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CONTINUANDO…
Porque, hoje, quinta-feira, me chamou a atenção, o livro de Jill Jolliffe, “TIMOR , Terra Sangrenta”na sua 1ª. Edição de Maio de 1999, vou transcrever uma parte do “Prefácio” — que pode ser de interesse para tudo o que tenho relatado sobre a terrível, inesquecível, ‘Tragédia Timorense’.
“Este livro é a historia da descolonização abortada de Timor Leste, da sua invasão pela Indonésia e os seus resultados trágicos, baseada na minha experiência como jornalista presente nos últimos meses cruciais de 1975 e nos relatos dos próprios timorenses. Em todos os casos a ênfase é posta nos relatos em primeira mão — onde não pode haver pessoas, há cartas pessoais, documentos, fotografias ou transcrições de gravações. Muito do material citado aqui vem do meu primeiro livro “East Timor: Nacionalism and Colonialism”, publicado na Austrália pela University of Queensland Press em 1978, mas há muita coisa nova no presente livro que diz respeito às atrocidades Indonésias e à história recente da resistência timorense.”
“A chegada a Lisboa em Fevereiro de 1988 de Inácio de Moura, cidadão português e antigo funcionário público, depois de ter sofrido doze anos de detenção pelas autoridades indonésias, veio trazer novas informações de extremo valor e confirmou que a luta continua, assim como também persiste a violação sistemática dos direitos humanos………”
…..”Inúmeros Relatórios da guerrilha nas montanhas têm sido trazidos em mão para fora de Timor Leste, levando por vezes muito tempo a chegar aos seus destinos. Todos que contribuíram para a cadeia de informações são parte integrante da história de Timor: o camponês analfabeto que viaja a pé pelas montanhas com a sua preciosa carga de informação escondida entre as roupas; o intermediário no bazar de Díli; o timorense em Jacarta que se arrisca a ser preso e torturado por passar palavras e imagens para o exterior; o oficial indonésio que se arrisca a ser julgado por traição porque põe os princípios humanos acima da nacionalidade, abraçando o timorense como seu irmão; o padre que apesar da intimidação presta o seu testemunho de cristão.”
“Muitas pessoas olham para o caso de Timor Leste como um assunto do passado. Quem insiste nele seriam personalidades obcecadas, presas a posições imutáveis. Acreditam que, se o tempo for passando, o caso deslizará para o confortável anonimato da História e que os obcecados acabarão por calar-se.”
“Espero que o presente livro possa corrigir esse ponto de vista, mostrando que, quando se junta a informação existente esta é observada criticamente, vê-se que tem havido mudanças constantes tanto na frente externa diplomática como em Timor Leste, onde depois de alguma resistência a guerra abrandou para depois recomeçar, e que a estratégia dos indonésios tem variado ao longo dos anos, o que mostra não ser este tema um acontecimento distante, culpabilizante, situado algures entre 1975 1977, mas uma questão viva.”
“Timor Leste é hoje um país ocupado no mesmo sentido em que alguns países europeus foram ocupados pela Alemanha nazi. Várias falsas soluções têm sido propostas ao longo dos anos desde a invasão. Mas apenas serviram para arrastar o problema. Como este será resolvido, eis o que vai depender grandemente das acções dos que estão fora de Timor Leste. Se o governo indonésio não conseguir resolver de outra maneira, exterminará a população.”
“Em Timor Leste é a resistência armada que trava a mão Indonésia, resistência formada por pessoas de todas as convicções políticas — antigos apoiantes da APODETI e da UDT lutam ao lado da FRETILIN contra o domínio de Jacarta. Fora de Timor Leste, a opinião da comunidade internacional é um factor que a Indonésia tem de ponderar. Aos observadores distraídos pode parecer que a Indonésia é totalmente indiferente à opinião internacional, mas a verdade é que o governo de Suharto considera importantes os danos diplomáticos originado pela crítica sobre Timor Leste. Em 1985 e 1988, por exemplo, foi principalmente esta questão que fez com que a Indonésia perdesse ao candidatar-se à liderança do movimento dos não alinhados. E a perda de prestígio diplomático de Jacarta devido à questão de Timor foi um factor preponderante na sua recente decisão de se apresentar como medianeira na sua recente na região do Sueste Asiático para o conflito do Camboja. Por outras palavras, a pressão diplomática em peso (há muitos exemplos concretos em que essa pressão salvou vidas timorenses), mas desde 1975 ela tem sido pouco consistente e intermitente.”
“A contradição principal é a seguinte: a Indonésia não pode esperar obter total controlo militar de Timor Leste — pelo menos num futuro imediato— e não tem qualquer esperança de obter a aceitação política da população. Esta continuará a resistir militarmente, enquanto puder (porque é necessário), e também psicologicamente, em todos os sentidos. Jacarta enfrenta uma guerra dispendiosa e interminável, para a qual as suas tropas mostram pouco entusiasmo, mas os Timorenses não conseguem expulsar os Indonésios e estão isolados do resto do mundo.”
Fico por aqui.
NOTA — Este extracto, como todos os escritos que tenho publicado, relativos aos vinte e quatro anos — NEGROS — porque o povo de Timor passou, são, principalmente, dedicados à geração nova, que desconhece parte dela, e que tenham sempre presente:
— a paciência, persistência, teimosia, e a luta por um ideal, comum e legítimo, vencerá;
— a união de um povo, sem divergências incongruentes, como uma grande família, fraterna, sem invejas ou maledicências, vencerá sempre, com a ajuda divina, os seus opressores ou inimigos;
— que, em 1975, tudo correu mal porque nenhum dos partidos interiorizou que eram o mesmo povo, que a doutrina que queriam impingir a um dos partidos não tinha nada a ver com os sentimentos e a religião da maioria timorense. E era tão fácil tal conseguir tal!
— que, mercê de tantos sacrifícios, tantas mortes, tantos horrores, finalmente terão, como prémio, o saber o que é uma PÁTRIA!
CONTINUAREI…