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Antes de escrever esta publicação, pensei bem se o deveria fazer. Mas tendo em conta que fui vilmente vilipendiado e que houve um inadmissível aproveitamento político, creio ser fundamental fazer este esclarecimento público:
1 – Não faz parte da minha forma de ser, desprezar seja quem for. Quem me conhece e comigo trabalhou ou privou, sabe bem que é verdade. Tenho o maior e mais completo respeito por todos os açorianos. Trabalho todos os dias para promover um efetivo controlo da situação pandémica em todas as ilhas dos Açores e não tenho outro interesse do que a proteção da saúde de todas as pessoas que residem na Região Autónoma dos Açores, sejam açorianos ou provenientes de outros locais.
2 – Vim para os Açores, convidado pelo atual elenco governativo, pois o projeto técnico e de saúde que me foi proposto foi extremamente aliciante e honroso. Não trabalho a pensar em outros voos ou outros lugares mais “altos” ou mais “baixos” na hierarquia da sociedade (se é que existem cargos mais altos ou mais baixos). Trabalho para os Açorianos. E no dia em que o Governo considerar que não sou preciso ou não tenho condições para trabalhar, sairei sem levantar qualquer problema ou exigir seja o que for. Estou ao serviço do Governo Regional dos Açores e do povo Açoriano e não para me servir deles.
3 – A razão do meu riso no debate promovido pela RTA Açores (a quem agradeço o convite) na passada quinta feira, nada tem que ver com a situação pandémica ou a cobertura vacinal em São Miguel. Ri-me porque o argumento apresentado pelo Dr. Ricardo Rodrigues, tecnicamente, não faz sentido. Passo a explicar. O Plano Regional da Vacinação tem regras para a seleção das pessoas a serem inoculadas. Regras que envolvem a existência de patologias ou a pertença a um determinado grupo profissional ou etário. Pensar que todas as ilhas deveriam ter a mesma taxa de cobertura vacinal, é esquecer que há variações na proporção de doentes, de profissionais e na estrutura etária de cada ilha. Assim, comparar coberturas vacinais não permite afirmar se uma ilha está adiantada ou atrasada perante as restantes. E quando disse que a maioria das vacinas foram distribuídas em São Miguel, essa afirmação é comprovada quando se verifica que 47% de todas as doses foram administradas em São Miguel, sendo, por isso, a ilha com mais doses vacinais distribuídas e administradas. Não correspondem à distribuição populacional (São Miguel tem cerca de 56% de toda a população dos Açores) exatamente pelas variações na estrutura etária e na proporção de doentes. Além de que há necessidade de proteger a população das ilhas com menos recursos em saúde, pensamento semelhante ao que presidiu ao pedido efetuado à Comissão Europeia para envio de mais doses vacinais para proteção das Regiões Ultraperiféricas (Açores e Madeira).
4 – Aproveito para elucidar porque são apresentadas as taxas de cobertura vacinal das ilhas em percentagem da população elegível e não da população total. Porque desta forma é mais percetível o avanço da vacinação e permite a todos confirmar se atingimos os objetivos propostos (100% de cobertura vaicnal). Se a Taskforce nacional pretende vacinar 70% da população adulta até julho mas apresenta a cobertura vacinal para toda a população, pode existir dificuldades em corroborar o atingimento desse objetivo. Não se pretende, com esta pequena alteração, dissimular os números ou enganar seja quem for. Até porque é claro, desde o início, que os dados foram apresentados por população elegível e não pela população total. A Comissão, a que presido, e a DRS, com quem colaboro, são duas instituições que nada têm a ganhar com a manipulação dos números. Os dados são transparentes e claros.
5 – Permitam-me ainda mais um reparo. Afirmar que a cobertura vacinal em São Miguel deve ser aumentada, face aos casos positivos que esta ilha apresenta (ou ao facto de ser a ilha com mais casos, mais internados e mais mortes), é uma falácia, pois os 3/4% de cobertura vacinal a menos (cerca de 4500 doses) que a ilha apresenta não serão capazes de aumentar a imunidade de grupo de uma forma significativa que permita impedir a transmissão do vírus de uma forma dramática, impactando no controlo pandémico da ilha. Não é porque a vacinação vai “atrasada” (como afirmam alguns) que há mais casos em São Miguel. Há mais casos porque há mais população, porque é a ilha com mais movimentação de pessoas, quer locais quer de fora da Região, e porque está em circulação uma estirpe do vírus mais contagiosa.
6 – Também importa perceber que não se pode olhar para a pandemia de uma forma parcelar. É preciso perceber que todos estamos interligados e que um sector da sociedade depende do outro. Assim, batalhar contra o encerramento de determinados estabelecimentos comerciais ou escolares, é não perceber que lhes está associada a movimentação de muitas pessoas (trabalhadores e frequentadores desses espaços e todas as pessoas que são necessárias para os movimentar – pais, motoristas de transportes públicos, taxistas, entre outros) e que à volta existem outros espaços que vão beneficiar deste aumento de fluxo de pessoas. Em termos económicos é excelente, mas em termos de controlo pandémico, com uma variante muito mais infecciosa, é um problema. Outro exemplo é a contestação contra a aplicação de medidas preventivas em concelhos de menor risco, devido à existência de concelhos com risco elevado. Mais uma vez, olhar para este problema de forma parcelar, como se os concelhos fossem independentes uns dos outros e não houvesse movimentação de cidadãos entre eles, é esquecer que uns concelhos dependem dos outros e se a situação afeta o meu concelho vizinho, rapidamente pode vir a afetar o meu. A história recente demonstra isto mesmo, com um aumento de casos na Ribeira Grande, depois em Ponta Delgada, depois no Nordeste, depois em Vila Franca do Campo, depois na Lagoa e, por fim, de volta à Ribeira Grande. As medidas aplicadas de uma forma global em toda a ilha de São Miguel visam travar a disseminação do vírus em toda a ilha, atacando nos concelhos onde o problema se encontra e protegendo os restantes.
7 – Apesar das medidas implementadas serem duras, no que à Ilha de São Miguel diz respeito, elas estão em linha de conta com o que acontece por todo o Mundo. Basta olhar para os exemplos de Portugal Continental, Alemanha, França, Holanda, entre tantos outros, para perceber que, infelizmente, até haver imunidade de grupo, não existe outra forma de lidar com a pandemia. E para tal, é preciso que cheguem mais doses vacinais à Região Autónoma dos Açores. Até lá, precisamos de manter estes cuidados e trabalhar para nos protegermos uns aos outros.
Assim, termino pedindo a todos os residentes na Região Autónoma dos Açores que não relaxem nas medidas preventivas contra a COVID-19. Usem máscara sempre que estiverem fora das vossas casas. Só as retirem quando efetivamente for seguro ou necessário. Evitem ajuntamentos onde não houver implementação de medidas preventivas. Desinfetem as mãos. Recorram à Linha de Saúde Açores (808246024) sempre que apresentarem sintomas respiratórios. Não vão trabalhar com sintomas. Quando forem chamados para a vacinação COVID, aceitem a vacina que vos for oferecida.
Juntos, cumprindo com estas medidas, chegaremos mais rapidamente, e em segurança, ao fim da pandemia.
Por cada um de nós, pelos Açores!
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