Views: 1
DESCOBRIRAM O DESPOVOAMENTO DAS ILHAS E A CULPA É NOSSA, 1.8.2021, CRÓNICA 410
Andam, de repente, muito preocupados com a rápida perda demográfica. Temos uma massa laboral genericamente impreparada e iletrada, tal como a maioria dos patrões das PME e microempresas.
Uns culpam o RSI e dizem que ninguém quer trabalhar mas são incapazes de recompensar de forma justa o trabalhador dedicado e esforçado, mantendo vícios senhoriais feudais mesmo quando se apregoam como democratas progressistas. Outras vezes temem os funcionários licenciados, mais qualificados e mais aptos a gerirem o negócio do que eles próprios e a única forma de os controlarem é explorarem-nos com horários desumanos, retenção de gorjetas (hospitalidade), turnos inglórios, excesso de tarefas, falta de formação profissional adequada por entre esquemas vários de abuso de apoios estatais, fugas ao fisco e outras manobras.
De uma forma geral, seja em supermercados, no comércio tradicional, na hospitalidade e restauração ou em tarefas mais complexas, cibernéticas e de tecnologias de informação, o destino da maioria dos bons profissionais (e mesmo alguns dos maus) será o dos seus antepassados que votaram com os pés, emigrando. Seja para a península ibérica, Canadá ou EUA, quando surge a oportunidade alçam, lá ficam e regressam a férias, se regressarem. A falta de oportunidades é ancestral. Todos os empregos apetecíveis a nível do governo são reservados, não por mérito, mas por cunhas como os apelidos o demonstram. Por outro lado, com os salários miseráveis que se praticam a licenciados e não-licenciados, mesmo em firmas da Nonagon que ganham milhões, a tendência será sempre essa. Um programador jovem a auferir pouco mais do que o salário mínimo ao fim de vários anos, emigra para o Canadá e EUA e ganha a estagiar lá 5 vezes mais. Ao fim de pouco tempo está com salário milionário e perspetivas de futuro e carreira.
Na indústria hoteleira, hospitalidade e restauração os empregados de mesa e balcão salvam-se apenas com as gorjetas. Consideremos agora o dilema de jovens licenciados em Direito, em escritórios de advogados conhecidos da nossa praça, há alguns a laborarem 60 ou mais horas e a ganharem pouco mais do que o salário mínimo, sem pagamento de trabalho extra, sem reconhecimento e mantêm-se assim ao fim de anos de serviço, enquanto os advogados celebrizados enchem os bolsos, trocam de carros de alta gama e fazem obras milionárias nas suas casas…
Durante anos as empresas usaram e abusaram dos estagiários (Estagiar-L -T, etc.), muitas vezes em funções que não constavam do contrato, na certeza de que ao fim de x meses havia nova carrada de candidatos e um estágio sem futuro.
E depois admiram-se de as pessoas emigrarem? Quanto mais pequena a ilha mais difícil a sobrevivência e menos as hipóteses de singrar. Há décadas que sabíamos disto, mas a menos que afetasse os nossos filhos, sempre nos esquecíamos no dia do voto.
A educação andou tradicionalmente nas ruas da amargura e cada vez está pior, a formação profissional (se bem que tenha melhorado) ainda não forma os técnicos de que precisamos e em muitos casos usa conteúdos e meios antiquados. O segredo para o sucesso é pagar condignamente. O erro não é só insular e por isso no séc. XXI continua a sangria de jovens (licenciados ou não) para tanto país da EU, Reino Unido, Austrália, Norte América, Médio Oriente, etc.
A solução é aliviar a brutal carga fiscal das empresas primeiro, e depois pagar bem a quem trabalha, formação contínua sistemática para trabalhadores e patrões, abertura a inovação tecnológica sem temores de serem destronados por subordinados ou pela tecnologia, só assim paramos a sangria demográfica. O resto em apoios à natalidade e fixação de pessoas serão meros complementos a nível pontual. Caso contrário, as ilhas terão cada vez menos gente e só os menos qualificados ou aqueles com cargos garantidos ficarão.