encerramento das escolas não pode ser visto à luz do que nós dá mais jeito, do indivíduo, de cada umas das nossas vidas. É preciso analisar a realidade do país e perceber o impacto global.
Volto a puxar as evidências do quadro apresentado para relembrar as medidas tomadas pela Suécia. As criancas mais velhas, a partir de certa altura, entraram em ensino à distância e as mais novas continuaram com aulas presenciais. A razão apresentada por Anders Tegnell era mais ou menos simples. Se todas as criancas fossem para casa, 25% dos profissionais da saúde tinham que ir tomar conta delas e isso, pura e simplesmente, faria o SNS desabar.
Ora, eu parto do princípio que em Portugal esse problema também existe. Colocando as criancas em casa, quem tomará conta delas? Os avós? Exactamente o grupo dos que devem ser protegidos?
É que para aqueles que nunca puderam confinar, o pessoal da saúde, logística, transportes, comércio, comunicacões, abastecimento, servicos, etc, o encerramento das escolas cria uma dificuldade extra numa vida que já deve ser complicada que chegue.
Há ainda outro detalhe que me parece importante. Os míudos que na Suécia foram para casa tinham computadores oferecidos pelas escolas (parte do plano de educacão, não foi por causa do covid), ou seja, estão todos em pé de igualdade para acompanharem as aulas. E o nível de escolaridade médio dos pais é elevado, pelo que a ajuda ao ensino é mais fácil. Essa não é, infelizmente, a realidade portuguesa.
Eu tenho alguma vergonha de dizer isto porque soa a conversa de emigrante, mas em Portugal, o único sítio onde as criancas estão em pé de igualdade é na escola pública. Em casa isso não se verifica. Não quero ofender ninguém com isto mas não podemos fingir que todos os miúdos têm acompanhamento escolar em casa ou material informático. Isso simplesmente não é verdade.
Na minha opinião, mais importante do que fechar as escolas é garantir, neste momento, que se cumpram as regras básicas de distanciamento. Para novos e menos novos. E esse trabalho, por mais que se queixem, não pode ser feito apenas pelo governo. Cabe a cada um de nós, pais e educadores, garantir que o explicamos aos nossos filhos.
E no fim de tudo, o que pode mesmo salvar vidas, é garantir que os idosos ficam fora de todo e qualquer contacto, até a pandemia estar controlada. E isso inclui tomar conta dos netos.
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